Uma tagarela como eu sempre tinha papo com todos da sala, não precisava que ninguém respondesse, bastava estar do lado escutando meu monólogo incansável. Então eu conversava com os colegas concentrados e com os "terríveis" da sala, no caso dois Leonardos e um Cristiano. É engraçado que eles gostavam de mim e supunham, lá com seus botões, que eu gostavam de algum deles, é claro. Ainda mais que eu sentava numa carteira próxima e conversava com eles.
Um dia antes de sair da sala para o recreio eles vieram os três juntos para saber, afinal de contas de qual deles eu gostava. Nunca fui uma pessoa de enrolar. Digo logo o que sinto ou não sinto, sem enrolação. Naquela época não era diferente.
Um dos Leonardos foi quem disse que queria falar comigo. O Leonardo era meu colega desde a primeira série. O outro Leonardo chegou depois transferido de outra escola e com uma fama de aluno mal comportado. O Cristiano também não tinha lá uma fama das melhores. Apesar de todos terem algum problema de comportamento, o que hoje considero apenas uma enorme energia e um comportamento compatível com o fato de serem crianças, todos tinham boas notas. O colega chegou dizendo de forma incisiva que eu tinha que decidir de qual dos três eu gostava.
Na época acho que não arqueava a sobrancelha, ainda, mas se o fizesse com certeza neste momento ela devia estar nas alturas. Mas nem deu tempo de uma resposta desaforada porque os outros me cercaram dizendo que era verdade e eu tinha que dizer de quem eu gostava, que tinha que decidir. Então eu decidi mui categoricamente e com uma gentileza sem tamanho...
_ Eu não gosto de nenhum dos três e nem temos idade para este tipo de coisa.
Depois desta resposta toda vez que eles se aproximavam era pra cantar "mas ela não gosta de mim/ vive me dizendo não/ nem tem pena do meu coração/Que só vive nessa ilusão". Confesso que ficava bem vaidosa, principalmente porque adorava o grupo Dominó.