Tem coisas que escutamos na infância e juventude e pensamos... "gente! Isso não faz sentido nenhum!". Mas, com o passar dos anos aquilo toma forma e praticamente se desenha na tua frente, fazendo com que, algo sem sentido algum, fizesse total sentido! Apenas, não estávamos maduros (ou preparados) para entender aquela complexidade. Com certeza, coisas que escutei na minha infância e adolescência (ditados, músicas e frases da minha mãe) hoje, sou mãe fazem muito mais sentido.
Tem uma que li num livro de língua Portuguesa que era "ser mãe é padecer no paraíso"! Tem algo mais contraditório do que isso?! Até tem, mas no universo materno é muito real! 😂Pense na porção de saias justas que a gente passa! Imagina o tanto de coisa que temos que explicar e ouvir com cara de paisagem! Sim, porque para manter a conexão e o diálogo com a criança que futuramente será adolescente, essa é a cara padrão para conseguir falar sobre todos os assuntos possíveis. Até os mais dolorosos.
Minha mãe é catedrática, essa frase o Manuel Jesus diria que veio direto de algum livro do Machado de Assis tamanho o cheiro de mofo! Mas sim, minha mãe era catedrática na cara de paisagem! Ela escutava toda sorte de abobrinhas e histórias e relatos que eu lhe contava quando adolescente. Eu contava tudo que me acontecia com mínimos detalhes! Falava sobre meus sentimentos e também comentava sobre as coisas que minhas amigas faziam, dos namoros, das aulas que eram matadas, enfim... E ela escutava pacientemente! Sempre perguntava se eram mesmo as minhas amigas que estavam matando aula, se eu não estava junto, se eram mesmo só elas que estavam namorando. Na voz dela não tinha repreensão. E isso me deixava tranquila para falar sem medo. Hoje percebo, em tempos que muitos filhos estão conversando só com chats de inteligencias artificiais, ou com pessoas desconhecidas através da tela, o quanto a abertura que ela me deu me protegeu de muitas coisas. Coisas que sei, muitas amigas minhas passaram, e que o olhar experiente da minha mãe me alertava quando eu, despretenciosamente, contava do meu dia a dia. E por isso sempre contei os acontecimentos do dia.
Com a minha filha passei alguns momentos de nó na garganta. Nó que tive que engolir e digerir para poder passar para ela todo o meu amor ao explicar e responder suas dúvidas sobre seu genitor. A primeira vez ela me falou meio triste que "ela não tinha pai". Minha vontade inicial foi "é tu não tens pai mesmo!", mas esse impeto passou e respondi que ela tinha sim. Que ele estava longe, disse como é o nome dele e falei que quando ela estava na minha barriga a gente não estava mais namorando, que ele sabia do nascimento dela e quando pudesse vê-la viria. Confesso que falei tudo isso com os olhos cheios d'água e as lágrimas rolaram quando ela falou: "Mamãe, um dia ele vai bater na janela, a gente vai abrir a porta e ele vai me abraçar e dizer que saudade minha filha!". É, foi difícil! Mas consegui segurar o choro descompensado, porque sempre penso nas possíveis perguntas que ela vai me fazer e vou congecturando as maneiras que poderei responder, de forma que ela não se sinta rejeitada.
São momentos delicados, que me fazem entender aquele ditado lá de cima. Porque a única certeza que tive quando me tornei mãe, quando soube que estava grávida é que eu amava aquele serzinho que eu nunca tinha visto neste plano. As dificuldades que podem surgir serão superadas na força do amor! Fui e sou muito amada e aqui neste meu peito tem muito amor e farei tudo o que puder para que a minha filha se sinta a criança mais amada deste mundo!
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