Faz dias que não escrevo! Muitas coisas aconteceram e ao mesmo tempo eu sentia falta de assunto pra contar aqui. Então eu terminei hoje de ler o livro da Zélia Gattai e eu amei tanto que fiz muita propaganda pra todo mundo com quem eu conversei. E achei por bem, que deveria contar aqui mais um tiquinho do que li. Bem tiquinho, só pra vocês terem vontade de ler também.
Disse a minha sogra, que tenho certeza que se ela fosse escrever um livro de contos sua narrativa seria semelhante a de Zélia, cheia de pormenores e historinhas dentro da história maior. Acredito que ela contaria muita coisa interessante de sua vida lá no Capão do Leão, sua vinda pra Pelotas, além de várias histórias engraçadas que ela costuma nos contar nos encontros de família. Agucei o interesse dela e no outro dia da nossa conversa ela foi num sebo procurar alguma coisa da Zélia Gattai, encontrou Jardim de Inverno. Estou louca pra saber o que vai achar do livro!
Mas, voltando ao livro... O que mais amei foi poder estar tão próxima do Jorge e da Zélia. Saber de seus passeios e viagens, dos encontros com os amigos, que pra mim eram tão distantes como Pablo Neruda, por exemplo. Saber pelos olhos de Zélia sobre os tempos de ditadura militar no Brasil, coisa agora exaltada pelo atual presidente e seus eleitores. Perceber que eles se exilaram do país, mas nunca perderam a capacidade de amar o Brasil e que por onde passaram fizeram grandes amizades. Aliás, aprendi muito sobre amizade e amor neste livro! Fiquei um pouco mexida ao final quando Zélia conta o último encontro deles com Pablo Neruda e este lhe pediu: "não me pergunte por ninguém, já morreram todos"!
Uma vez ouvi alguém falar, numa entrevista da televisão, não sei se era Ariano Suassuna ou outro autor, que dizia que o preço de viver muito era ver todos aqueles que amamos partirem! Esse final do livro de Zélia é um pouco assim, cheio da saudade daqueles que se foram!
Mas não desistam de ler A casa do Rio Vermelho por este meu comentário, pois o livro todo é de uma leveza sem igual. Aliás, assim que percebo a autora, uma leveza, um sorriso nos lábios, um amor por seu Jorge, uma casa acolhedora para os amigos, seja onde quer que a casa estivesse Rio, São Paulo, Bahia ou Paris! Como costumava dizer o jardineiro deles, Zuca "Dona Zélia é tão interessante..."
É sim, interessante por demais!
Contos de todo o tipo, historinhas da vida real, crônicas do cotidiano, contos, sonhos e desejos, todos mudando conforme as fases da lua.
segunda-feira, 25 de março de 2019
quarta-feira, 6 de março de 2019
Vivendo a Bahia
Faz uns dias que estou vivendo na Bahia! Sim, na Bahia de Zélia Gattai e Jorge Amado!
Vejo a Salvador pelos olhos e lembranças de Zélia num período anterior a ditadura militar, posterior, durante e da época em que colocava as memórias no papel, lá pelos anos 90, contadas através das muitas histórias ocorridas na casa do Rio Vermelho. Tenho vivido entre artistas de todas as áreas nesta tão aconchegante casa da rua Alagoinhas, 33. São lembranças cômicas, outras tão ternas que sentimentos a emoção do momento, outras de fé, são memórias de todo o tipo que nos fazem sentir parte da família sentados na varando, ouvindo a máquina de escrever de Jorge e o miado do gato Nacib.
Já a Bahia de Jorge Amado é uma Bahia de luto, com um pelourinho repleto de homens e mulheres fortes, pelejando para que, como negros, fossem respeitados ali, naquele lugar que era tão deles quanto dos brancos com ideias anti-semitas retratada e interpretada lindamente em Tenda dos Milagres. Ontem assisti ao capítulo em que mestre Lídio é levado para prestar esclarecimentos sobre seu negócio ao delegado Francisco mata negros. Lembrava dessa cena vivamente! A ameaça de quebrar os dedos do artista, o espancamento, Zé Alma Grande seguindo a vida de capitão do mato perseguindo seus irmãos. Que agonia, que aperto no peito!
Minha memória de criança traz muito forte a emoção que senti ao assistir as cenas pela primeira vez. E minha memória mais antiga ainda, aquela das outras vidas, me faz sentir parte do terreiro de Magé Bassã! Lembro como a forma que a mediunidade dela acontecia, o jeito como enxergava o que viria a acontecer me encantava, apesar do certo medinho que acompanhava a possibilidade de uma visagem!
Confesso que não lembrava da história de Jerônimo e Rosa de Oxalá, tampouco lembrava de sua filha. Mas lembrava perfeitamente da Yaba! Acho que era pela beleza daquela mulher que surgia nua da cintura pra cima e com a cabeça raspada!
Essa Salvador nos encanta e ao mesmo tempo nos faz lembrar que não podemos parar de lutar. Hoje, vivemos momentos em que as pessoas pensam poder botar pra fora todo o preconceito contido em seus peitos. Ainda existe perseguição e racismo no nosso país! O mais triste é que é nas palavras e atitudes do presidente do país que estes preconceituosos acham apoio pra suas intolerâncias.
Acontece que esse povo de luta não se achica e não se entrega, dão sua vida pela liberdade, dão exemplos de amor e de solidariedade. E estes que lutam são a maioria! São eles que fazem as coisas mudar e acontecer. Tanto é verdade que no carnaval do Rio de Janeiro deste ano a escola campeã é Estação Primeira de Mangueira, que levou para a Sapucaí o samba-enredo Histórias para ninar gente grande e homenageou os esquecidos da história oficial do país!
Muito agradecida Mangueira por mostrar que sim, escolas de samba ensinam sobre muita coisa passando pela arte, pela história e pela política!
Samba-Enredo 2019 - Histórias Para Ninar Gente Grande
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (RJ)
Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra
Brasil, meu dengo
A Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
Desde 1500
Tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não tá no retrato
Brasil, o teu nome é Dandara
Tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati
Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês
Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos brasis que se faz um país de lecis, jamelões
São verde e rosa as multidões
Vejo a Salvador pelos olhos e lembranças de Zélia num período anterior a ditadura militar, posterior, durante e da época em que colocava as memórias no papel, lá pelos anos 90, contadas através das muitas histórias ocorridas na casa do Rio Vermelho. Tenho vivido entre artistas de todas as áreas nesta tão aconchegante casa da rua Alagoinhas, 33. São lembranças cômicas, outras tão ternas que sentimentos a emoção do momento, outras de fé, são memórias de todo o tipo que nos fazem sentir parte da família sentados na varando, ouvindo a máquina de escrever de Jorge e o miado do gato Nacib.
Já a Bahia de Jorge Amado é uma Bahia de luto, com um pelourinho repleto de homens e mulheres fortes, pelejando para que, como negros, fossem respeitados ali, naquele lugar que era tão deles quanto dos brancos com ideias anti-semitas retratada e interpretada lindamente em Tenda dos Milagres. Ontem assisti ao capítulo em que mestre Lídio é levado para prestar esclarecimentos sobre seu negócio ao delegado Francisco mata negros. Lembrava dessa cena vivamente! A ameaça de quebrar os dedos do artista, o espancamento, Zé Alma Grande seguindo a vida de capitão do mato perseguindo seus irmãos. Que agonia, que aperto no peito!
Minha memória de criança traz muito forte a emoção que senti ao assistir as cenas pela primeira vez. E minha memória mais antiga ainda, aquela das outras vidas, me faz sentir parte do terreiro de Magé Bassã! Lembro como a forma que a mediunidade dela acontecia, o jeito como enxergava o que viria a acontecer me encantava, apesar do certo medinho que acompanhava a possibilidade de uma visagem!
Confesso que não lembrava da história de Jerônimo e Rosa de Oxalá, tampouco lembrava de sua filha. Mas lembrava perfeitamente da Yaba! Acho que era pela beleza daquela mulher que surgia nua da cintura pra cima e com a cabeça raspada!
Essa Salvador nos encanta e ao mesmo tempo nos faz lembrar que não podemos parar de lutar. Hoje, vivemos momentos em que as pessoas pensam poder botar pra fora todo o preconceito contido em seus peitos. Ainda existe perseguição e racismo no nosso país! O mais triste é que é nas palavras e atitudes do presidente do país que estes preconceituosos acham apoio pra suas intolerâncias.
Acontece que esse povo de luta não se achica e não se entrega, dão sua vida pela liberdade, dão exemplos de amor e de solidariedade. E estes que lutam são a maioria! São eles que fazem as coisas mudar e acontecer. Tanto é verdade que no carnaval do Rio de Janeiro deste ano a escola campeã é Estação Primeira de Mangueira, que levou para a Sapucaí o samba-enredo Histórias para ninar gente grande e homenageou os esquecidos da história oficial do país!
Muito agradecida Mangueira por mostrar que sim, escolas de samba ensinam sobre muita coisa passando pela arte, pela história e pela política!
Samba-Enredo 2019 - Histórias Para Ninar Gente Grande
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (RJ)
Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra
Brasil, meu dengo
A Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
Desde 1500
Tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não tá no retrato
Brasil, o teu nome é Dandara
Tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati
Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês
Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos brasis que se faz um país de lecis, jamelões
São verde e rosa as multidões
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