quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Desejar não é o mesmo que planejar

Algumas pessoas acham estranho uma mulher não planejar para sua vida casar e ter filhos. Mais estranho eu acho é que as pessoas creiam ser comum ou correto, ou normal, ou sei lá, que alguém planeje algo que depende, invariavelmente de outras pessoas. Sim, não posso planejar, simplesmente me casar com 25 anos, sendo que para tal é necessário que outra pessoa também o queira. Também não posso planejar ser mãe aos 26, pelo mesmo motivo. Sim, eu posso partir para uma produção independente, mas no caso precisaria de um parceiro eventual, ou de um doador. Em ambas situações não é possível realizar MEU PLANO sem que outra pessoa participe. E daí já acho que se outra pessoa está envolvida não pode ser MEU PLANO, deve ser NOSSO.
Uma coisa é desejar, é ter vontade de um dia casar e ter filhos. Outra bem diferente é planejar as coisas criando expectativas que talvez nunca venham a se realizar. Quando alguém me pergunta sobre casamento e filhos, geralmente destacando meu jeito com as crianças ou meu extinto materno latente, fico pensando na Susanita, amiga da Mafalda que já tem em mente com quem (profissão e status social) irá casar, quantos filhos terá e a profissão deles.
Tenho que rir porque pra mim a Susanita nada mais é que uma doida. Engraçadíssima! Mas conservadora e completamente maluca que na infância planejou sua vida de dondoca. Aliás, não planejou só a sua vida, mas também a dos filhos. E sofre com certas situações que podem vir a acontecer (ou não).
Veja bem, não tenho nada contra pessoas que desejam casar, ter filhos, cachorro, casinha branca com cerquinha. Apenas eu não tenho nenhuma lembrança de ter tido, algum dia na vida, estes desejos. Pra mim estas coisas não são metas ou planos. Acho que podem acontecer ou não.
É claro que numa sociedade ainda muito machista como a nossa o pensamento de que mulher é para ser do lar é muito presente. Para muitas mulheres (e vejam bem não concordo ou descordo) o casamento é a garantia de uma vida tranquila financeiramente, mesmo que tenha que se submeter a alguns caprichos machistas. Mas na minha casa, justamente para não necessitar sujeitar-se a outra pessoa, fui estimulada a estudar, ter uma profissão e buscar ser uma mulher independente e livre, para escolher o que bem quisesse para minha vida. Fui estimulada a buscar independência não só pela minha mãe, mas também pelo meu pai. É claro que as motivações deles são diferentes.
Eu gosto de criança e sem falsa modéstia sei que seria uma boa mãe, ou pelo menos tentaria ser a melhor possível. No entanto, sempre pensei no quão importante é para uma criança ter a presença do pai e da mãe na sua vida. E por isto a produção independente nunca me pareceu uma ideia muito plausível. Mas não tô falando de uma situação em que a mulher engravida, mesmo que sem se prevenir, sem querer. Caso acontecesse comigo assumiria certamente. Mas como sempre tive muito medo de que isto ocorresse tomava as precauções. E nas vezes em que tive uma dúvida, mesmo que remota, usei a pílula do dia seguinte.  Fui na farmácia comprei e tomei. Depois de saber que é um método abortivo fiquei com certo receio. Mas agora já foi. Talvez um dia eu venha engravidar, mas não tenho ideia se ocorrerá ou não. Não fiz nenhum planejamento a curto ou a longo prazo para isto. E acredito do fundo do meu coração de que se for pra ser, será no tempo certo. Neste momento não me sinto preparada, embora pareça e algumas pessoas achem que estou.
Quanto a casar com todo o ritual, a pompa e a circunstância, nunca fez meu gênero. Existe possibilidade de um não-casamento como lançou a ideia a Niara. Ou morar junto, ou namorar para sempre. Também não sei nem tenho ideia. Como espírita sei que devo ter planejado tudinho lá na erraticidade e como fui abençoada pelo dom do esquecimento deixo que as coisas aconteçam no momento que devem acontecer.
Desculpem o desabafo. Faz bastante tempo que rumino estas questões todas na minha cabeça e no meu coração e comigo pelo menos as coisas só ficam realmente claras quando as coloco no papel e definitivamente pra fora. Agora sim está tudo cristalino! ;)

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