O tio da pipoca, ou o tio do picolé. Não importa, ele vende alegria em saquinho ou no palito e isto é que é importante. Para consumir esta alegria, ou melhor para sentir tudo isto, basta deixar a criança interior falar.
Este tio é meu amigo de muito tempo! Quando eu estudava no CAVG ele sempre ia, inverno e verão, vender suas alegrias em porção. No inverno pipoca quentinha! No verão sorvetes e picolés.
Agora ele está trabalhando na frente do colégio Gonzaga. Continua comercializando os mesmos produtos, pequenas alegrias para pequeninos clientes. Sempre que passo por ali bato um papo com ele.
E a ideia sempre se reforça, como pode tanta alegria caber em um saquinho!
Contos de todo o tipo, historinhas da vida real, crônicas do cotidiano, contos, sonhos e desejos, todos mudando conforme as fases da lua.
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Se eu fosse a Geni...
Estava contando a uma amiga uma situação que me aconteceu. O término de um "caso amoroso" no qual eu estava no caso e o outro não. Por um tempo as coisas me satisfaziam, mas faltava alguma coisa, eu queria mais, mas ele não queria o mais comigo. Sou muito honesta comigo e com os outros, então amigavelmente contei o que sentia por ele e como estava insatisfeita com o desamor que recebia. Queria que fosse de outro jeito ou não seria de jeito nenhum, no final das contas eu estava sozinha (mesmo acompanhada).
Ele então me perguntou com certo desdém: "tu queres namorar?". Na hora nem tive o insight. Só respondi que sim e se havia algo errado nisto.
Muitos meses, talvez anos, a sinapse se completou e me senti ainda triste, me senti uma Geni, que serve pra muita coisa (pra cuspir, pra transar, pra pegar na rua, pra salvar a cidade), mas não serve pra ser a mulher de alguém ou a namorada. Só que eu não sou Geni, humilde e boa, porque sim ela é cheia de bondade e é resignada. Ela engole "seu capricho" e pelo bem de todos se deita com o general ainda que preferisse "amar com os bichos", salvando a cidade que tanto a maltratava. Eu pensei... se eu fosse a Geni vocês estavam f****** porque eu diria pro general, joga logo uma bomba na cidade pois não vou deitar contigo.
Adoro Chico Buarque, desde criança. Vivia cantando "Morena de Angola" pela casa e dançando que nem doida como se tivesse os chocalhos amarrados nas canelas. A gente nunca cantava "Geni e o Zepelim" por causa da minha tia Geni. Eu não entendia porque, afinal a Geni era a heroína da cidade, salvava todo mundo apesar da ignorância e da ingratidão daquele povo cretino e hipócrita.
Entendia menos ainda a resignação (mas eu não sabia que esta era a palavra) e a humildade da Geni. Não compreendia como podia se submeter a tais afrontas e absurdos, colocar-se tão abaixo sendo ela muito melhor do que todos aqueles poderosos que foram em romaria a sua casa beijar sua mão e pedir pela sua salvação. Muito tempo depois fui perceber que isto é uma característica das pessoas genuinamente boas.
Geni é muito melhor que eu também. Porque se fosse eu no lugar dela não salvaria ninguém daquele lugar. Mas Geni "ela é um poço de bondade", eu não. E ainda que pague o preço de tais decisões prefiro a consciência tranquila e a paz de espírito de me respeitar (já que outros não respeitam) a ter minha mão beijada num dia e receber uma cusparada no outro. Disse pra minha amiga que se eu fosse a Geni entrava no Zepelim e ajudava o general a acabar com a cidade. Mas sabendo da essência de bondade dela acho que agiria muito mal fazendo isto... é que ela é muito melhor que eu. Ela é muito melhor que muitos de nós.
Quanto ao meu caso... não, não joguei uma bomba do zepelim na cabeça dele não. Acabou e (para seguir com a trilha do Chico Buarque) pude ver a cara dele "ao sentir que sem ele eu passo bem demais/ E que venho até remoçando"...
Ele então me perguntou com certo desdém: "tu queres namorar?". Na hora nem tive o insight. Só respondi que sim e se havia algo errado nisto.
Muitos meses, talvez anos, a sinapse se completou e me senti ainda triste, me senti uma Geni, que serve pra muita coisa (pra cuspir, pra transar, pra pegar na rua, pra salvar a cidade), mas não serve pra ser a mulher de alguém ou a namorada. Só que eu não sou Geni, humilde e boa, porque sim ela é cheia de bondade e é resignada. Ela engole "seu capricho" e pelo bem de todos se deita com o general ainda que preferisse "amar com os bichos", salvando a cidade que tanto a maltratava. Eu pensei... se eu fosse a Geni vocês estavam f****** porque eu diria pro general, joga logo uma bomba na cidade pois não vou deitar contigo.
Adoro Chico Buarque, desde criança. Vivia cantando "Morena de Angola" pela casa e dançando que nem doida como se tivesse os chocalhos amarrados nas canelas. A gente nunca cantava "Geni e o Zepelim" por causa da minha tia Geni. Eu não entendia porque, afinal a Geni era a heroína da cidade, salvava todo mundo apesar da ignorância e da ingratidão daquele povo cretino e hipócrita.
Entendia menos ainda a resignação (mas eu não sabia que esta era a palavra) e a humildade da Geni. Não compreendia como podia se submeter a tais afrontas e absurdos, colocar-se tão abaixo sendo ela muito melhor do que todos aqueles poderosos que foram em romaria a sua casa beijar sua mão e pedir pela sua salvação. Muito tempo depois fui perceber que isto é uma característica das pessoas genuinamente boas.
Geni é muito melhor que eu também. Porque se fosse eu no lugar dela não salvaria ninguém daquele lugar. Mas Geni "ela é um poço de bondade", eu não. E ainda que pague o preço de tais decisões prefiro a consciência tranquila e a paz de espírito de me respeitar (já que outros não respeitam) a ter minha mão beijada num dia e receber uma cusparada no outro. Disse pra minha amiga que se eu fosse a Geni entrava no Zepelim e ajudava o general a acabar com a cidade. Mas sabendo da essência de bondade dela acho que agiria muito mal fazendo isto... é que ela é muito melhor que eu. Ela é muito melhor que muitos de nós.
Quanto ao meu caso... não, não joguei uma bomba do zepelim na cabeça dele não. Acabou e (para seguir com a trilha do Chico Buarque) pude ver a cara dele "ao sentir que sem ele eu passo bem demais/ E que venho até remoçando"...
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Nó
Tem dias que o nó aperta!
No cadarço,
na gravata...
na garganta,
no estômago,
nas tripas,
no peito.
E só afrouxa quando a lágrima rola,
o suspiro desamarra o grito que escapa,
o pé fica descalço,
a gravata sai da gola.
Tem dias que se sente o cansaço,
que se sente a saudade,
que parece faltar um pedaço.
Ás vezes falta um laço,
falta força, falta ar,
quando o nó aperta demais
precisamos lembrar que somos mais,
temos que lembrar que somos nós.
No cadarço,
na gravata...
na garganta,
no estômago,
nas tripas,
no peito.
E só afrouxa quando a lágrima rola,
o suspiro desamarra o grito que escapa,
o pé fica descalço,
a gravata sai da gola.
Tem dias que se sente o cansaço,
que se sente a saudade,
que parece faltar um pedaço.
Ás vezes falta um laço,
falta força, falta ar,
quando o nó aperta demais
precisamos lembrar que somos mais,
temos que lembrar que somos nós.
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Releituras
Reler alguma coisa sempre se pressupõe um conhecimento prévio. Já se sabe do que trata o texto, o livro, a pessoa. Embora eu ame muitos livros de paixão, poucos são aqueles que eu releio. Aos que volto, volto pelo prazer descarado de reencontrar aquelas personagens. Sim, assim como eu "amarro" a leitura para não ter que me separar deles quando percebo que o livro está nas páginas finais, alguns volto a ler só pra encontrar aqueles personagens, lembrar que havia criado um som pr'aquela risada, um cheiro pr'aquela cena, um frio na barriga pr'aquela tórrida noite de amor.
Com o grupo de literatura, que criei com algumas amigas, acabei relendo este ano três livros. Livros que amei ler e reler também. Até pensei que sentiria as mesmas coisas em relação as personagens. Mas me surpreendi. N'algumas releituras me apaixonei ainda mais por alguns personagens, vi situações de forma mais clara noutras e até simpatizei com certas características de outros.
O primeiro foi O pequeno príncipe, que já reli inúmeras vezes sem nenhum motivo externo, só a vontade de "ouvir" novamente a risada gorda do principezinho! A primeira vez que o li era criança ainda e não lembro bem o que pensei a respeito. Das primeiras vezes que reli sempre fiquei com uma ideia que já tinha, mais a respeito de tudo que o principezinho trazia é que tínhamos que refletir, pensar, filosofar. Como se ele fosse uma pessoa adulta, só que com aparência de criança. Acho que a ideia de filosofar me levou pra isto. Desta última compreendi o entendimento daquele príncipe guri sobre a vida, o nosso aprendizado na terra e principalmente enxerguei a questão espiritual. Uma ideia que me veio de que Exúpery sabia que o espírito é imortal e como diz no livro o corpo é só uma casca pesada que não nos permite voar de volta pro nosso pequeno asteroide. Não tive nenhuma nova impressão sobre o livro, apenas acrescentei questões que não captei das outras vezes pela minha própria imaturidade na época. Compreendi claramente a importância de cuidar muito bem da nossa criança interior, pois é ela que nos impulsiona na busca da felicidade e dos nossos sonhos. É quem nos encoraja!
A segunda releitura foi O amor nos tempos do cólera. Havia lido há bastante tempo. Pensava, até concluir a leitura, que minha interpretação do livro estava equivocada, porque nunca percebi o amor de Fermina Daza e Florentino Ariza como aquele amor a que o título se refere. Pelo contrário, sempre vi, da parte do Florentino uma obsessão pela mulher, que ficava em suspenso a cada caso que começava desde a gloriosa noite em que foi abusado no navio. Dela nunca percebi muito amor ou mesmo carinho por ele.
Para mim O amor nos tempos do cólera é a construção do bonito amor entre Juvenal Urbino e Fermina Daza. Em nenhuma das duas leituras me senti atraída por Florentino! Acho-o fraco, ainda que profundamente apaixonado. Mesmo que se entregue as paixões sem medo ou reservas.
Sem dúvida é uma linda história de amor, ou melhor duas, ou várias.
Minha intenção não é criticar nada, pois não sou crítica literária ou de cinema. E não critico nenhuma vírgula do que Gabo escreveu. Amo sua forma de escrever! Sou fã incondicional! Ainda que não tenha me apaixonado por Florentino Ariza, como me apaixonei por José Arcádio Buendía gostei muito de várias lições do livro, entre a mais importante é que NÃO HÁ IDADE PARA O AMOR.
Comparando com o filme confesso que fiquei decepcionada. Muitas coisas que considerei super importantes no livro se quer foram citadas no filme. Personagens importantes foram ignorados!
Atualmente estou relendo O caçador de pipas. Da primeira vez que li tive uma visão de tudo, principalmente do egoísmo e ciúme de Amir em relação a Hassan, muito diferente da que estou tendo hoje. Fui surpreendida pela História dos afegãos, pela visão de uma criança afegã, da atuação dos russos naquele território, a violência da guerra, os preconceitos e o ódio tão arraigado contra pessoas minimamente diferentes entre si. E além de todos os grandes problemas dos adultos (que afetavam também as crianças que não entendiam direito tudo aquilo de política), ainda tinha as coisas da infância, as necessidades de crescer, aprender, estudar, brincar e os garotos maiores que sempre amedrontavam os pequenos.
Sinto o mesmo peso no peito em relação aos abusos e sofrimentos vividos por Hassan. E, ainda que veja Amir mais egoísta, também compreendo os motivos que o levam a tal egoísmo e a angústia que sentia por se sentir mau. Mas ainda não chorei, como pensei que choraria de novo.
Os três livros são muito bem vistos literariamente. O primeiro um clássico da literatura. O segundo chega a ser dos mais cultuados pelos fãs de Gabriel García Márquez, mas meus favoritos dele são outros. E o terceiro um retrato da nossa história recente. Sim, da nossa história, pois o mundo é a nossa casa. Mesmo que ignoremos o que aconteceu no beco escuro por medo ou vergonha, ainda assim o acontecimento irá mexer conosco.
Estou amando o grupo de literatura, os livros, os filmes, os debates e as conversas sobre os livros e os autores. Ler é um ótimo exercício! Tenho uma "pequena" lista de releituras, entre elas Cem anos de solidão, mas como ainda tenho muitos livros que são as primeiras leituras estou cultivando a saudade dos Buendía.
Com o grupo de literatura, que criei com algumas amigas, acabei relendo este ano três livros. Livros que amei ler e reler também. Até pensei que sentiria as mesmas coisas em relação as personagens. Mas me surpreendi. N'algumas releituras me apaixonei ainda mais por alguns personagens, vi situações de forma mais clara noutras e até simpatizei com certas características de outros.
O primeiro foi O pequeno príncipe, que já reli inúmeras vezes sem nenhum motivo externo, só a vontade de "ouvir" novamente a risada gorda do principezinho! A primeira vez que o li era criança ainda e não lembro bem o que pensei a respeito. Das primeiras vezes que reli sempre fiquei com uma ideia que já tinha, mais a respeito de tudo que o principezinho trazia é que tínhamos que refletir, pensar, filosofar. Como se ele fosse uma pessoa adulta, só que com aparência de criança. Acho que a ideia de filosofar me levou pra isto. Desta última compreendi o entendimento daquele príncipe guri sobre a vida, o nosso aprendizado na terra e principalmente enxerguei a questão espiritual. Uma ideia que me veio de que Exúpery sabia que o espírito é imortal e como diz no livro o corpo é só uma casca pesada que não nos permite voar de volta pro nosso pequeno asteroide. Não tive nenhuma nova impressão sobre o livro, apenas acrescentei questões que não captei das outras vezes pela minha própria imaturidade na época. Compreendi claramente a importância de cuidar muito bem da nossa criança interior, pois é ela que nos impulsiona na busca da felicidade e dos nossos sonhos. É quem nos encoraja!
A segunda releitura foi O amor nos tempos do cólera. Havia lido há bastante tempo. Pensava, até concluir a leitura, que minha interpretação do livro estava equivocada, porque nunca percebi o amor de Fermina Daza e Florentino Ariza como aquele amor a que o título se refere. Pelo contrário, sempre vi, da parte do Florentino uma obsessão pela mulher, que ficava em suspenso a cada caso que começava desde a gloriosa noite em que foi abusado no navio. Dela nunca percebi muito amor ou mesmo carinho por ele.
Para mim O amor nos tempos do cólera é a construção do bonito amor entre Juvenal Urbino e Fermina Daza. Em nenhuma das duas leituras me senti atraída por Florentino! Acho-o fraco, ainda que profundamente apaixonado. Mesmo que se entregue as paixões sem medo ou reservas.
Sem dúvida é uma linda história de amor, ou melhor duas, ou várias.
Minha intenção não é criticar nada, pois não sou crítica literária ou de cinema. E não critico nenhuma vírgula do que Gabo escreveu. Amo sua forma de escrever! Sou fã incondicional! Ainda que não tenha me apaixonado por Florentino Ariza, como me apaixonei por José Arcádio Buendía gostei muito de várias lições do livro, entre a mais importante é que NÃO HÁ IDADE PARA O AMOR.
Comparando com o filme confesso que fiquei decepcionada. Muitas coisas que considerei super importantes no livro se quer foram citadas no filme. Personagens importantes foram ignorados!
Atualmente estou relendo O caçador de pipas. Da primeira vez que li tive uma visão de tudo, principalmente do egoísmo e ciúme de Amir em relação a Hassan, muito diferente da que estou tendo hoje. Fui surpreendida pela História dos afegãos, pela visão de uma criança afegã, da atuação dos russos naquele território, a violência da guerra, os preconceitos e o ódio tão arraigado contra pessoas minimamente diferentes entre si. E além de todos os grandes problemas dos adultos (que afetavam também as crianças que não entendiam direito tudo aquilo de política), ainda tinha as coisas da infância, as necessidades de crescer, aprender, estudar, brincar e os garotos maiores que sempre amedrontavam os pequenos.
Sinto o mesmo peso no peito em relação aos abusos e sofrimentos vividos por Hassan. E, ainda que veja Amir mais egoísta, também compreendo os motivos que o levam a tal egoísmo e a angústia que sentia por se sentir mau. Mas ainda não chorei, como pensei que choraria de novo.
Os três livros são muito bem vistos literariamente. O primeiro um clássico da literatura. O segundo chega a ser dos mais cultuados pelos fãs de Gabriel García Márquez, mas meus favoritos dele são outros. E o terceiro um retrato da nossa história recente. Sim, da nossa história, pois o mundo é a nossa casa. Mesmo que ignoremos o que aconteceu no beco escuro por medo ou vergonha, ainda assim o acontecimento irá mexer conosco.
Estou amando o grupo de literatura, os livros, os filmes, os debates e as conversas sobre os livros e os autores. Ler é um ótimo exercício! Tenho uma "pequena" lista de releituras, entre elas Cem anos de solidão, mas como ainda tenho muitos livros que são as primeiras leituras estou cultivando a saudade dos Buendía.
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