quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Mocinha

Existem pessoas que quando conhecemos sua história de vida pensamos: "como ela aguenta?". São vidas atribuladas, cheias de problemas e percalços, de luta e de força. Estas pessoas são exemplo de persistência e de coragem. A minha amiga Mocinha é uma destas pessoas. Ele criou sozinha quatro filhos. Teve a ajuda da mãe, mas o trabalho grosso, como se diz, foi todinho dela. Sempre trabalhando como faxineira e ralando muito para garantir a bóia para ela e seus filhos. Lembro-me dela sempre com seu jeito louco e espevitado, contando de um namorado que tinha, de quem gostava muito e com quem se encontrava nos lugares mais absurdos para namorar.
Com os filhos já crescidos, criados, imaginou que iria descansar, que teria tranquilidade na sua vida. Foi quando teve a Juju, os filhos já estavam grandes e ela teve outra menina linda. A vida parecia tranquila, mas não. Um de seus filhos, depois de adulto caiu no vício das drogas. E os entorpecentes como sabemos entorpece o usuário e destrói a vida de toda uma família. O drama de vida da Mocinha não a fez fraquejar nenhum pouco, pelo contrário, a fez mais forte. Este mesmo filho teve dois filhos, com uma guria com problemas mentais. Tanto o pai, quanto a mãe das crianças não tem condições de ter o pátrio poder. Para não deixar as crianças em abrigos ou ir para adoção a Mocinha pediu a guarda das crianças. Teve coragem de pegar os netos, mesmo estando criando sua filha, também pequena. Juju, Juca e Cacá, três crianças e uma mulher que não mede esforços para dar tudo do melhor para eles.
A luta diária para tentar fazer com que seu filho deixe o "crack" é incessante. Com tantas dificuldades para controlar este filho acabou com depressão e outros problemas de saúde. Os outros três filhos estão bem, trabalham, casaram, alguns já tem filhos. Mas este... ah! este lhe dá trabalho, principalmente sob efeito da droga, quando perde a noção e a agride.
Sua vida se resume a cuidar dos netos e buscar auxílio junto aos órgãos competentes (ou talvez nem tanto) para internar o filho dependente químico. Outra questão que a aflige é o fato do neto, hoje com quase sete anos, ter uma doença mental. Por causa da idade, na escolinha em que está matriculado não poderá continuar no ano que vem. Seu drama é saber como poderá trabalhar se o menino não estiver na escola e que escola o aceitará tendo tais dificuldades? Mas ela não desiste, lá vai batendo de repartição em repartição em busca de ajuda e solucionando seus problemas. Quando seus direitos não são respeitados ela briga, diz que apesar de analfabeta sabe quais são seus direitos. E diz na cara das pessoas, que elas não se importam com os pobres, com quem tá precisando de ajuda.
Outro dia ela me contou que numa repartição chamaram a viatura da BM para levá-la por que estava desacatando o servidor. No entanto ela queria que resolvessem o problema da escola do neto, que a mandassem para o médico, que encaminhassem para consulta. E como não sabe fazer valer seu direito sem brigar e como em muitos lugares sabemos que os funcionários não dão atenção há quem não anda bem vestido e fala pomposamente, ela foi de viatura para casa.
Apesar de tanto problema em sua vida, de ter que lutar sempre, de ter que "matar um leão por dia" Mocinha não perdeu o sorriso fácil e nem seu jeito espontâneo. E ao encontrar um amigo abre seu riso, hoje já faltando alguns dentes, um pouco cansado de tanta luta, mas cheio de esperança. Apesar de tudo.

PS.: Esta é uma história real, os fatos não foram inventados, mas o nome das crianças foram mudados. Embora pareça peça de ficção todo o drama é real, tanto o filho dependente químico como o neto doente.

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