terça-feira, 24 de agosto de 2010

Queria ser black power

Hoje, assistindo uma matéria sobre cabelos lembrei de como queria ter os cabelos crespos. Aliás, fui mais além, lembrei dos tempos de guria quando via meu tio Chicão penteando seu black power com o "garfo" no banheiro da casa da minha avó. Lembrei que sempre tive vontade de pegar o "garfo" e armar o meu cabelo.
Eu tenho um cabelo volumoso, quando está comprido, claro! Mas ele não é nem liso e nem crespo com cachos. É um montão de cabelo, apenas. E eu querendo ostentar um black power bem armado tipo Paula Lima, Vanessa da Mata, Tony Tornado ou Jacson Five, porque não? Aí todo mundo diz: "é sempre assim, quem tem cabelo liso quer crespo, quem tem crespo quer liso!". O fato é que quando eu era criança, depois que criei cabelo, porque um certo tempo fui carequinha, minhas madeixas eram encaracoladas. A própria cachinhos dourados! Mas, depois dos quatro anos, primeira vez que cortei os cabelos bem curtinhos, ele ficou castanho mais escuro e ondulado, ou melhor, liso em umas partes e crespo em outras. Mas não tem procon pra reclamar deste tipo de coisa!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Relacionamentos

Eu não entendo nada de relacionamentos. Tirando a minha família e alguns amigos de longa data, não muitos, tive poucos relacionamentos amorosos na vida. Surpreendo-me quando olho pessoas da mesma idade que eu vivendo (ainda) a paixão como os adolescentes. Não me sinto velha, apenas, acho que não sou deste planeta. Lembro da minha adolescência de forma muito clara. Toda semana eu me apaixonava por um guri diferente. A maioria deles eu simplesmente nem lembro o nome. Era um ciclo, paixão arrebatadora, dias falando no guri, desilusão (muitas vezes sem que o cara chegasse a saber meu sentimento ou tivesse feito algo pra mim, do tipo: não é tão bonito, fala errado, cospe na rua, cheira mal ou não gosta de mim. Tudo da minha cabeça E na minha cabeça), tristeza com o "rompimento", choro e, por fim, o bom e velho "ele não me merece!".
Daí a pouco já estava bem. Nunca vivi em função de ninguém que não fosse eu ou minha família. Minha mãe e meu pai me criaram para ser independente. A frase que mais ouvia era: "tens que estudar, trabalhar, ganhar teu dinheiro e não depender de marido. Tens que ser independente!". Eu eu cresci assim, estudando, buscando ser uma boa profissional, ter qualificações, ter cultura, ser inteligente. Não dei muito tempo para os namoros. Mas sempre me diverti muito, sempre fui a festas, boates, bailes, adoro dançar. Sempre gostei de ter com amigos, mas nunca deixar de fazer algo de que gostava porque alguém não gostava. Vou a praia sozinha, vou ao cinema sozinha, danço sozinha em casa, canto no chuveiro. E gosto de ter meu tempo sozinha.
Acho que isto é que acaba atrapalhando os casamentos. Não o tempo que a pessoa precisa ter consigo, mas a falta deste tempo. Eu entendo que casar, ou juntar, ou namorar é comunhão, é compartilhar. Mas ao contrário do que pensam algumas pessoas não é fundir. Embora a mulher adote o nome do marido ela não deixa de existir individualmente para ser um casal. E quando não se respeitam as individualidades e as diferenças acaba dando errado. Outro dia li um artigo que compara o tema com a matemática, Aritmética do amor de Márcio Ezequiel.
Algumas amigas minhas estão passando por momentos estranhos nos seus relacionamentos amorosos. O mais estranho de tudo isto é que, eu que conto nos dedos o tempo que estive namorando com alguém sou a escolhida para aconselhá-las, sendo que elas, desde que as conheço estão sempre namorando com alguém. Contraditório não? Também acho!
Mas em ambos os casos percebo que o "problema" é semelhante, sendo um deles a falta de maturidade, justamente por terem se envolvido em relacionamentos sérios jovens demais. E o outro é o medo terrível de ficar sozinha, a dificuldade de estar consigo. Neste afã de correr da solidão elas vão se envolvendo em relacionamentos apressados, em situações que as levam a mudar suas personalidades e a se submeterem a circunstâncias que só lhe fazem mal. Óbvio que eu estando de fora enxergo tudo de forma clara e cristalina, enquanto quem está no olho do furacão só consegue perceber o vento que lhe suspende no ar.
Eu não sei o que dizer a elas, todos os argumentos que tenho, tudo o que penso sobre seus relacionamentos não tem base científica ou psicológica. É pura especulação! É intuição, nada mais. Assim como meus pais, que intuitivamente me criaram para ser feliz comigo mesma sem depositar ou esperar dos outras a felicidade, eu aconselho minhas queridas amigas a viverem bem consigo mesmas. Confesso que não é fácil se conhecer bem e respeitar-se. Muitas vezes a gente pensa que o melhor mesmo é ser como no passado, apenas uma SRA. Fulana de Tal e colocar sobre os ombros do nosso marido todas as frustrações que temos. Afinal de contas é sempre mais fácil culpar os outros a encarar que somos nós os responsáveis pelo erro.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Duas meninas, duas histórias e duas escolhas

Pelo conhecimento da doutrina espírita sempre fico martelando na minha cabeça o quanto não devo julgar o outro pelas suas atitudes e ações. Ao olhar pra alguém não sabemos o que ela carrega dentro de si, sua história, suas marcas, seus estigmas. Mas comparando, e eu sei que a gente não deve comparar, algumas histórias e situações não dá para não julgar um pouco. Não julgar no sentido de culpar, punir e criticar. Digo analisar, refletir cada uma das situações e achar algumas coisas injustas, algo que às vezes parece ingratidão, coisas que parecem puro capricho de gente mimada. Nada de apontar o dedo e dizer, "tu tá errado", não. O objetivo é aprender, é tentar compreender. Enfim... Vou contar duas histórias, que não tem ligação alguma, a não ser o meu olhar, claro. Que são contraditórias mas bons exemplos de como se comportar diante de duas escolhas a vida e a morte.
Tatiana nasceu numa família pobre, muito pobre. Pais sem nenhuma formação escolar e muitos irmãos para dividir tudo. A economia doméstica não era o forte da família e grana nunca estava sobrando. Desde muito cedo apresentou problemas de saúde, anos mais tarde de uma primeira internação em Porto Alegre foi diagnosticado um diabetes e uma grave doença no fígado, cirrose hepática. Seu abdômem acentuado desde a infância já denunciavam sua enfermidade, que por falta do tratamento adequado só agravou-se. Seu desenvolvimento não era como das outras crianças, a subnutrição era evidente no seu corpinho mirrado de adolescente de 18 anos e sua feição, ao mesmo tempo tranquila e triste se contradiziam. No corpo pequeno parecia uma criança por volta dos 10 anos e no rosto marcas de expressão que demonstravam de forma nua e crua o seu sofrimento e os sacrifícios porque tinha passado.
Tatá nunca recebeu tratamento especial de sua mãe, muitas vezes o medicamento obrigatório não era comprado por falta de dinheiro e por descuido mesmo, pra não dizer puro desinteresse. A alimentação que devia ser diferenciada, balanceada e respeitada era segundo plano na casa. Era ela mesma quem lutava com as panelas, fazendo a suas refeições e do restante da família. Tudo era mal cuidado, sua saúde, a casa não tinha higiene adequada, a comida não era separada, a insulina faltava, tudo indicava que aquela fuga do hospital de Porto Alegre era um indício de que a mãe não tinha nenhum interesse pela filha. Ou melhor, que para a mãe apenas suas necessidades eram importantes e estar com uma filha em outra cidade, longe de suas "prioridades", não era legal.
Não foi legal permitir que uma criança sofresse calada, com aquele sorriso singelo, com seu comportamento sempre sem revolta. A mãe não estendia a mão para a própria filha, ela nunca cumpriu o seu papel de mãe. Mas Tatá era abnegada, tal como a descreveu uma amiga, era um anjo que estava sempre pronta para ajudar, sempre tinha um sorriso guardado para cada um que lhe chegava.
A gravidade da sua enfermidade ia aparecendo a cada dia. Sua barriga ia crescendo sempre e sempre, a alimentação era precária, mas ela não desistia. Foi internada numa outra vez. O caso havia agravado demais. O sorriso ainda estava mantido em seus lábios, mesmo no momento mais crítico, mesmo com a possibilidade de morte prestes a acontecer.
Como disse, esta é a história de duas meninas, que nunca se conheceram, que tinham pouca diferença de idade, mas que apesar de algumas semelhanças tem algo oposto em suas escolhas. Laila é uma menina que nasceu de uma relação de amor, embora por algum tempo, talvez ela tenha pensado que não. Sua história também é trágica em alguns pontos. Logo aos primeiros anos de vida perdeu o pai num acidente de motocicleta. Um ano depois sua mãe cometeu suicídio. A causa não é sabida. Dizem que há ou havia um diário, mas não houve carta de despedida. Foi então com seis para sete anos que ela foi para a casa dos avós paternos. É óbvio que a situação não era a mais agradável, afinal agora ela era uma órfã. Mas estava sendo recebida na casa de seus avós, familiares queridos, com quem sempre convivera. Para os avós a situação também não era a mais tranquila, de um lado havia uma avó, cheia de dor e tristeza pela perda de dois filhos; e de outro o avô, também sofrido.
A criança chegou numa casa pronta, aonde ela não era mais o centro das atenções, haviam outras crianças, havia outra constituição de família. As coisas não foram fáceis. Os adultos não sabiam como agir, o que fazer. Ela por sua vez, não se sentia parte daquele lugar. Não entendia o que e porque tudo aquilo havia acontecido com ela. Justo com ela.
Mal ou bem, frustrando as expectativas ou atendendo ela foi acolhida pela sua família. Nunca lhe faltou alimento, jamais lhe faltou moradia, roupas, incentivo para a escola ou o trabalho. No entanto, Laila buscava outras coisas. Seu modo quieto e tímido demonstravam uma superficial tranquilidade e aceitação resignada. Mas por dentro ninguém sabia o que se passava. Sua saúde física era ótima, mas talvez emocionalmente as coisas estivessem prejudicadas.
Enquanto Tatá precisava lutar pela sua saúde, esforçar-se para conseguir uma boa alimentação, cuidar da casa e dividir suas coisas com vários irmãos. Laila tinha tudo, a saúde, uma boa casa, valores em dinheiro guardado, alimentação nas horas certas. Mas uma lutava para sobreviver e a outra não tirava da mente a intensa vontade de morrer. No hospital Tatá sorria enquanto a vida se esvaia de suas veias. Laila foi levada para o pronto socorro para que lhe fosse injetado vida, mesmo que sua vontade fosse de dormir sem precisar acordar. Ela se negava a viver, acorda, dorme, toma banho, faz as coisas mas por obrigação. Sua opção foi agir como se já estivesse morta, enclausurada em seu quarto. Tatá por seu lado queria muito poder sair, sentir o calor do sol.
Uma escolheu viver, mesmo que aquilo fosse por poucos momentos, o importante era viver intensamente, sentir sua vida pulsando nas veias. A outra queria que tudo que fosse vivo em seu corpo se esvaísse, que o coração pulsasse pela última vez. Uma sorria apesar da certeza de que não viveria mais por muito tempo. A outra chorava por não entender como não conseguia dar cabo de sua própria vida. Uma acreditava ser amada apesar de tudo dizer o contrário. A outra queria um amor que jamais poderia voltar a ter e mesmo que muitos lhe demonstrassem amor ela preferia não o receber. Uma partiu jovem, deixou pessoas tristes e gente culpada porque acreditava que devia ter feito algo, que precisava ter feito mais por ela. A outra não queria que ninguém fizesse nada, porque nada do que fizesse mudaria o que ela sentia dentro. Não havia explicação do que se passava com ela, não compreendia e não entendia como explicar seus sentimentos.
Duas meninas, duas histórias e duas escolhas. Cada uma das gurias fez uma escolha para suas vidas e mesmo que se esforçassem para que acontecesse suas escolhas aconteceram ao contrário. Quem queria viver desencarnou jovem. Quem queria morrer foi salva. Talvez não fosse a demonstração de amor que ela quisesse ter. Talvez ela pense que aquilo foi feito por obrigação, por culpa e ela não queria aquilo. Cada uma agiu de uma forma, tomou a sua decisão. Mas nem tudo saí como a gente escolhe. É difícil não comparar, uma não tinha nada e a outra tinha tudo. Uma tem a vida pela frente a outra, é hoje apenas lembrança.