quarta-feira, 14 de abril de 2021

Trauma de infância



 Não sei se já contei pra vocês, é possível que sim, mas quando eu era criança/adolescente eu tinha pavor do Mendes Ribeiro! Não suportava a voz, a cara, o topete! Simplesmente detestava! Pra quem não faz ideia de quem seja o distinto, ele era um comentarista do Jornal do Almoço, tipo Lasier Martins (só nunca tomou um 220 no ar!😝😂). Era assim uma espécie de dono da verdade, apontava, criticava, tinha um apontamento pra cada coisa da política. E era deputado federal pelo PMDB, tirem as suas próprias conclusões!

Eu não suportava escutá-lo! Principalmente porque meu pai adorava e na hora que ele ia fazer seu comentário não podíamos dar um pio. Coisa que pra mim é muito difícil! Embora hoje em dia eu tenha aprendido a não falar quando algo me desagrada, pois eu ainda não sei dizer o que me desagrada sem brigar. Também sou muito conversadeira e a hora do almoço, quando tá todo mundo reunido é o melhor momento pra falar, assim todo mundo já fica sabendo de tudo junto. 

Teve um dia que eu discuti com meu pai por causa dele! Não sei qual era a novidade que eu queria contar e fui silenciada porque o Mendes Ribeiro ia trazer sua palavra de sabedoria e moralidade. Não me aguentei, quem me conhece sabe que segurar a língua e a cara quando não gosto de algo é difícil. Então... eu retruquei, "já que ele é tão bom, sabe tanto, é tão maravilhoso, porque não faz nada pra mudar as coisas? Porque não doa o salário pra quem precisa?". Eu não aguentava ter que me calar pr'aquele homem, político, falar. Principalmente porque falar era fácil! Ali, na bancada do jornal, podíamos escutar o que ele pensava e defendia, mas na intimidade, quem saberia? 

Dei graças a Deus quando ele parou de fazer comentários no jornal. Daí veio o Lasier, mas desse meu pai não gostava! hahaha Por conta do Mendes Ribeiro, criei um forte ranço com comentarista ou especialistas que viram unanimidade. Mesmo que goste da pessoa, me incomoda profundamente quando a mídia começa a tratar aquela personalidade como uma sumidade num assunto, principalmente porque, muitas vezes, e este é o caso do ex-deputado e comentarista, a criatura está ali, apenas, explanando a SUA opinião. Não tem estudo, não tem dados científicos, tem a sua vivência e a sua opinião. 

Por causa disso eu parei de ler e assistir programas com o Carpinejar! Eu gosto dele, vejam bem! Inclusive leio seus livros e crônicas.  E adoro, me emociono! Mas nos programas de televisão começaram a tratá-lo como um exímio conhecedor do amor, dos relacionamentos, um expert em tudo que tinha a ver com isto. E ele realmente tem ótimas colocações, que ocorrem a partir da sua percepção pessoal. Não quer dizer que a verdade dele é a única ou é absoluta. É um ponto de vista, existem outros mais abertos e outros mais intransigentes. Todos certos ou errados, depende de quem vai ouvir. 

Óbvio que levei alguns anos para superar o trauma com o comentarista do jornal do almoço! Até hoje detesto que me mandem calar pra que possam escutar a televisão! Eu respeito quando a pessoa está assistindo um filme ou programa, eu aguardo o intervalo. Mas quando me manda calar pra escutar qualquer coisa que vai repetir daqui a pouco ou pra ver algo que já viu... um demônio falador que vive dentro de mim se revolta e aí sai debaixo! Já vou logo avisando, se evocar esse demônio aguenta o rojão! 

Apesar do trauma com o comentarista eu resolvi fazer jornalismo! hahaha Aliás, acredito que fiz uma boa escolha, embora não atue! Quem sabe escrevo um livro qualquer dia?! Mas tudo isso porque agora quem me causa ojeriza é o Samuel Vettori! Nossa! Não aguento os comentários dele, os faniquitos que tem no ar! Justamente por ter feito jornalismo acho que é demais! Não vou falar naqueles outros que comemoram morte de pessoas que cometeram crimes, porque né?! Comemorar morte não tem nem o que dizer!

Não acho que os comentários do Samuel sejam sem nexo! Apenas considero que são instigadores da raiva, da desesperança, do descrédito. É óbvio que um homicídio é algo que causa profunda indignação em qualquer um, se não causa algo tá errado com aquela pessoa. Acontece que instigar a raiva é algo de que não necessitamos, principalmente em horário nobre. Isso já acontece praticamente 24 horas nas redes sociais! Além disso, como jornalista penso eu, que se tu apontar todos os fatos, sendo explicito em relação as atrocidades cometidas, não é necessário fazer comentários exaltados! A partir do relato as pessoas irão se revoltar. Não precisa jogar mais gasolina no fogo! 

Considero importante que quem está a frente de um programa com boa audiência seja próximo da população que assiste. E esse moço é! Mas inflamar as revoltas, dizer que vivemos terrorismo, ficar mostrando várias e várias vezes imagens de execução em plena hora do almoço é demais.

Inclusive, lembro dele da época da faculdade. Não duvido nada que tenhamos batido boca nos corredores da católica! hahahaha Mas disso não lembro! 😜 Talvez eu ainda continue com uma ideia romântica do jornalismo! Vai ver ainda não aceitei essa ideia de que pode-se dizer tudo, mostrar tudo, mesmo que não se tenha informações  suficientes ou provas contundentes.  Mas digo tudo isto porque toda esta energia, os comentários raivosos mexem comigo. Eu já sou naturalmente irascível e quando assisto este jornal fico ainda pior! Até por isso evito assistir telejornais. Mas tem vezes que é inevitável! 



Imagens retiradas do google

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Ditadura não é para ser comemorada!

Hoje é dia de #tbt! Dia de relembrar boas memórias! Mas também de lembrar más situações para que elas não se repitam! 
Não vivi no período da Ditadura Militar! E talvez se tivesse vivido naquela época fosse uma pessoa completamente fora das notícias, assim como tantas pessoas. Tendo sido sempre pobre, é provável que vivesse como  a grande maioria dos trabalhadores da época, de casa para o trabalho e do trabalho para casa! Fazendo todo o possível para não se envolver em confusões. Mas não creio que fosse desmentir o acontecido!

Aliás, uma das coisas que mais me choca é pessoas que desmentem a ditadura militar ou o holocausto. Realmente não consigo compreender como vendo tantos absurdos documentados em fotos e história oral as pessoas não acreditem! Aliás, consigo sim. É muito difícil crer que outro ser humano fosse/seja capaz de praticar tanta crueldade contra outro!

Como disse, não vivi aquela época, mas estudei bastante, li muito livros e fui até o Memorial da Resistência para ver as provas, os documentos que li nos livros. Lá tudo é muito pesado, a energia, as histórias, os depoimentos! Uma das experiências mais fortes que já experimentei foi sentar num banco, dentro de uma das celas da ditadura, a meia luz, escutando os depoimentos das mulheres que estiveram ali detidas. Muito chorei escutando aqueles relatos! Foi uma sensação avassaladora!

Esse tipo de evento deve sim ser lembrado, mas nunca, NUNCA COMEMORADO! Muitas pessoas morreram, outras tem sequelas e traumas até hoje! Além disso, tem famílias que não receberam qualquer tipo de informação sobre seus entes queridos desaparecidos e para mim essa é a pior tortura que uma mãe, um pai, um filho pode sofrer. Saber que aquela pessoa está morta é difícil, é terrível e muito doloroso, mas não ter ideia de onde a pessoa está, os sofrimentos que pode estar passando, isto é de uma perversidade sem tamanho. 

E comemorar ou festejar isso é tripudiar da dor alheia!