sexta-feira, 25 de maio de 2012

Nuvem

Nuvem Passageira - Hermes de Aquino


Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai
























Não adianta escrever meu nome numa pedra
Pois esta pedra em pó vai se transformar
Você não vê que a vida corre contra o tempo
Sou um castelo de areia na beira do mar














A lua cheia convida para um longo beijo
Mas o relógio te cobra o dia de amanhã
Estou sozinho, perdido e louco no meu leito
E a namorada analisada por sobre o divã












Por isso agora o que eu quero   é dançar na chuva
Não quero nem saber de me fazer, vou me matar
Eu vou deixar um dia a vida e a minha energia
Sou um castelo de areia na beira do mar












 Ontem, quando fui fazer uns serviços de rua me deparei com esta nuvem. Achei muito interessante a forma como a luz do sol, com força e delicadeza desnudava a silhueta da nuvem em plena rua.

É claro que cada um que observar a foto vai ver um desenho diferente. Minha prima viu um homem com os braços abertos.
Na foto ao lado me parece uma mulher de lado, com o seio a mostra.

O mais interessante é que com o passar dos clic's a nuvem que, na primeira foto estava bem escura, vai aos poucos clareando.



Até que... aqui... ao ladinho da cúpula da Catedral ela já esta super clara, o céu está bem mais azul. E os raios de luz venceram a escuridão.

Como na música do Hermes de Aquino "com o vento desfaz"!




quarta-feira, 16 de maio de 2012

O amor não tem tempo

Quando acontece uma doença na nossa família é quase impossível ver um lado positivo. No entanto, o apoio dos amigos, as palavras carinhosas de conforto são as mais claras traduções e demostrações de que não estamos sozinhos. E é muito bom receber este carinho, tanto quanto é importante reconhecer o quanto necessitamos dele neste momento de fragilidade e temor.

Há exatos dois meses meu pai foi realizar uma cirurgia pra retirada de um meningioma na cabeça. O nódulo se encontrava entre o cérebro e o crânio, acima do olho direito. Graças a Deus, aos excelentes médicos e apoio de todos os amigos correu tudo bem. Sim, é neste momento que recorremos ao sagrado, tenha ele o nome que você quiser.

Faz um tempo também que meu sobrinho está enfrentando um sarcoma epitelióide no braço. Neste exato momento esta hospitalizado. Fez quimioterapia, mas a solução para seu caso passa pela aceitação de perder o braço. Decisão extremamente difícil visto a pouca idade e crenças que professa. Enfim, situação nada fácil pra ele e pra toda a família que respeita a decisão, embora custe muito pra entender as escolhas feitas.

Conforme a doença foi atuando foram necessárias algumas internações hospitalares, que tornam o dia-a-dia de quem lhe acompanha no hospital sobre carregado, principalmente por vê-lo debilitado. O cansaço, a má acomodação, as noites em claro não são nada perto da visão do seu sofrimento, da dor e do desgaste físico que acaba apresentando por causa das dores. Vamos buscando sempre exemplos de perseverança e superação na tentativa de demovê-lo da sua decisão de não realizar a cirurgia.
Nestas temporadas internado conhecemos vários "companheiros" de jornada, que internam para realizar procedimentos cirúrgicos ou tratamentos no mesmo quarto de hospital. A convivência de alguns dias rende boas amizades.

Conhecemos dois senhores bem idosos, exemplos de força e coragem. Hoje pela manhã deu alta do quarto o companheiro atual, mas não sem antes contar sua biografia, magnífica. Noventa anos de vida com uma lucidez surpreendente! Ontem quando a neta contou que ele aprendeu a ler com a filha me comovi demais. Achei linda a atitude da filha que ia para a escola e ao chegar ensinava ao pai tudo que havia aprendido. E com a perseverança deste homem que apesar do trabalho pesado na lavoura teve persistência para aprender o beabá para ler com seus próprios olhos livros, revistas, jornais... É ao mesmo tempo força e humildade, pois o pai foi ensinado pela filha, sem constrangimentos. Que duplo exemplo! E há quem diga que nada tem a dar, mas, como dizem "ninguém é tão miserável que não possa ajudar alguém e ninguém é tão rico que não precise de alguém" (ou mais ou menos isto).
Mas a história deste senhor é muito mais surpreendente do que aprender a ler com uma professorinha menina. Eu que sou uma chorona de marca maior enchi meus olhos d'água ao ouvir a história da alfabetização, quando minha mãe me contou dele falando sobre seu amor por sua esposa e como ele fez sua vida...

Bem dizem que a vida imita a arte, mas muito mais vezes a arte imita a vida. O amor deste senhor começou aos 11 anos de idade, quando ele conheceu sua amada que era dois anos mais nova.  Disse ele que se gostaram, mas eram muito jovens pra namorar. Então ele falou a ela, "se existe amor nada vai nos separar!" Ele tomou conta da sua vida neste exato momento, começou a trabalhar.
Lá pelos 16 anos foi até o pai da moça pedir pra namorar. Mas o véio com a cara "enferruscada" disse que eram muito novos. Passou mais uns anos e se encontraram num baile, ele com 18, ela com 16, dançaram a noite toda. No dia seguinte ele encheu-se de coragem e foi pedir para namorar. Ainda não possuía nada de seu, mas trabalhava com garra. O sogro permitiu o namoro, mas só namoro.
Ele vivia só numas terras aonde trabalhava, terras arrendadas. Um amigo disse a ele que se quisesse casar ele emprestava dinheiro para ele. Mas com receio de não ter como pagá-lo fez adiar a ideia.
O dono da venda fez a mesma proposta.
_Casa rapaz, eu te vendo no caderno, tu paga por ano, não te cobro juro.

Ele preferiu esperar um pouco mais. O sogro preocupado com ele vivendo sozinho autorizou que a filha fosse viver junto para ajudá-lo, o casamento seria feito depois e eles iriam trabalhando e adquirindo as coisas. O vendeiro vendeu a ele fiado, ajudando-o.

_Sempre fiz tudo de acordo com minha mulher. Toda decisão, todo plano a gente conversava antes.

E foi assim que conseguiram comprar as primeiras terras próprias, com muito trabalho e economia de ambos. A esposa partiu há alguns anos. A saudade aperta algumas vezes, mas, como ele mesmo disse "se o amor existe... nada separa!"

Caixa D'água

Hoje quando fui a Santa Casa de Misericórdia a tarde e parei para observar a Caixa D'água finalmente restaurada. Foi bastante tempo  passando por ali vendo tudo cercado, descascado, feio. Um monumento que conta a história de Pelotas, largado.

A Caixa D'água veio da França e, não quero mentir, mas me parece que ainda funciona.

O mais bonito da cena, infelizmente não consegui captar, era o canto dos pássaros numa árvore. Fiquei alguns minutos olhando pra cima, observando a árvore procurando os cantores. Mas não os vi, no entanto os ouvi muito bem.
Seu canto me emocionou!


Para celebrar o momento uma bela poesia de Olavo Bilac, espero que gostem.
O Pássaro Cativo
Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?
É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
“Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi ...
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas ...
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade ...
Quero voar! voar! ... “
Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão...
Olavo Bilac
Do livro: Poesias Infantis, Ed. Francisco Alves, 1929, RJ

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Pica pau Amarelo

Este bichinho é tri bonito. E ainda é invocado! Quando ele vê o próprio reflexo num vidro parte pra briga. É pena que ainda não consegui fazer uma foto do embate!

domingo, 6 de maio de 2012

Algum medo pode surgir

Estava num restaurantezinho discreto, simples e completamente desconhecido por mim. Na verdade era algo dúbio o que eu sentia, porque parecia um lugar que já tinha ido, mas era totalmente estranho pra mim ao mesmo tempo. Gostava da sensação de bem estar que me invadia.
Não sei se era a música, o cheiro bom que vinha dos pratos preparados na cozinha ou se era o delicado perfume dos temperos e ervas cuidadosamente semeadas em vasos que perfumavam e decoravam o lugar.  O perfume do alecrim dava a sensação de pertencer aquele lugar.

Quantas lembranças me vinham na mente... então olhei e te vi na mesa ao lado, conversando com amigos, pedindo a conta. E a gente combinou de se encontrar e não conseguiu! Agora estávamos ali, quase frente-a-frente. Senti a garganta secar e as mãos suarem. Disse a minha mãe:
_Tá vendo aquela mesa ali? Então aquele cara é o fulano. Vou falar com ele, já volto.

Levantei e fui te encontrar. Pensei que poderia surgir algum medo, senti minha perna bamba e o coração disparado. Quando vi teu sorriso e os braços abertos foi como se tivéssemos nos visto no dia anterior, como se nunca tivéssemos nos afastado. O papo fluiu, as risadas surgiram e foi tudo tão natural!
Algum medo pode surgir, pensei eu, envolta naquela aura tão harmoniosa e feliz. Mas não queria pensar em nada, não dava tempo de pensar no medo, porque a felicidade era muita e ocupava todos os meus pensamentos e sentimentos.
E mesmo que um novo encontro não aconteça a lembrança do brilho dos teus olhos ficará comigo.