quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Compaixão

Não estou repassando notícias que considero negativas. Tá acontecendo tanta coisa louca nestes últimos tempos que resolvi só ler. Quando me choco, reflito e tento não me contaminar. No entanto, uma notícia que li hoje me fez muito mal, porque é uma má interpretação, é um equívoco e as pessoas precisam saber que, como em todas as religiões, no espiritismo também existem pessoas que não são tão legais quanto deveriam, afinal escolheram uma doutrina que visa EM PRIMEIRO LUGAR A REFORMA ÍNTIMA DO INDIVÍDUO QUE A SEGUE. Esclarecido isto, preciso dizer que fiquei envergonhada de uma pessoa se dizer espírita e falar tantas barbaridades a mãe de uma menina de sete anos vítima de estupro, além de se recusar a atendê-la.
Gente, primeira coisa, muito importante que a médica não compreendeu na doutrina, talvez porque não tenha estudado, ou talvez porque tenha entendido mal, não importa, a compaixão e o amor são as bases da doutrina, Jesus nos ensinou isto.
Depois é necessário esclarecer que:
1º Sim, nós vivemos muitas encarnações, pra quem acredita isto é fato, para quem não acredita, não devemos impor, é a nossa escolha e o livre arbítrio deles. A Doutrina ensina isto "doutora"!
2º Cada situação vivida por nós pode ser (geralmente é) efeito de uma causa anterior, mas ninguém olha pra outra pessoa e diz, sem o mínimo de empatia e compaixão pelo irmão, "que a culpa de tudo aquilo é dela". Até porque Deus é misericordioso e nos permite esquecer as outras existências para melhor vivermos na atual. Cada resgate dos erros passados pode se dar de uma forma, cada caso é um caso, não tem regra e nem estatuto que diz "matou vai ser assassinado, foi estuprador será estuprado". Mas é uma visão dentro do espiritismo, para muita gente isto não passa de fantasia, de ópio para aceitar as coisas sem revolta. E antes de qualquer coisa um ser humano deve ver o outro como ser humano também. Ela devia ter exercido seu papel de médica e fim. E como espírita devia ter acolhido mãe e filha encaminhando para o auxílio psicológico de que necessitavam. A orientação religiosa só pode ser dada se solicitada.
3º Ninguém nasce para fazer o mal ou para sofrer o mal. A nova existência é uma nova oportunidade de recomeçar e fazer tudo certo, nos tornando pessoas melhores. Pode acontecer de errarmos, somos humanos! Lamento dizer "doutora", mas acho que a senhora tá precisando rever as bases da Doutrina Espírita e começar a sua reforma interior, não se preocupe, não vou lhe atacar como fez com a menina de sete anos atribuindo a ela a culpa do estupro que sofreu, mas repense suas atitudes como um bom espírita faria.
4º Ninguém tem o direito de dizer coisas sobre uma encarnação anterior, seja verdade ou puro devaneio, pra ninguém, a menos que a própria pessoa busque estas lembranças. Ainda assim, só lembrará o que lhe for permitido. A lei do esquecimento nos protege.
"Doutora" sei que a senhora é alguém estudada, formada em medicina, especialista em pediatria, vou lhe dar um conselho, se quiser aproveitá-lo faça, se não, é só jogar fora. Mas além de rever as bases da Doutrina Espírita a senhora deveria se analisar, nada é preto no branco como disse. Faltou prestar atenção ao nosso mestre Jesus o cara com maior compaixão de que se ouviu falar, ele acolhia os pobres, os miseráveis, os deserdados, aqueles que estavam agindo errado, porque acreditava que eram estes que mais necessitavam do seu amor. Acorde enquanto é tempo, desça do seu pedestal de "médica pediatra espírita" e comece a praticar a humildade, o amor e a compaixão, afinal de contas, sendo espírita tem consciência de que a sua ação em relação a mãe e a esta menina terão uma reação no futuro.
Àqueles que não são espíritas eu peço perdão! Peço perdão a este menina e a mãe dela! Nossa Doutrina é perfeita, no entanto os espíritas são imperfeitos! Fico profundamente triste em saber que alguém teve coragem de dizer uma coisa destas num momento de sofrimento e dor de um irmão. Perdoem, sei que é difícil!

Um comentário:

MARCELO disse...

Minha cara. A atitude da médica é padrão dentro da doutrina.É o preço que se paga por se levar a ferro e fogo ideias com "lei de causa e efeito" ou "ação e reação". Oriundas da física, são transpostas para as situações humanas sem o menor senso crítico. Soma-se a isto a importação do conceito de "carma" que tem diversas conotações nas tradições hinduísta e budista, mas é apreendida de forma superficial (por falta de informação ou propositalmente, ou talvez ambas) pelos espíritas e associado mecanicamente à física newtoniana. A consequência de tudo isto é a simplificação da realidade, banalização e naturalização do sofrimento humano. Basta ler e ouvir o que oradores espíritas muito idolatrados como Ricardo de Bernardi e Adão Nonato, profissionais da saúde, pronunciam a respeito de casos como esses. Não são de forma alguma diferentes da médica do Mato Grosso.Basta pesquisar. Não é de se admirar a imagem negativa que muitos tem do espiritismo, uma doutrina conformista, indiferente ao sofrimento concreto e subjetivo das pessoas, e, onde o recurso à caridade e pieguice das consolações, serve apenas para amenizar esta falta de empatia. A violência sexual e seus desdobramentos sempre foi algo constrangedor para o espírita, que só pensa a partir de esquemas pré-determinados. Assunto que, no tempo de Kardec ficava predominantemente restrito a um círculo de médicos e juristas, inexiste na codificação. Daí a sensação de andar no fio da navalha quando algum espírita é confrontado com o assunto, ou tenta ser "original" e "fiel à doutrina", isto é, despejando as insanidades que a pediatra fez, ou adotando a frieza habitual, considerando o caso como mais um"aprendizado" que a vítima deve suportar para sua "evolução", dissimulando sua alienação da vida concreta. Os poucos espíritas com uma capacidade de autocrítica e de observar a realidade além do próprio umbigo parecem se envergonhar do que aconteceu, porém, ao mesmo tempo, desejam que o assunto seja logo esquecido. Se os adeptos do espiritismo tem realmente a pretensão de se afirmar que sua doutrina é "ciência" e "filosofia", além da religião com características igrejeiras que na maioria dos casos acabou se tornando, precisam prestar mais atenção em casos como esses e, publicamente, contestarem barbaridades como esta. Pelo bem da sociedade brasileira, tão calejada de violência e da própria religião que seguem.