segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Ensaio sobre a cegueira - José Saramago

A leitura do mês de outubro do meu clube de literatura foi "Ensaio sobre a cegueira",  do José Saramago. Não é nenhuma novidade que ainda não conseguimos concluir a leitura, afinal já estávamos com a leitura anterior um pouco atrasada. Eu achava que precisaria muita atenção para conseguir acompanhar a saga das personagens e do enredo de Saramago, principalmente por conta do estilo do autor. Creio que um pouco desta preocupação se dá por eu ter tentado ler "Canoa de pedra" e não ter conseguido acompanhar todas as idas e vindas dos personagens.
Devo deixar claríssimo que o livro é magnífico. Com momentos fortes, é verdade, mas uma história muito envolvente e tocante. Em alguns momentos eu chorei, como não podia deixar de ser e o que não é novidade pra ninguém (chorona assumida). Ainda não conclui a leitura e fico até altas horas lendo curiosa para saber o que sucederá a seguir com aquelas sete personagens tão diferentes entre si.
Para quem não conhece a história do livro vou tentar resumi-la. A narrativa conta sobre uma cegueira branca que em pouco tempo torna-se uma epidemia. Os cegos e os possíveis contaminados são levados a um manicômio que estava fechado há alguns anos em quarentena. Com o passar dos dias mais e mais pessoas vão tornando-se portadoras da cegueira branca e com medo o governo tenta isolá-las até que todo o país está cego. É na luta pela sobrevivência que os doentes mostram e vivem o lado mais cruel desta luta. Alguns aproveitam a fraqueza dos cegos recentes para extorqui-los, não se sabe ao certo com que intuito, já que dinheiro e riqueza de nada adiantam no caos em que o país se encontra.
As personagens principais são formadas pelo núcleo dos primeiros a ficar cegos. O mais interessante na narrativa de Saramago, na minha opinião, claro, é o fato de nenhuma das personagens ter um nome. Sim, ele conta toda a história identificando as personagens por características físicas, por detalhes da aparência, pela profissão ou por outros detalhes que chamam atenção ao "visualiza-las". Semelhante a nossa narrativa do cotidiano, quando comentamos sobre situações e pessoas a quem não conhecemos intimamente, mas de quem sabemos histórias ou talvez tenhamos presenciado alguma situação que mais tarde mereça ser contada, como um vizinho novo, ou aquele do bloco ao lado que passeia com a cachorrinha.
Este núcleo de personagens demonstra toda a complexidade do ser humano, suas divergências, enfim. Mas é um grupo que não perdeu  toda a dignidade, não se entregou a selvageria ou deixou os instintos primitivos tomarem  conta das suas atitudes totalmente. É possível que o fato de um dos integrantes ainda possuir olhos para ver tenha ajudado, não se pode saber ao certo. Pelo menos não até terminar a leitura.
Após um incêndio no prédio do hospício em que estavam em quarentena os cegos finalmente conseguem ter liberdade, então começam a tomar ciência de como estão as coisas fora daquelas paredes. Bem verdade que não muito diferente visto que todos estão cegos e passam seus dias a buscar o que comer e onde dormir. Os serviços básicos como água e energia elétrica não funcionam. É o caos!
Vou dar só a ideia do que trata o livro, pra dar um gostinho e atiçar a curiosidade.
Vale muito a pena a leitura!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Mudança

Eu já me mudei algumas vezes. A primeira mudança de um espaço para outro foi da casa onde me criei na "vila" (como carinhosamente chamo o bairro onde morava e ainda mora boa parte da minha família) para o apartamento que moro até hoje com a minha mãe. Digo mudança de espaço porque as mudanças , ou melhor transformações físicas e emocionais acontecem desde que nascemos. Mas a mudança de espaço reserva uma boa parte da transformação (não é a toa que na adolescência meio mundo queira sair de casa!) e, afinal para sair de uma casa para um apartamento menor temos de passar por adaptações, ajustes, é preciso se desfazer de algumas quinquilharias que conservamos e guardamos durante anos, que pareciam relíquias, mas as quais não damos a mínima atenção durante muito tempo. Até aquele momento em que precisamos abrir velhas caixas de guardados e avaliar o que serve para ser mantido ou o que vai para o lixo e fica só na memória.

Nesta primeira vez deixei pra trás muita coisa que não servia mais e tantas outras que não teria espaço para guardar no quarto novo, bem menor que o primeiro aonde eu dançava enlouquecida ao som do rádio três em um. Foi um momento de reviver algumas lembranças porque fui relendo cartas, agendas, diários... revi fotos, vasculhei cadernos, separei apostilas da faculdade e desenhos dos colegas do primeiro grau. E pouco a pouco a ideia de deixar aquela casa, tão gigante na infância, foi se ajustando as novas histórias que surgiriam no apartamento mais próximo do centro.

Então nós fomos para o Village dois e fomos vendo a mudança na paisagem em volta, pois quando nos mudamos ainda não havia Big, nem Habbibs, nem muitos prédios ou condomínios por ali. No início caminhar do meu bloco até a entrada do condomínio parecia uma longa jornada, agora de tanto fazer o trajeto parece que o caminho encolheu.

Foi só depois de alguns anos morando ali que "saí de casa" pela primeira vez! Saí já "um pouco velha", como diria minha sobrinha Larissa, estava com 24 anos e tinha me formado na faculdade há mais ou menos dois. E foi uma mudança e tanto, pra quem foi uma adolescente que nunca pensou em sair de casa e morar sozinha. Mudei de casa e de cidade! A ideia de viver num outro lugar que não fosse Pelotas não me desagradava de todo, nem me assustava, afinal vida de jornalista é assim, na rua atrás do furo de reportagem. Foi uma época muito importante para o meu amadurecimento. Foi um tempo aonde tive de aprender a me virar por mim mesma, a fazer as coisas que tinha que fazer e a tomar decisões. Acho que esta foi a parte mais difícil e mais proveitosa também. Tomar decisões apenas escutando um conselho materno ou paterno pelo telefone. Ou às vezes sem ter tempo de pedir este conselho. Foi a transição para a fase adulta quando as rédeas da nossa vida vem para as nossas mãos e temos de saber que agora a responsabilidade é nossa. Sempre fui muito ligada nisto, sempre tive claro a responsabilidade que tinha sobre o resultado das minhas escolhas. Mas quando estava em casa, com meus pais, havia um crivo deles que servia como uma confirmação de que a escolha estava correta, o que me tranquilizava muito.
Foram 11 meses de experiência em Ijuí começando do zero o círculo de amizades, conhecendo a cidade e começando a ser jornalista, aprendendo que os meus ideais nem sempre iam ser aceitos pelo patrão e que precisaria aprender a ter jogo de cintura nesta profissão.

Depois deste tempo voltei para casa. Voltei pra Pelotas e precisei me readaptar, colocar tudo que tinha adquirido e mudado neste tempo no meu antigo quarto. Mais uma vez se fez necessário desfazer-me do que não mais me servia. Fiquei três meses e fui fazer um trabalho temporário numa cidade chamada Ibirubá. Aliás, minha amiga Jacque sempre diz quando eu começo uma história ou um causo, "lá vem história de Ibirubá". Lá eu sabia que seria por um tempo e depois eu voltaria pra casa ou iria pra outro lugar, eu não tinha ideia do que viria depois, mas sabia que não ia ser ali minha casa. Nesta época lembro que me fazia muito sentido uma música dos Titãs (não tenho certeza se do Nando Reis ou do Arnaldo Antunes) que diz "Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia/ Eu não encho mais a casa de alegria/ Os anos se passaram enquanto eu dormia/ E quem eu queria bem me esquecia". Confesso que vir embora de Ibirubá não foi tão fácil por saber que não seria "pra sempre". Fiz amigos, encontrei um amor, gostava do trabalho, mas o cargo não era meu e eu precisa encontrar meu lugar. Voltei pra Pelotas. Os amigos ficaram, o amor virou lembrança boa, o trabalho virou experiência valiosa no curriculum vitae.

A experiência mais significativa foi uma mudança de menos de 20 dias. Foi quando me dei conta que precisava ter jogo de cintura, mas não podia jogar fora meus ideais, que precisava me adaptar, mas não podia simplesmente descrer de mim ou abrir mão do que eu acreditava. Aí eu voltei pra Pelotas pra ficar.
Revi meus sonhos, minhas aspirações, minhas ânsias e percebi que viver bem é viver de forma simples. Trabalhei no Redução de danos que foi um período que me ensinou muito. Estudei, vendi chocolate, fiz o técnico em contabilidade e voltei a trabalhar com meu pai no escritório. Ah! E tem quem já tenha me dito que eu não precisava ter ido e vindo como fiz, que devia ter feito desde o princípio Contabilidade e ter ficado no escritório desde o começo, sem mudanças. E realmente, se não tivesse vivido tudo que vivi, trabalhado onde trabalhei, conhecido as pessoas que conheci, viajado o que viajei, não teria mudado, não teria me transformado e compreendido o que compreendo hoje. Não enxergaria o mundo como enxergo hoje. E seria mais pobre de conhecimentos, que é a verdadeira riqueza que podemos e devemos ajuntar nesta vida (em todas as vidas). Se eu não tivesse ido e vindo eu não seria quem sou hoje.

Agora vou morar na minha primeira casa, na casa que eu comprei com o fruto do meu trabalho, com ajuda de pai e mãe é verdade, mas com esforço meu. É outra fase, novos aprendizados. Mas na minha amada Pelotas, junto com a família e os amigos de toda a vida. Ainda tem muito aprendizado pela frente, mas ainda a muito espaço no meu cofre pra guardar esta riqueza toda. Como diz a Larissa... tô "um pouco velha" é verdade, mas nunca é tarde pra começar.


Nas fotos vista das novas  janelas!