Contos de todo o tipo, historinhas da vida real, crônicas do cotidiano, contos, sonhos e desejos, todos mudando conforme as fases da lua.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Se um desconhecido lhe oferecer flores...
... isto é impulse! Este era o slogan dos desodorantes Impulse. Como eu adorava aquelas propagandas e até escrevi um texto n'O diafragma, é pena que ninguém mais escreveu lá. snif! Bem, porque estou dizendo tudo isto, porque agora pouco um gurizinho dos seus dez anos me deu uma flor. Adorei!! Pra falar a verdade ganhei o dia.
O pé, o prego e a cebola
Existem simpatias e "tratamentos médicos caseiros" que muitas vezes não entendemos, mas que são realizados pelos adultos quando somos crianças e que ficam guardados na nossa memória para sempre. Destes "tratamentos" lembro muito nitidamente de dois.
O primeiro ocorria sempre que uma criança ao cair batia com a cabeça. Este consistia em pressionar o "galo" com uma faca. Calma, pressionar com o lado da faca, em cruz. Do contrário não funcionava. Algumas pessoas diziam umas palavras sussurradas e que não conseguíamos compreender porque estávamos chorando muito alto por termos caído. Cabe explicar que o dito "galo" era o inchaço que levantava no local em que havíamos batido, ficava um pouco arroxeado depois de algum tempo.
Esta simpatia de amassar o "galo" com a faca aconteceu poucas vezes comigo, pois sempre que eu caia o que eu machucava eram os joelhos. Tanto que muitos anos atrás, já adulta, caí um grande tombo quando morava em Ijuí. O resultado disso foi uma luxação, estraguei o joelho e até hoje ele dói vez por outra, sem contar os dias de chuva.
O segundo "tratamento" visava evitar que a criança, imagino eu, adoecesse de tétano. Acontecia geralmente quando a gurizada pisava num prego ou outro objeto de metal. Neste caso então, a mãe, o pai, ou o adulto que cuidava passava um pedaço de cebola no local machucado e depois enfiava a cebola no prego. Ficava-se observando o machucado e o apodrecer do prego, que praticamente se desmanchava com a cebola.
Eu me lembro bem de como aconteceu comigo. Quando meu pai e minha mãe foram morar juntos eles tinham um chalé. Eram duas peças que com a minha chegada e de meus irmãos depois precisou ser ampliada. Eu devia ter uns cinco anos, por aí... Já tínhamos a cozinha, o banheiro e dois quartos de alvenaria nos fundos do chalé. Foi então que o pai desmanchou a parte de madeira para construir a sala no mesmo espaço. Durante algum tempo as madeiras ficaram ali na frente perto da cozinha. A mãe sempre dizia para não andar lá por que tinha prego nas tábuas e eu podia me machucar. Dito e feito! A teimosa foi lá, andar no meio das tábuas do chalé, olhar aqueles pedaços de madeira onde via imagens de bichos e coisas nos nós da madeira, (eu sempre fui assim, vejo imagem nas nuvens, nas sombras, em nós de madeira, em folhas retorcidas, em desenhos abstratos). Alguns minutos depois, estava com um prego enfiado no pé. Não lembro como as coisas aconteceram. Lembro apenas da dor, do prego no pé, da tábua dependurada e da mãe me salvando. Ah! Também lembro de mim dizendo pra ela que tinha estragado meu chinelo de dedo. Aí, então a mãe puxou a tábua bem rapidinho pra eu não sentir dor, olhou o ferimento e disse que tinha que passar uma cebola. Eu não entendi, mas minha mãe sempre tinha razão. E ainda hoje tem.
Pegou meia cebola, passou a cebola no pé, me deixou sentadinha numa cadeira foi lá e enfiou a metade da cebola no prego sem dó nem piedade. Realmente não lembro se teve curativo com mertiolate ou iodo, que era horrível porque ardia muito. Uns dias depois fui andar novamente lá no meio dos entulhos do chalé para ver como estava o prego e ele estava todo torto, apodrecido.
Meu pé esquerdo tem um calo que me incomoda bastante, ainda hoje. Mas de tudo ficou a lembrança de minha mãezinha me salvando daquele monte de tábuas e pregos enferrujados, da eficiência da cebola e da fragilidade do prego que ajuda a construir uma casa, mas se desmancha por uma cebola. Claro que minhas vacinas estavam sempre em dia.
Ps.: Tem uma música do Cesar Oliveira e do Rogério Melo que diz "saudade é prego na bota".
O primeiro ocorria sempre que uma criança ao cair batia com a cabeça. Este consistia em pressionar o "galo" com uma faca. Calma, pressionar com o lado da faca, em cruz. Do contrário não funcionava. Algumas pessoas diziam umas palavras sussurradas e que não conseguíamos compreender porque estávamos chorando muito alto por termos caído. Cabe explicar que o dito "galo" era o inchaço que levantava no local em que havíamos batido, ficava um pouco arroxeado depois de algum tempo.
Esta simpatia de amassar o "galo" com a faca aconteceu poucas vezes comigo, pois sempre que eu caia o que eu machucava eram os joelhos. Tanto que muitos anos atrás, já adulta, caí um grande tombo quando morava em Ijuí. O resultado disso foi uma luxação, estraguei o joelho e até hoje ele dói vez por outra, sem contar os dias de chuva.
O segundo "tratamento" visava evitar que a criança, imagino eu, adoecesse de tétano. Acontecia geralmente quando a gurizada pisava num prego ou outro objeto de metal. Neste caso então, a mãe, o pai, ou o adulto que cuidava passava um pedaço de cebola no local machucado e depois enfiava a cebola no prego. Ficava-se observando o machucado e o apodrecer do prego, que praticamente se desmanchava com a cebola.
Eu me lembro bem de como aconteceu comigo. Quando meu pai e minha mãe foram morar juntos eles tinham um chalé. Eram duas peças que com a minha chegada e de meus irmãos depois precisou ser ampliada. Eu devia ter uns cinco anos, por aí... Já tínhamos a cozinha, o banheiro e dois quartos de alvenaria nos fundos do chalé. Foi então que o pai desmanchou a parte de madeira para construir a sala no mesmo espaço. Durante algum tempo as madeiras ficaram ali na frente perto da cozinha. A mãe sempre dizia para não andar lá por que tinha prego nas tábuas e eu podia me machucar. Dito e feito! A teimosa foi lá, andar no meio das tábuas do chalé, olhar aqueles pedaços de madeira onde via imagens de bichos e coisas nos nós da madeira, (eu sempre fui assim, vejo imagem nas nuvens, nas sombras, em nós de madeira, em folhas retorcidas, em desenhos abstratos). Alguns minutos depois, estava com um prego enfiado no pé. Não lembro como as coisas aconteceram. Lembro apenas da dor, do prego no pé, da tábua dependurada e da mãe me salvando. Ah! Também lembro de mim dizendo pra ela que tinha estragado meu chinelo de dedo. Aí, então a mãe puxou a tábua bem rapidinho pra eu não sentir dor, olhou o ferimento e disse que tinha que passar uma cebola. Eu não entendi, mas minha mãe sempre tinha razão. E ainda hoje tem.
Pegou meia cebola, passou a cebola no pé, me deixou sentadinha numa cadeira foi lá e enfiou a metade da cebola no prego sem dó nem piedade. Realmente não lembro se teve curativo com mertiolate ou iodo, que era horrível porque ardia muito. Uns dias depois fui andar novamente lá no meio dos entulhos do chalé para ver como estava o prego e ele estava todo torto, apodrecido.
Meu pé esquerdo tem um calo que me incomoda bastante, ainda hoje. Mas de tudo ficou a lembrança de minha mãezinha me salvando daquele monte de tábuas e pregos enferrujados, da eficiência da cebola e da fragilidade do prego que ajuda a construir uma casa, mas se desmancha por uma cebola. Claro que minhas vacinas estavam sempre em dia.
Ps.: Tem uma música do Cesar Oliveira e do Rogério Melo que diz "saudade é prego na bota".
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Contradição
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Mocinha
Existem pessoas que quando conhecemos sua história de vida pensamos: "como ela aguenta?". São vidas atribuladas, cheias de problemas e percalços, de luta e de força. Estas pessoas são exemplo de persistência e de coragem. A minha amiga Mocinha é uma destas pessoas. Ele criou sozinha quatro filhos. Teve a ajuda da mãe, mas o trabalho grosso, como se diz, foi todinho dela. Sempre trabalhando como faxineira e ralando muito para garantir a bóia para ela e seus filhos. Lembro-me dela sempre com seu jeito louco e espevitado, contando de um namorado que tinha, de quem gostava muito e com quem se encontrava nos lugares mais absurdos para namorar.
Com os filhos já crescidos, criados, imaginou que iria descansar, que teria tranquilidade na sua vida. Foi quando teve a Juju, os filhos já estavam grandes e ela teve outra menina linda. A vida parecia tranquila, mas não. Um de seus filhos, depois de adulto caiu no vício das drogas. E os entorpecentes como sabemos entorpece o usuário e destrói a vida de toda uma família. O drama de vida da Mocinha não a fez fraquejar nenhum pouco, pelo contrário, a fez mais forte. Este mesmo filho teve dois filhos, com uma guria com problemas mentais. Tanto o pai, quanto a mãe das crianças não tem condições de ter o pátrio poder. Para não deixar as crianças em abrigos ou ir para adoção a Mocinha pediu a guarda das crianças. Teve coragem de pegar os netos, mesmo estando criando sua filha, também pequena. Juju, Juca e Cacá, três crianças e uma mulher que não mede esforços para dar tudo do melhor para eles.
A luta diária para tentar fazer com que seu filho deixe o "crack" é incessante. Com tantas dificuldades para controlar este filho acabou com depressão e outros problemas de saúde. Os outros três filhos estão bem, trabalham, casaram, alguns já tem filhos. Mas este... ah! este lhe dá trabalho, principalmente sob efeito da droga, quando perde a noção e a agride.
Sua vida se resume a cuidar dos netos e buscar auxílio junto aos órgãos competentes (ou talvez nem tanto) para internar o filho dependente químico. Outra questão que a aflige é o fato do neto, hoje com quase sete anos, ter uma doença mental. Por causa da idade, na escolinha em que está matriculado não poderá continuar no ano que vem. Seu drama é saber como poderá trabalhar se o menino não estiver na escola e que escola o aceitará tendo tais dificuldades? Mas ela não desiste, lá vai batendo de repartição em repartição em busca de ajuda e solucionando seus problemas. Quando seus direitos não são respeitados ela briga, diz que apesar de analfabeta sabe quais são seus direitos. E diz na cara das pessoas, que elas não se importam com os pobres, com quem tá precisando de ajuda.
Outro dia ela me contou que numa repartição chamaram a viatura da BM para levá-la por que estava desacatando o servidor. No entanto ela queria que resolvessem o problema da escola do neto, que a mandassem para o médico, que encaminhassem para consulta. E como não sabe fazer valer seu direito sem brigar e como em muitos lugares sabemos que os funcionários não dão atenção há quem não anda bem vestido e fala pomposamente, ela foi de viatura para casa.
Apesar de tanto problema em sua vida, de ter que lutar sempre, de ter que "matar um leão por dia" Mocinha não perdeu o sorriso fácil e nem seu jeito espontâneo. E ao encontrar um amigo abre seu riso, hoje já faltando alguns dentes, um pouco cansado de tanta luta, mas cheio de esperança. Apesar de tudo.
PS.: Esta é uma história real, os fatos não foram inventados, mas o nome das crianças foram mudados. Embora pareça peça de ficção todo o drama é real, tanto o filho dependente químico como o neto doente.
Com os filhos já crescidos, criados, imaginou que iria descansar, que teria tranquilidade na sua vida. Foi quando teve a Juju, os filhos já estavam grandes e ela teve outra menina linda. A vida parecia tranquila, mas não. Um de seus filhos, depois de adulto caiu no vício das drogas. E os entorpecentes como sabemos entorpece o usuário e destrói a vida de toda uma família. O drama de vida da Mocinha não a fez fraquejar nenhum pouco, pelo contrário, a fez mais forte. Este mesmo filho teve dois filhos, com uma guria com problemas mentais. Tanto o pai, quanto a mãe das crianças não tem condições de ter o pátrio poder. Para não deixar as crianças em abrigos ou ir para adoção a Mocinha pediu a guarda das crianças. Teve coragem de pegar os netos, mesmo estando criando sua filha, também pequena. Juju, Juca e Cacá, três crianças e uma mulher que não mede esforços para dar tudo do melhor para eles.
A luta diária para tentar fazer com que seu filho deixe o "crack" é incessante. Com tantas dificuldades para controlar este filho acabou com depressão e outros problemas de saúde. Os outros três filhos estão bem, trabalham, casaram, alguns já tem filhos. Mas este... ah! este lhe dá trabalho, principalmente sob efeito da droga, quando perde a noção e a agride.
Sua vida se resume a cuidar dos netos e buscar auxílio junto aos órgãos competentes (ou talvez nem tanto) para internar o filho dependente químico. Outra questão que a aflige é o fato do neto, hoje com quase sete anos, ter uma doença mental. Por causa da idade, na escolinha em que está matriculado não poderá continuar no ano que vem. Seu drama é saber como poderá trabalhar se o menino não estiver na escola e que escola o aceitará tendo tais dificuldades? Mas ela não desiste, lá vai batendo de repartição em repartição em busca de ajuda e solucionando seus problemas. Quando seus direitos não são respeitados ela briga, diz que apesar de analfabeta sabe quais são seus direitos. E diz na cara das pessoas, que elas não se importam com os pobres, com quem tá precisando de ajuda.
Outro dia ela me contou que numa repartição chamaram a viatura da BM para levá-la por que estava desacatando o servidor. No entanto ela queria que resolvessem o problema da escola do neto, que a mandassem para o médico, que encaminhassem para consulta. E como não sabe fazer valer seu direito sem brigar e como em muitos lugares sabemos que os funcionários não dão atenção há quem não anda bem vestido e fala pomposamente, ela foi de viatura para casa.
Apesar de tanto problema em sua vida, de ter que lutar sempre, de ter que "matar um leão por dia" Mocinha não perdeu o sorriso fácil e nem seu jeito espontâneo. E ao encontrar um amigo abre seu riso, hoje já faltando alguns dentes, um pouco cansado de tanta luta, mas cheio de esperança. Apesar de tudo.
PS.: Esta é uma história real, os fatos não foram inventados, mas o nome das crianças foram mudados. Embora pareça peça de ficção todo o drama é real, tanto o filho dependente químico como o neto doente.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Meu amigo Claudinho
Não lembro de ter um amigo de infância, acho que não tenho. Na minha infância convivia muito com meus primos, eles eram meus amigos, a minha família e meus irmãos ao mesmo tempo. Só que agora, depois de adultos, todos eles com filhos, acabamos por nos afastar um pouco, coisa normal, dirão alguns, mas eu gostaria de ser mais próxima de todos. Eu tenho realmente amigos de adolescência. Pessoas que conheci no colégio e com quem tenho amizade até hoje. Outros eu conheci por intermédio de amigos e até do meu pai. É o caso do Claudinho. Ele é filho de um amigo do meu pai, um dia, estava eu trabalhando no escritório de contabilidade, no segundo que tivemos, e ele chegou. Primeiro ele perguntou pelo Guadalupe, meu pai. Eu disse que ele não estava e perguntei se poderia ajudá-lo. O primeiro impulso foi de que não, mas depois ele pensou melhor e me pediu ajuda para preencher a requisição do CPF, sua dúvida era quanto ao que seria UF, sigla de Unidade Federativa, que corresponde ao estado.
Então eu disse a ele que deveria colocar no UF a sigla do estado, RS. Ele não acreditou, perguntou se estava certo, se eu tinha certeza. Eu confirmei. E ele ficou um pouco envergonhado por não saber uma coisa tão simples. É claro que isto virou deboche um tempo depois, quando já éramos amigos, mais íntimos e brigávamos sem cerimônia.
E a nossa amizade sempre foi assim, discutíamos muito. Ele sempre com um jeito de ser muito certinho, pautado pela doutrina católica e com algumas frescuras sem fundamento, coisa que hoje em dia é bem diferente. Logo que eu o conheci eu fiquei apaixonada por ele. Uma vez até o convidei para sair, liguei pra casa dele e fiz o convite para uma festa da faculdade. Mas ele declinou do convite, um pouco educado, só que fiquei muito chateada. Depois disso desisti dele.
Mais tarde ele passou a gostar de mim. Só que aconteceram muitos desencontros na nossa vida e nós ficamos amigos mesmo que era o melhor naquele momento. O engraçado é que sempre acontece alguma coisa com ele no dia do meu aniversário. Um dia nós brigamos e ele só me deu o presente que tinha comprado na segunda-feira com uma carta reclamando meu jeito. Juro que tentei mudar, mas só ele poderá dizer se consegui. Confesso que apesar da distância e de nunca termos tido nada eu sinto ciúme quando sei que ele está apaixonado ou namorando com alguém. Acho que isto é meio como ciúme de irmão, sei lá.
O mais engraçado de todos os acontecimentos entre nós no meu aniversário foi a vez que eu resolvi comemorar o cumpleaños no salão de festas do condomínio do meu pai. Avisei a todos que lembrei, mas não consegui falar com ele. Imaginei que antes de ir na minha casa ele ligaria, sei lá. Organizamos uma janta e ficamos até tarde por lá. E quando chego em casa qual não é minha surpresa, a tela da janela da cozinha está no chão, o vaso da comigo-ninguém-pode está quebrado, tem água no chão e tem uma flor joga e um bilhete. Antes de abrir eu já sabia de quem era. O bilhete começava, vim fazer uma surpresa e fui surpreendido, como não havia ninguém em casa joguei o presente pela janela.
Nós rimos muito imaginando como é que ele não havia ficado envergonhado esperando pra ver se chegava alguém e depois empurrando a tela, até rebentar o arame que a fixava.
Ah! Este meu amigo Claudinho. Depois desse tempo eu acabei indo pra outra cidade, depois voltei e ele foi. E um dos dias mais felizes da minha vida foi quando, numa cidade estranha, me sentindo um pouco perdida eu encontrei com ele na rua. Isto quando fazia uns quatro anos que não nos víamos pessoalmente. Ele matou uma prova de italiano naquele dia e eu deixei minha amiga Edna esperando por mim, numa cidade vizinha.
Então eu disse a ele que deveria colocar no UF a sigla do estado, RS. Ele não acreditou, perguntou se estava certo, se eu tinha certeza. Eu confirmei. E ele ficou um pouco envergonhado por não saber uma coisa tão simples. É claro que isto virou deboche um tempo depois, quando já éramos amigos, mais íntimos e brigávamos sem cerimônia.
E a nossa amizade sempre foi assim, discutíamos muito. Ele sempre com um jeito de ser muito certinho, pautado pela doutrina católica e com algumas frescuras sem fundamento, coisa que hoje em dia é bem diferente. Logo que eu o conheci eu fiquei apaixonada por ele. Uma vez até o convidei para sair, liguei pra casa dele e fiz o convite para uma festa da faculdade. Mas ele declinou do convite, um pouco educado, só que fiquei muito chateada. Depois disso desisti dele.
Mais tarde ele passou a gostar de mim. Só que aconteceram muitos desencontros na nossa vida e nós ficamos amigos mesmo que era o melhor naquele momento. O engraçado é que sempre acontece alguma coisa com ele no dia do meu aniversário. Um dia nós brigamos e ele só me deu o presente que tinha comprado na segunda-feira com uma carta reclamando meu jeito. Juro que tentei mudar, mas só ele poderá dizer se consegui. Confesso que apesar da distância e de nunca termos tido nada eu sinto ciúme quando sei que ele está apaixonado ou namorando com alguém. Acho que isto é meio como ciúme de irmão, sei lá.
O mais engraçado de todos os acontecimentos entre nós no meu aniversário foi a vez que eu resolvi comemorar o cumpleaños no salão de festas do condomínio do meu pai. Avisei a todos que lembrei, mas não consegui falar com ele. Imaginei que antes de ir na minha casa ele ligaria, sei lá. Organizamos uma janta e ficamos até tarde por lá. E quando chego em casa qual não é minha surpresa, a tela da janela da cozinha está no chão, o vaso da comigo-ninguém-pode está quebrado, tem água no chão e tem uma flor joga e um bilhete. Antes de abrir eu já sabia de quem era. O bilhete começava, vim fazer uma surpresa e fui surpreendido, como não havia ninguém em casa joguei o presente pela janela.
Nós rimos muito imaginando como é que ele não havia ficado envergonhado esperando pra ver se chegava alguém e depois empurrando a tela, até rebentar o arame que a fixava.
Ah! Este meu amigo Claudinho. Depois desse tempo eu acabei indo pra outra cidade, depois voltei e ele foi. E um dos dias mais felizes da minha vida foi quando, numa cidade estranha, me sentindo um pouco perdida eu encontrei com ele na rua. Isto quando fazia uns quatro anos que não nos víamos pessoalmente. Ele matou uma prova de italiano naquele dia e eu deixei minha amiga Edna esperando por mim, numa cidade vizinha.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Primeiro beijo
Na época da minha adolescência eu tinha uma amiga praticamente inseparável. Éramos assim como gêmeas siamesas, sabe? Vivíamos coladas uma na outra, ela na minha casa, eu na casa dela. A gente morava perto uma da outra e nossa prática preferida, depois das visitas, era acompanhar a outra até a esquina. Isto era demais, porque eu ia com ela até a esquina da casa dela, umas sete quadras da minha, depois ela voltava comigo até a minha esquina. E assim ficávamos até começar a escurecer, conversando na rua e caminhando pra lá e pra cá.
A Ana Paula, minha amiga, cumadre, companheira esteve presente em muitos momentos da minha vida e eu na dela. Nossas manhãs de sábado eram no calçadão, pegávamos o ônibus, muitas vezes escondido do pai dela, que era muito bravo, e íamos passear ou ficar ouvindo música na porta do Trekos.
A Trekos (loja de discos) existe até hoje aqui em Pelotas e daquele tempo o único funcionário que continua lá é o Gilmar. A gente, é claro, conhecia todos, paquerava uns, brigava com outros (hahaha) e continuava lá, na loja, ouvindo música e vendo quem passava.
Foi num destes sábados longínquos que dei meu primeiro beijo. Devia ter uns treze ou catorze anos. Não foi uma coisa magnífica, mas como se diz o primeiro a gente nunca esquece.
A Ana e eu estávamos lá vendo o pessoal que passava, reconhecendo alguns rostos que como nós também estava sempre por ali. Então o Iran passou, ficou olhando, daí um pouco voltou, puxou assunto e me convidou para dar uma volta. Fomos caminhando em direção a Praça Coronel Pedro Osório. Na época a praça era mal vista devido as moças que ganham a vida por ali. Hoje não é diferente, as moças continuam lá. No entanto, eu mudei minha maneira de ver a praça e não a considero mais um local proibido, mas um espaço para todos. Foi lá, na frente desta estátua que aparece aí na foto, que dei meu primeiro e desajeitado beijo.
Aquela ânsia que fazia querer e não querer o beijo, aquela aflição de como contar pra mãe, enfim. A Ana sempre dizia pra minha mãe quando saíamos, "não te preocupa Rita, tá comigo, tá com Deus". E eu com medo de como seria o beijo, foi uma coisa muito rápida, muito estranha e bem molhada. Talvez o fato de não ter sido com alguém de quem gostasse tenha contribuído para ser assim. Enfim.
Naquele dia eu beijei. Depois voltei com o Iran para encontrar a Ana e convenci o seu Nei, pai dela, para que ela dormisse lá em casa. Não que eu tivesse medo de contar pra minha mãe que tinha beijado. Sabia que ela não brigaria comigo ou coisa assim, mas sei lá né, na adolescência tudo parece um soooonho... ou um drrrrrama.
Então ela foi dormir lá. Eu contei para a minha mãe minha mais nova experiência e como tinha sido estranho e diferente do que eu pensava. Lembro bem. Minha mãe disse que era assim mesmo e que no dia que eu gostasse de alguém de verdade o beijo seria diferente. É claro que ela estava certa, como sempre. Daí ela olhou pra Ana e perguntou, "tá comigo, tá com Deus é?". E a Ana respondeu: "Ele dormiu um pouquinho, mas não foi nada grave".
Na segunda feira uma colega mexeu comigo dizendo que eu estava namorando na praça. Fiquei louca de vergonha!
No sábado seguinte estávamos lá, no mesmo lugar, a Ana e eu, daí apresentei o Iran para minha prima Lili. Ele também pediu um beijo pra ela lá na praça Coronel Pedro Osório. E eu pensei, ainda bem que eu não era apaixonada por ele, se não seria uma desilusão. Mas como disse, na adolescência tudo é sonho ou drama e nesta época meu sonho atendia pelo nome de Nill, cantor do Dominó Não tinha espaço pra mais ninguém, mesmo que este ninguém fosse de carne e osso e o Nill de sonho.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Professora Chica e seu acordeão
Eu lembro muito bem dos meus primeiros professores. Começou com a Maria Inês, que me alfabetizou, depois veio a Jussara e a estagiária Clementina, que era um doce. Depois veio a Jurema, que era quase tia e madrinha da minha prima. Quando chegou na quarta série as matérias eram divididas em vários professores a Maritza de educação física, a Elaine de português, a Adelaide, de ciências (esta merece um post só dela, mais tarde entenderão) e tinha a Marilda de história, a Dalila de matemática, Acho que eram estas. Mas antes da divisão da quarta eu tive dois professores que nunca esqueci, o professor Nei, de educação física, da primeira a segunda série acho e a Chica.
A professora Chica tinha um quê de meio maluca, parecia sempre aérea pelos corredores. Quando tínhamos alguma apresentação de 20 de setembro ou outra comemoração especial era a ela quem nos ensaiava. Nunca vou esquecer das danças que ensaiamos com ela tocando seu acordeão e nós dançando o maçanico. Pra quem não sabe estas são danças típicas, muito ensaiadas e defendidas pelos CTGs (Centro de Tradições Gaúchas). Meu par na apresentação era o Vaguinho, um amigo muito querido. Era muito engraçado porque nós nunca tínhamos dançado aquilo e ela brigava muito com a gente pra que a dança ficasse bonita. E aí de nós se disséssemos que ela tocava gaita. Não, é um acordeão.
Até hoje vejo a professora Chica pela rua dirigindo seu fuca branco. Foi com ela que aprendi a cantar "Ale-crim, Ale- crim dourado que nasceu no campo sem ser semeado".
Que saudade!!!
A professora Chica tinha um quê de meio maluca, parecia sempre aérea pelos corredores. Quando tínhamos alguma apresentação de 20 de setembro ou outra comemoração especial era a ela quem nos ensaiava. Nunca vou esquecer das danças que ensaiamos com ela tocando seu acordeão e nós dançando o maçanico. Pra quem não sabe estas são danças típicas, muito ensaiadas e defendidas pelos CTGs (Centro de Tradições Gaúchas). Meu par na apresentação era o Vaguinho, um amigo muito querido. Era muito engraçado porque nós nunca tínhamos dançado aquilo e ela brigava muito com a gente pra que a dança ficasse bonita. E aí de nós se disséssemos que ela tocava gaita. Não, é um acordeão.
Até hoje vejo a professora Chica pela rua dirigindo seu fuca branco. Foi com ela que aprendi a cantar "Ale-crim, Ale- crim dourado que nasceu no campo sem ser semeado".
Que saudade!!!
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Catedral São Francisco de Paula
Quando eu era pequena imaginava o que seriam aquelas "casquinhas" de sorvete coloridas. Minha tia sempre dizia que tinha casado lá, na Catedral. E eu olhava para cima e só conseguia fazer uma conexão: _ Parecem com casquinhas de sorvete azul!
Coisa de criança!
Admito que, embora não seja católica e não me ligue muito em igrejas, a Catedral São Francisco de Paula é uma das mais bonitas que já conheci. Vale a pena!
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