sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Amor

Uma vez me deram uma explicação, que hoje estava lembrando, do que Jesus quis dizer sobre "amar aos vossos inimigos". Por que como nós bem sabemos, amar a quem nos ama, aquelas pessoas de quem gostamos inteiramente "di grátis" é muito fácil. Mas conseguir conviver bem com pessoas que não simpatizamos é muito difícil!
E este amar não quer dizer amar, morrer de amores, passar acarinhando o outro. Quer dizer não odiar, não desejar mal, não cultivar ou alimentar a mágoa e os sentimentos ruins para com o outro. Vamos começar por não odiar, não desejar mal. Com o tempo... quem sabe consigamos transformar estes sentimentos e pensamentos. Porque para amar outra pessoa temos que ser completos e simplesmente amar e aqui vai uma coisa muito importante, amar sem esperar que o outro corresponda o sentimento na mesma intensidade.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

"Aproveita véio"!

Algumas pessoas da minha infância, parentes distantes ou amigos da família, são lendários. E acabaram por agregar nas nossas falas íntimas muitas expressões e palavras que fazem referência a eles. A Santa é uma delas. Ela era cunhada do marido da minha tia Rosa.
Entre suas expressões mais famosas esta "aproveita véio!". Ela sempre dizia isto para o filho quando ia na casa da minha avó, quando oferecia água gelada, dizia para ele ir ao banheiro e arrematava a frase com o famoso "aproveita véio!". É porque nada disto tinha na sua humilde casa. Um chalé bem pobre numa rua do bairro (ou seria vila?) Jardim Europa, aonde ela morava com o marido Darci e o filho.
A gente costumava fugir um pouco dela, pois ela não costumava tomar muitos banhos e seu cheiro não era lá dos melhores. Mas era uma pessoa de um coração imenso! Ela chegava sempre com a intenção de tomar chimarrão, mas o nojinho que guardavam minhas tias pelo fato de ela não escovar os dentes as impedia de matear juntas. Minha tia inventava uma dor de estômago ou algo do tipo e entregava o mate pra Santa. Ela sempre foi muito carinhosa, sempre nos pedia beijos e cumprimentos. Meu primo alemão fugia o quanto podia, o outro, o preto ia e beijava a tia logo, sem frescuras.
Na minha casa quase toda a semana ela passava pedindo pão, comidas, roupas ou qualquer outra coisa para alimentar sua família. Não lembro, apesar de toda a pobreza em que vivia, de tê-la visto triste. E ainda que faça muitos anos de sua partida (e já fazia alguns que não a via) consigo lembrar muito bem dela. Ela era muito magra, pernas e braços muito finos. Seu rosto era cheio de rugas e a pele curtida do sol. O cabelo castanho escuro pelo ombro era mal cuidado e seco demonstrando o quanto fora maltratada pela vida. Morreu relativamente nova, ainda que sua aparência fosse de uma mulher bem mais velha.
Das histórias da Santa a mais comentada entre nossa família é a de um convite que fez a uma ex-patroa para que lhe visitasse. Numa tarde chegou ela lá em casa. Papo vai, papo vem ela pergunta pra minha mãe se ela não tinha "guilha" (por "guilha" entenda-se lista telefônica ou guia (= guilha) telefônico). E a mãe não entendia e eu louca pra rir, sem saber a que ela se referia. Até que ela diz:
_Mais guria! Tu tem telefone faz um tempão e não sabe o que é "guilha"?! "Guilha" pra ver o número dos telefones.
Aaaaahhhhh!!!!! Pois foi esta a nossa expressão! E mais uma meia dúzia de minutos até encontrar o nome da ex-patroa entre tantas famílias.
A Santa era uma pessoa muito desembaraçada! Sem nenhum constrangimento ou sentimento de baixa estima, falava com a patroa, mulher até de algumas posses (como dizem os escritores antigos se referindo às famílias abastadas) como uma de nós, de igual pra igual, sem esta de classes ou diferenças sociais!
Depois de muita conversa sentada no sofá lá de casa ela resolveu convidar a amiga pra visitá-la. O detalhe é que a mulher nem ideia fazia de onde é que residia a dona Santa. Mas em todo o seu desembaraço lá vai ela explicando logo que não há porque de ela não vir, pois chegar na casa dela é muito fácil. E foi então dando todas as explicações e referências que a ela parecia serem necessárias.
_ A senhora pega o ônibus Bom Jesus, desce sem ser numa parada na outra, pega a estrada e vai.
Não há como uma pessoa conseguir chegar na casa de quem quer que seja com tais indicações, não é mesmo?
Minha mãe disse pra Santa, mas a mulher não vai achar tua casa!
_ Como num vai?! É só descer ali no Lauriano, pega a estrada e pronto. É só perguntar aonde eu moro, todo mundo me conhece!
Ah! A ingenuidade das pessoas, a simplicidade daquele tempo onde vivíamos realmente numa aldeia. Numa tribo aonde todos se conheciam. Aonde bastava perguntar pros gurizinhos jogando bola no meio da rua com traves marcadas por chinelos de dedos onde quem quer que fosse morava e lá eles iam correndo, sem camisas e de pés descalços gritando o nome da vizinha e apontando pra casa. E apoiada nesta ideia Santa argumentava que a ex-patrona (como dizia) viesse lhe visitar, tomar um mate e um café.
Não tenho certeza, mas acho que ela nunca veio visitar a Santa! Mas nada disse mudou o modo feliz de viver da Santa. Sim, um modo feliz que só agora consigo ver. Toda a miséria que vivia, as dificuldades da vida e os mal tratos não mataram a vontade de viver daquela mulher lutadora. Uma personagem rica com todas as suas cores. E ainda que seu odor fosse dos mais fétidos havia nela um frescor de vida, de vontade de viver que nem o tempo mais difícil foi capaz de apagar. Nada do que sofreu conseguiu silenciar sua gargalhada. A única coisa farta naquele corpo!

Recados perdidos!

Levar chave teste e fios! Tomara que ele tenha perdido o bilhete, mas não tenha esquecido de levar o material!

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Jogo do copo, do compasso, caneta #HistóriasDeFantasma

Sempre tive medo desta "brincadeira" que, em certa fase da vida, várias pessoas praticam para satisfazer curiosidades sobre seu futuro. Talvez o que mais tenha me causado medo tenha sido o filme "O exorcista" em que uma menina, no início da adolescência, é possuída por um espírito que atormenta toda a família chegando a tirar a vida de um dos padres que a tenta exorcizar. O filme frequentou meus pesadelos por dias seguidos depois de tê-lo assistido, coisa que não faço mais nem que me paguem.
Várias vezes na minha adolescência escutei falar de gente que fez o jogo do copo. No colégio aonde eu estudava contavam que uma guria tinha feito. Durante as perguntas o  copo quebrou e a moça ficou estranha, perturbada. Possivelmente obsediada pelo espírito que veio responder seus questionamentos. Para quem não crê é bem provável que isto tudo pareça uma grande bobagem. Mas trata-se de contato com os espíritos, espíritos estes ainda não evoluídos visto que os que alcançaram algum grau na escala espiritual não tem tempo para joguinhos.
A situação que mais me impressionou foi a do ex-namorado de uma amiga. Estávamos eu, duas amigas e  mais o namorado de uma delas. Elas resolveram fazer o tal jogo do oculto em que se escrevia o alfabeto, números e as palavras sim e não num caderno. Duas pessoas faziam um círculo com a mão, colocavam a caneta no meio e através da caneta, que apontava as letras, as perguntas eram respondidas. Este moço, não acreditava naquilo. Eu não quis participar da brincadeira, mas estava presente. Ele perguntou ao espírito se ele sofreria um acidente de moto, ao que teve uma resposta positiva. Várias vezes ele perguntou e todas as vezes teve a mesma resposta. Quando perguntou o dia a resposta foi de que tal pergunta não podia ser respondida. Algum tempo depois o rapaz sofreu um acidente de moto e perdeu uma das pernas. Não faço ideia de como está o rapaz hoje em dia.
Na época não era espírita. Embora já acreditasse na doutrina ainda não havia começado a estudar e tinha lido poucos livros sobre o assunto. Mas como já havia tido a péssima experiência do filme nunca gostei das tentativas de saber do futuro através de consultas aos espíritos justamente por saber que quem vem nos responder são zombeteiros, entre outros. Parto do princípio de que o esquecimento é uma benção, não lembro quem fui e o que fiz na outra encarnação como uma proteção a mim mesma. E o futuro virá, no momento que tiver que vir. Sendo que, na verdade, o futuro é hoje, é o presente.
Ontem na aula de Doutrina no Centro Jesus comentamos o quadro do fantástico, bem ruim por sinal, que fala sobre fantasmas. No programa falaram sobre o jogo do copo e outras aparições de espíritos num casarão em Recife, casa aonde morou o escritor Gilberto Freyre. Ainda que muitos fantasmas que vejamos por aí possam ser criação da nossa mente e, principalmente, do nosso medo, isto não estingue a existência deles. Dos 21 minutos de matéria a coisa mais importante foi dita no final, "NÃO FAÇA O JOGO DO COPO".  A Federação Espírita alerta e confirma no vídeo os riscos de tal atitude!
Comentando o episódio do programa dominical lembrei do caso que relatei acima. E mais uma vez reforcei a ideia de que devemos respeitar os espíritos e aceitar a dádiva da ignorância quanto ao futuro.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Um poncho fantasma sobre as crianças famintas #HistoriasDeFantasmas

Minha família tem histórias que não acabam mais. Tem situações de altruísmo, engraçadas, tristes, emocionantes... Sempre gostei muito de escutar estas histórias de um tempo nem tão distante, mas acontecidas com pessoas tão próximas de mim. Os causos que aconteceram com minha bisavô são das que mais me emocionam, principalmente pela sua fibra e coragem de criar seus filhos praticamente sozinha com o suor do seu trabalho. Mais me orgulho por ela ter criado seus filhos logo no inicinho do século, períodos de fome e recessão.

Era uma época em que as mulheres não votavam. Era uma época que apenas as mulheres pobres trabalhavam tão duro quanto os homens. Labutavam em casa, na lavoura, aonde houvesse trabalho. Minha bisa era uma destas mulheres de fibra que pegaram na enxada para não deixar os filhos passarem fome, mas ainda assim muitas vezes viveram maus bocados.

Houve uma época, na colônia, em que suas refeições consistiam em amendoim torrado e chimarrão! Nada mais! Para completar ainda tinha um vizinho gozador que fazia piadas quanto a energia que teriam, fazendo, claro, uma referência ao potencial afrodisíaco do amendoim. A vó Mila não respondia pra ele, mas resmungava com minha avó:
_ Este filho da puta, até parece que não sabe que isto é a única coisa que temos pra comer!
E a velha jamais se deu por vencida e nunca baixou seu ânimo, seguia trabalhando, mesmo sofrendo com a fome, mesmo passando frio.

Numa noite destas de miséria na colônia foi que apareceu pra ela o espírito de um dos maridos falecidos. Sim, minha bisa teve muitos amores, ou companheiros, ou amantes. Até porque... naquela época as mulheres tinham que casar, tinham que ter um homem provedor da casa. Mas pelas histórias que ouço dela, me parece que ela teve muitos homens e também teve muitos filhos, mas viveu muito tempo por conta própria! E eu considero que o mérito da criação dos filhos é todo dela e da sua fibra.

Foi nesta noite fria de um agosto rigoroso que ele surgiu. Ela estava pronta para dormir e os filhos pequenos todos deitados numa mesma cama, com poucas cobertas, muito provavelmente improvisada. Então ele surgiu com seu poncho jogado para trás sobre o ombro.
_ Que miséria mulher!, disse ele tirando o poncho e cobrindo as crianças mal agasalhadas. A bisa contava que ele jogou o pala pra cima e quando caiu sobre as crianças já não estava mais lá.

Todos sempre queriam saber se na manhã seguinte o poncho ainda os cobria. Ou se a situação de miséria havia mudado. Nem o pala estava lá, tampouco a situação mudou. Mas creio que ela teve uma certeza, alguém, mesmo que num outro plano, olhava por ela.

Muito tempo de miséria ainda foi vivido pela minha vó Mila acompanhada da vó Mália e da Edite, as filhas com quem sempre esteve próxima. Ela desencarnou bem velhinha com 96 anos de idade, com o cabelo ainda bem pretinho preso numa trança bem comprida. Ela se foi de uma forma muito tranquila, que me alivia, pois foi tanto tempo de trabalho aqui, que seu desencarne deveria mesmo ter sido como foi. Minha mãe conta que ela estava tomando uma canja no hospital e conversando com ela e minha tia Ieda. A bisa deu um bocejo e se foi. Deixando muitas histórias pra gente sempre lembrar dela. Pra gente nunca esquecer dela!