Com estes dias de repouso pós-cirúrgico pude acompanhar algumas séries e até novelas de que gosto. Foi numa tarde destas, assistindo ao folhetim das 19h, Alto Astral que vi a personagem Tina, interpretada pela fantástica Elisabeth Savala conversando com Laura, personagem de Nathália Dill sobre a escolha de ter filhos, o tempo a fertilidade. Era uma fala sobre a terrível ampulheta da fertilidade, esta que marca nosso tempo, o tempo de validade das mulheres. Laura perguntou a Tina se ela nunca tinha querido ter filhos naturais. Tina é casada com Manuel, um viúvo pai de quatro filhos, que ela criou e ama como seus. A pergunta de Laura ela respondeu com uma naturalidade sincera e até sofrida. Tina explicou que quando casou os filhos de Manuel eram bem pequeninos e não dava para ter filhos e o tempo foi passando, foi passando, foi passando e quando ela viu não dava mais tempo.
Eu me vi nesta situação, e vi algumas amigas e muitas mulheres que não conheço mas que sofrem a pressão da ampulheta com suas areias escorregando e lembrando que o tempo está passando. Não casei com um viúvo pai de quatro crianças e creio que se tivesse participado de uma situação destas não sentiria necessidade, tal qual a Tina, de mais filhos. Porque filho adotivo é filho e ponto.
Então eu me vi nela. Eu não sei a resposta pra decisão de ter filhos. Quero, mas não sei, tenho dúvidas, tenho medo. Não tenho resposta! Mas sei que quero ter alguém me chamando de vó quando for velhinha, como não tenho filhos será difícil. Será que vou poder adotar caso o prazo de validade vença?
Minha médica já me disse que até os 38 anos as coisas são tranquilas, mas depois a ovulação fica mais escassa e a possibilidade de engravidar mais difícil. Uma vez, quando me perguntou se eu queria filhos eu estava sozinha. Da segunda o relacionamento era um pouco recente e tem toda uma série de decisões que não dependem só de mim. Mas a ampulheta descarrega a areia na minha cara, só na minha cara. Porque pra muitas pessoas a decisão é só minha. E se antes, antes da ampulheta estar com tão pouca areia eu tivesse decidido por minha conta e risco,sem perguntar a ninguém ter este filho, deixar a fertilidade agir, como tantas outras mulheres já fizeram "antes da hora" como me interpelariam? O que me diriam estes mesmos que me dizem para decidir já?
Jamais poderia decidir por uma produção independente e privar meu filho de ter amor e convivência com o pai. Eu não conseguiria ser feliz sabendo que meu filho quer respostas que eu talvez não pudesse ou não quisesse dar. Então eu deixei pra decidir depois. E agora tem esta história do tempo e a decisão do outro, por quem não posso decidir. Por isto deixei para decidir daqui a pouco, pra resolver depois, mais uma vez.
Por algumas vezes consigo ignorar a ampulheta da fertilidade, virar a cara pra ela. Outras vezes sinto um aperto no peito e não consigo evitar o choro. Sei que tenho amigas passando pelo mesmo sentimento, pelo mesmo momento, pela pressão e tortura desta ampulheta. Como creio que o tempo é o senhor da razão... e nada acontece fora do tempo certo... na devida hora tudo acontecerá.
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