segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Bisavó


Minha bisavó chamava-se Elmira, mas este era apenas o nome dela, para todos os bisnetos ela era a vó Mila. Para os netos ela era a "ová". Não sei qual o motivo da troca, mas é assim que minha mãe e minhas tias se referem a ela até hoje.
Lembro direitinho dela, seus cabelos negros e crespos, sempre presos num coque, com aquele prendedor que ficou comigo, ou numa trança. Suas mãos magrinhas, cheias de veias que eu apertava de leve e elas formavam minhoquinhas sobre suas mãos.
Quando íamos para a casa da minha vó, da esquina já víamos a vó Mila na frente, encostada no muro, com a cabeça apoiada no braço olhando os passantes. Ela era meiga e doce, mas também era disciplinadora e forte. Era rígida e carinhosa. Dizia o que pensava para quem quer que fosse.
Viveu num tempo de muita miséria e passou muito trabalho para criar seus filhos na colônia, tentando tirar da terra o sustento para eles. Depois de vir pra cidade ajudou a criar os netos e dedicou sua vida a minha tia avó Edite. Esta minha tia sofria de uma doença mental degenerativa, dizem que quem sofre desta doença não passa dos 25 anos de idade. Mas graças a Deus ela esteve muito tempo junto com a gente. Eu lembro dela já na cadeira de rodas, quase sem falar. Não é possível falar da vó Mila sem falar na Edite. Nunca vou me esquecer do que ela dizia sempre a Deus, "que ela vivesse mais do que a filha", por que é triste perder um filho, mas ninguém cuidaria de um filho doente como a mãe. E era isto que ela queria, cuidar da filha até seu último dia, depois disso ela iria embora sem reclamar.
Deus fez sua vontade, a Edite foi antes dela, se não me engano um ano. E a vó Mila que sofria muito de falta de ar, foi se embora, sem reclamar, em 1989. Ela foi sem sofrer. Minha mãe conta que ela estava conversando, deu um bocejo e foi embora, leve como uma borboleta que voa procurando outra flor para pousar. Foi muito difícil para minha mãe ir na vó e não ver mais a sua "ová". Para mim também era muito estranho não ver a vó Mila no muro ou sentada no banquinho no pátio, esperando a gente chegar. Eu também sentia muita falta da cadeira de rodas com a Edite. Confesso que quando pequena sentia um pouco de medo. Não sei de quê, não sei explicar. Acho que é porque ela era braba. Sei lá. Só sei do sentimento de vazio que ficou quando ela foi embora e do vazio que aumentou quando a vó Mila se foi. Sempre que vejo esta flor da foto lembro da vó Mila.
PS.: Na foto acima estamos, eu a mãe, a minha prima Lili, a tia Ieda, tio Jocely, minha vó Amália e minha bisa Mila.

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