quinta-feira, 30 de maio de 2013

Cabelo?


Esta semana me aconteceu uma coisa que me deixou pensando o quanto nossas palavras podem afetar positiva ou negativamente e o quanto não pensamos em algumas coisas que dizemos. A coisa em si não me afetou, mas me levou a pensar muito quanto a isto. Faço aula de dança há bastante tempo e desde o início sempre tive cabelos curtos. Há décadas deixei o cabelo comprido para trás e os fios curtos me representam perfeitamente. Mas no meio da  dança do ventre ter cabelos longos é uma marca. No ballet precisa cabelos longos para fazer o coque, por exemplo. Quando fiz aulas de jazz e me apresentei com o grupo nossos cabelos também estavam presos. Então, pra mim pareceu natural fazer aula de dança do ventre sem o cabelão.
O que aconteceu foi uma pergunta em sala de aula sobre se quando eu me apresentava o fazia com o cabelo curto ou se usava peruca. Na hora eu me irritei, confesso. Depois fiz uma piada sobre a possibilidade de colocar "outros" pelos na cabeça pra dançar. Mas ao final de tudo pensei na grande quantidade de colegas que utilizam a dança como uma terapia, como forma de trabalhar a auto estima e o quanto uma pessoa que busca isto poderia ficar abalada com a pergunta. Lembrei do meu sobrinho Igor que ficou extremamente abatido e triste com o fato de ter de raspar a cabeça por causa da quimio e quantas mulheres passam pelo mesmo sofrimento. São as famosas perguntas indiscretas que muitas vezes abrem chagas que acreditávamos fechadas.
Do meu lado fez-me buscar pensar melhor nas coisas que vou perguntar para os outros . E eu me apresentei de cabelos curtos e bem gordinha. Fazia parte do meu auto descobrimento, de um período de aceitação da minha essência. Hoje em dia não sinto a necessidade de enfrentar o palco de novo. Nunca tive necessidade de me exibir e na época da apresentação eu precisava, eu buscava mesmo me aceitar tal qual eu sou. Agora já me encontrei. Mas as gurias estão me pressionando um "pouquinho". hahahaha

Foto: Diogo Salaberry

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Frases, livros, autores e personagens que eu amo!

A casa dos espíritos - Isabel Allende

Sou partidária de que o livro é sempre melhor do que o filme, ainda que o diretor tenha feito um bom trabalho em transformar em imagens as palavras do autor. Mas é bem difícil transformar um livro de forma fiel em filme. Dos livros que tenho lido e feito a comparação com o filme o mais próximo do livro foi "O caçador de pipas" e a série "Orgulho e preconceito" da BBC. No entanto, também acho que tem filmes muuuito bons baseados em livros, embora a história tenham diferenças grandes. Então o que eu faço na minha cabeça, deixo claro, desconsidero o fato de ser baseado e trato ambos como histórias individuais. O que acontece com o livro e o filme "A casa dos espíritos" é algo assim.

O filme tem ótimos atores, mas tem erros bem fortes (na minha opinião, claro!). Uma das coisas que achei uma falta foi o cabelo da personagem Rosa não ter sido pintado de verde para ficar tal qual o livro. Na adaptação para o cinema foram suprimidos os filhos gêmeos de Clara e Esteban, o que na minha opinião não foi legal, visto que tanto Jaime como Nicolás foram muito importantes na formação da personalidade e do caráter de Alba. Aliás a adolescência e a juventude de Alba foi esquecida e todas as suas vivências foram retratadas como experiências vividas por sua mãe Blanca. É como se o filme acabasse na metade do livro.

Outra coisa que também achei mal no filme foi o nome da personagem do Antonio Banderas, sendo que ele deveria ser Pedro Terceiro e no filme aparece como segundo, todo o tempo. É provável que isto se dê pelo fato de terem desconsiderado o Pedro García, o velho, que é o primeiro dos Pedros. Também senti muita falta do casarão da esquina e de todo o movimento que este casarão continha com suas sessões espíritas, entra e saí de pessoas acolhidas por Clara e Jaime e todas as maluquices de Nicolás.

Como toda história de vida, a vida dos Trueba é cheia de histórias de outras pessoas que vão se misturando e desenvolvendo paralelamente. Mas elas são tão importantes para a trama como a história individual de cada personagem da família. Um momento crucial na vida de "Las tres Marías" e de seus donos foi um tremendo terremoto que deixou a casa grande da fazenda em ruínas, tal como seu dono Esteban que foi soterrado por ela.  Comparativamente as histórias deveriam ser tratadas de forma independente como se o filme fosse apenas uma ideia longínqua do livro.

Mas falando exclusivamente do livro, a história de Isabel Allende é fantástica! Adoro seu jeito de descrever em detalhes fisionomias, paisagens, locais e situações. Esteban Trueba é uma criatura pavorosa, da qual não gostei, mas até que me compadeci dele no final do livro, coisa que não ficou clara no filme. (Ops, era pra falar só do livro hahaha) Acontece que mesmo sendo um reacionário de primeira, Esteban arrependeu-se de ter ajudado os milicos a derrubarem o candidato comunista. No livro isto aparece bem claro, sendo falado pelo personagem. No filme não.

A Blanca do livro é resignada e aceita de forma passiva algumas situações impostas pelo pai. Rebelde e determinada era Alba, a neta de cabelos verdes de Trueba. Alba detinha em si o melhor de todas as personagens do livro. Um pouco da clarividência da vó Clara, a generosidade, a bondade e a inteligencia de Jaime, a impetuosidade de Nicolás, a beleza de Rosa, a teimosia (ou seria determinação?) de Esteban, a atuação política de Pedro Terceiro. Ela reunia muitas qualidades e por isto tornava-se tão autêntica e apaixonante. No livro pode-se perceber cada detalhe desta personalidade, no filme ela não passa de uma criança alheia as coisas. Sendo que na história original ela é atuante desde os primeiros anos de vida.

Já disse antes, mas não custa nada repetir, Isabel Allende é minha escritora favorita. Acho que um pouco por que faz das suas histórias e experiências pessoas literatura e poesia. Adoro sua forma de escrever, consigo criar o mundo que ela descreve, por mais fantástico que seja, em minha mente. O primeiro romance que li dela foi "Contos de Eva Luna" e de lá pra cá adorei cada um dos seus livros, até o infanto-juvenil "Cidade das feras" está entre meus favoritos.

Fiquei um pouco decepcionada com o filme é verdade. Mas creio que a escolha do elenco para o filme foi boa e os atores encarnaram bem as personagens, pena que o roteiro não tenha sido tão fiel. Talvez tivesse sido melhor dividir a história e ter feito uma série de filme tratando cada geração num filme e desta forma ser mais fiel a história do livro.