segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Ampulheta da fertilidade

Com estes dias de repouso pós-cirúrgico pude acompanhar algumas séries e até novelas de que gosto. Foi numa tarde destas, assistindo ao folhetim das 19h, Alto Astral que vi a personagem Tina, interpretada pela fantástica Elisabeth Savala conversando com Laura, personagem de Nathália Dill sobre a escolha de ter filhos, o tempo a fertilidade. Era uma fala sobre a terrível ampulheta da fertilidade, esta que marca nosso tempo, o tempo de validade das mulheres. Laura perguntou a Tina se ela nunca tinha querido ter filhos naturais. Tina é casada com Manuel, um viúvo pai de quatro filhos, que ela criou e ama como seus. A pergunta de Laura ela respondeu com uma naturalidade sincera e até sofrida. Tina explicou que quando casou os filhos de Manuel eram bem pequeninos e não dava para ter filhos e o tempo foi passando, foi passando, foi passando e quando ela viu não dava mais tempo.
Eu me vi nesta situação, e vi algumas amigas e muitas mulheres que não conheço mas que sofrem a pressão da ampulheta com suas areias escorregando e lembrando que o tempo está passando. Não casei com um viúvo pai de quatro crianças e creio que se tivesse participado de uma situação destas não sentiria necessidade, tal qual a Tina, de mais filhos. Porque filho adotivo é filho e ponto.
Então eu me vi nela. Eu não sei a resposta pra decisão de ter filhos. Quero, mas não sei, tenho dúvidas, tenho medo. Não tenho resposta! Mas sei que quero ter alguém me chamando de vó quando for velhinha, como não tenho filhos será difícil. Será que vou poder adotar caso o prazo de validade vença?
Minha médica já me disse que até os 38 anos as coisas são tranquilas, mas depois a ovulação fica mais escassa e a possibilidade de engravidar mais difícil. Uma vez, quando me perguntou se eu queria filhos eu estava sozinha. Da segunda o relacionamento era um pouco recente e tem toda uma série de decisões que não dependem só de mim. Mas a ampulheta descarrega a areia na minha cara, só na minha cara. Porque pra muitas pessoas a decisão é só minha. E se antes, antes da ampulheta estar com tão pouca areia eu tivesse decidido por minha conta e risco,sem perguntar a ninguém ter este filho, deixar a fertilidade agir, como tantas outras mulheres já fizeram "antes da hora" como me interpelariam? O que me diriam estes mesmos que me dizem para decidir já?
Jamais poderia decidir por uma produção independente e privar meu filho de ter amor e convivência com o pai. Eu não conseguiria ser feliz sabendo que meu filho quer respostas que eu talvez não pudesse ou não quisesse dar. Então eu deixei pra decidir depois. E agora tem esta história do tempo e a decisão do outro, por quem não posso decidir. Por isto deixei para decidir daqui a pouco, pra resolver depois, mais uma vez.
Por algumas vezes consigo ignorar a ampulheta da fertilidade, virar a cara pra ela. Outras vezes sinto um aperto no peito e não consigo evitar o choro. Sei que tenho amigas passando pelo mesmo sentimento, pelo mesmo momento, pela pressão e tortura desta ampulheta. Como creio que o tempo é o senhor da razão... e nada acontece fora do tempo certo... na devida hora tudo acontecerá.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Catapora

É tempo de catapora, doença infantil, em geral, que causa bolhas d'água, feridas, febre e muita coceira no corpo. As benditas feridinhas podem atacar todo o corpo, do couro cabeludo até cantinhos mais internos aonde quer que tenha pele.
Eu tive, aliás tive quase tudo que foi doença de criança! Tive catapora, caxumba, hepatite A, e mais um monte de coisas. A minha catapora começou numa época em que eu estava passando uns dias lá fora na casa da dona Didi. Não lembro direito como começou. Lembro que tive bastante febre. As feridas se espalharam por tudo e eu tinha na cabeça, dentro das orelhas, embaixo dos braços, nos órgãos genitais, na garganta e sabe-se-lá-mais-onde.
A ferida da garganta não me permitia comer, pois nada passava por ali sem me causar ânsia de vômito. Lembro de tomar apenas canja, ou melhor o caldinho da canja. A gente estava lá fora, no interior de Piratini aonde não tinha água encanada, luz ou telefone. E o telefone mais próximo era há quilômetros de distância da casa da vó Didi, bem como os vizinhos, a cidade, o bar mais perto. Era muito bom ficar lá nas férias, mesmo sem ter absolutamente nada pra fazer. O tempo passava beeeem devagar, minhas horas eram gastas debaixo de uma árvore na frente da casa, aonde deitava no chão e escutava rádio, viajava nas nuvens adivinhando figuras, sonhava com coisas futuras. Outras vezes eu corria atrás dos bichos, porcos, galinhas e patos. Outras brincava de casinha, inventava histórias ou ajudava a vó Didi a fazer biscoitinhos, sovar massa de pães no cilindro e tantas outras atividades domésticas. A gente visitava a casa de alguns vizinhos. Para isto precisávamos fazer longas caminhadas até a casa deles. Mas quando fiquei doente tive que ficar em casa porque não podia pegar frio e chuva e porque não devia contaminar os outros.
Engraçado que mesmo bem distante do meu mano ele pegou catapora também, na mesma época. A diferença é que eu fiquei tapada de feridas dos pés a cabeça e ele teve uma meia dúzia, no máximo, na barriga.
Como a vó Didi já tinha uma idade um pouco avançada, achou melhor voltar pra casa comigo pra minha mãe cuidar de mim. O legal foi que a volta, da casa  lá de fora até o lugar onde pegávamos o ônibus, fui a cavalo com o Vilmar. Foi muito emocionante! Quando cheguei em casa fazia um dia quente, mas caía uma chuva de verão leve e eu fiquei na janela vendo meus irmãos e prima tomando banho de chuva e  se refrescando, mas eu não podia. Foi chato!
Apesar de tantas e tantas feridas creio que não fiquei com nenhuma marca no corpo. Ficar doente é bem ruim, eu achava bem chato não poder fazer várias coisas, mas também tinha lá suas vantagens. Afinal... quando a gente fica doente recebe bastante atenção, carinho, cuidados e mimos.
Meus queridos sobrinhos estão passando pela fase cataporenta. A Larissa teve há bastante tempo, devia ter uns dois aninhos. Este ano foi a vez da Amanda, depois foi o João e agora meu amor Yuri. Tomara que o Pê e o Daniel se livrem dela por enquanto.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Gratidão

Hoje fui na revisão da minha cirurgia, foi tranquilo. Os pontos estavam sequinhos e já foram tirados, não tem dor e a recuperação ótima, apesar do cagaço pré-operatório. Doeu um pouquinho quando a enfermeira levantou e cortou a linha. Não sabia que doía... Mas agora não tá doendo mais.
Próxima revisão só após a retirada do resultado da análise da vesícula pelo início do mês de janeiro. Recomendação médica é evitar alimentos gordurosos, o resto tá tudo liberado.
Agora mais uns diazinhos de repouso na casa da mamãe e voltamos a rotina normal.
Confesso que as coisas saíram melhor do que eu podia imaginar ou esperar. Nunca havia estado numa sala de cirurgia e tinha medo de não ter uma boa recuperação ou de sentir dor. Sim, apelei para o Dr Bezerra de Menezes e todos os amigos da espiritualidade, considero-me atendida, e muito, muito, muito agradecida. Como no post anterior mais uma vez agradeço os médicos, o corpo de enfermagem e todos os funcionários da Fau onde estive internada e fui excelentemente tratada. Demorou um pouquinho da descoberta até a realização da cirurgia, é verdade, mas ao final foi tudo muito bem.
Peço desculpa aos amigos que não tinham ideia de que faria uma cirurgia. É que não gosto de ficar publicando minha vida nas redes sociais, mas o agradecimento pelo tratamento recebido no SUS e pela Fau devem ser públicos. Agradeço também a minha mamis, meu pai, meus irmãos e todos os familiares que me acompanham neste momento. Também sou agradecida aos amigos, em especial a Deisi que insistiu até o fim que eu fizesse a cirurgia pelo SUS e foi comigo consultar. Sou grata a Deus e a toda a espiritualidade, como não podia deixar de ser.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Convalescendo

Estou há alguns dias sem poder escrever por aqui. Primeiro porque estava me preparando para realizar uma cirurgia e agora por estar me recuperando dela. Foi uma cirurgia simples, apesar do nome ser complicado! Aconteceu na segunda feira a tarde e hoje já estou bem e na casa da mamãe por alguns dias.
Da descoberta da necessidade do procedimento cirúrgico até o acontecimento dele de fato se passaram alguns meses, já que precisei fazê-lo pelo SUS. Aproveito para destacar o ótimo atendimento que tive no Hospital Escola da FAU por toda a equipe, desde a recepção até os médicos, enfermeiros e todos os outros profissionais. Minha recuperação está sendo ótima! Logo logo tudo volta a rotina!