Desde a primeira série sempre dividi a carteira com guris. O principal motivo era porque eu conversava demais e as professoras acreditavam que com os meninos não falaria tanto. Foi assim que me apaixonei pela primeira vez, o nome dele é Moisés. Neste tempo eu já gostava de caras mais altos, e ele era bem mais alto, nesta época eu deveria medir 1,20 e ele 1,50, sei lá.
Depois na segunda série eu sentava ao lado do Vaguinho, que também era meu vizinho. Nós íamos juntos para o colégio. Quando eu adoecia ele levava a matéria pra eu copiar. Anos depois ele ficou muito amigo do meu irmão Cristian, e muito mais anos depois a gente chegou a ter um namorico rápido. Mas não deu certo, porque pra mim ele é como um irmão.
Apesar de parecer namoradeira (o que fui só no tempo da faculdade, agora estou mais calma) na época de colégio nunca fui. Eu me apaixonava toda a semana por um guri diferente, era assim mesmo, toda a semana, mas era um flerte, aquele gostar de longe. Tipo a música do Seu Jorge, "tô namorando aquela mina, mas não sei se ela me namora" lálálálálálá.
Foi quando mudei de colégio que conheci um grande amor e um grande amigo. Na nova escola as carteiras eram individuais, cada um tinha a sua. Na sexta série eu conheci o Alexandre Godinho. Óbvio que ele era mais alto do que eu, e ele sentava na minha frente o que impedia minha visão. Nós trocamos de lugar e com toda a proximidade que tínhamos ficamos amigos. Ele era tido na escola como garoto problema, não estudava, se metia em confusões e passava as aulas inteiras desenhando. Como eu sentava na classe da frente, para falar com ele tinha de virar para trás, o que foi motivo de muitas chamadas da professora de português. Acho que ele foi meu grande amor de adolescência mesmo.
Quase todos os dias nós brigávamos, eu dizia que nunca mais iria falar com ele. No dia seguinte quando eu o via já saia falando sem freios na língua, contando coisas e ele perguntava: "_Tu não disse que nunca mais ia falar comigo, abobrinha?", e começava a rir. Eu sempre esquecia que tinha dito adeus pra sempre. Ainda bem, ficar junto dele era muito bom.
O Alexandre me deu um apelido infame, "abobrinha". E não era porque eu falava muita besteira não, a alcunha veio pelo fato de, com 11, 12 anos, eu já ter bastante seio. Vejam só! Mas eu não conseguia ficar brava com ele. No fundo eu gostava. Depois de ter levado tantas xingadas por estar conversando eu criei a táctica de jogar as coisas dele no chão. Enquanto ele juntava não me perturbava. Ele também nunca ficou bravo comigo, nunca brigamos de verdade.
Minhas duas melhores amigas nesta época também eram apaixonadas por ele, a Adriana e a Consuelo. Eu era, mas não admitia nem sob tortura! Só nunca consegui enganar minha mãe. Ela sempre soube. No último ano em que estudamos juntos teve uma festinha de despedida, fizemos amigo secreto e tudo. Não lembro quem tinha tirado de amigo secreto, mas o Alexandre foi quem me tirou. Ele me deu de presente umas meias, que guardei durante muito tempo sem usar e outro tanto quando elas já estavam velhinhas. Nunca mais nos vimos. Ele mudou de cidade. Nossos caminhos nunca mais se cruzaram. Sinto uma saudade tamanha daquele tempo. Das risadas, de estar junto, do cheiro, do jeito dele. Não tenho foto, nem endereço, nem telefone dele. Já procurei no google e no orkut, mas não o encontrei. Mas tenho uma coisa que me faz vê-lo nitidamente diante de mim naquela sala de aula, tenho dois desenhos que guardo com muito carinho.
Gostaria de ter preservado melhor esta amizade. Lembro bem que a vida dele era meio tumultuada na época, pais separados e outras coisas que, não recordo bem, mas faziam com que ele tivesse a fama de mau. A questão é que o Alexandre era, na verdade, apenas um guri carente. Espero que ele esteja muito feliz hoje e que eu seja uma boa recordação da adolescência dele.
P.s: O primeiro desenho ele fez na sala de aula pra mim. O segundo foi um trabalho de educação artística com a professora Dionéia.
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