Ela não quer ouvir o silêncio do telefone, nem o tic-tac do relógio lhe dizendo que os minutos passam incansáveis. Tentando conter o fluxo de pensamentos que lhe fazem sofrer com a falta de seu homem liga o rádio. Mas a música só lhe dá mais gana de gritar e chorar. Então, começa a limpar a casa, liga o aspirador e deixa que o barulho do eletrodoméstico invada o espaço. Desde a adolescência é assim, se algo lhe torna triste, arruma os armários, limpa a casa, lava os vidros, tira o pó, como se a ação de limpar, limpasse sua mente, seu coração e tirasse toda a "sujeira" acumulada no peito.
O cansaço físico também ajudava a amortecer aquela tristeza chata que teimava e persistia.
Mesmo sem querer olha ansiosa para o relógio do celular, pensando o que acontece com ele há alguns quilômetros dali. Será que também pensa nela nem que seja uma vez, um minuto de seu dia?, pergunta-se. E ela sabe que sim, talvez o pensamento que ele devote a ela não seja cheio de carinho como ela romanticamente espera, mas já é algo.
Para ela a noite havia sido difícil, além de não ter notícias dele, teve sucessivos pesadelos. Coisa que não sabe entender.
Depois de arrumar a casa, tendo sido atacada muitas vezes pelas lembranças dele procura algo que lhe distraia. Pedala a máquina de costura, qualquer coisa que não lhe deixasse escutar as batidas de seu coração que vez ou outra acelerava-se na esperança vã de que ele bateria em sua porta ou ligaria para ouvir sua voz.
Seus olhos inundam-se de lágrimas e seu corpo queima. Um banho quente pode me dar algum conforto, espantar o frio que faz com que meu corpo se encolha e doa, pensa. Mais uma vez tenta respirar fundo e sufocar a vontade de chorar que lhe vem. Tenta respirar sim porque que inspirar e expirar o ar lhe dói. Chega o momento em que acredita que ligará pra ele fazendo cobranças e perguntando, afinal de contas o que está acontecendo? Instantes depois tenta se convencer de que está deixando seus pensamentos irem longe demais e que na verdade deve ser mais paciente.
Enche a banheira. Tira a roupa lentamente lembrando que junto dele passa muito tempo sem roupa. Coloca as mãos na água para ver a temperatura e mergulha de olhos fechados. Sente o corpo envolto pelo quentinho do banho. Acaricia se com a bucha vegetal contornando firme os seios. Desliza sua mão até a vagina e com movimentos muitos leves a massageia. Sente o tesão tomando conta do seu corpo arrepiado, os tugidos e a respiração ofegante. Goza suavemente com movimentos muito leves. Fica na água até sentir que começa a esfriar.
Agora mais tranqüila procura uma receita nova para o jantar. Mas o silêncio continua lhe machucando.