sexta-feira, 7 de maio de 2010

Decepção

A decepção só acontece porque nós nos iludimos tanto com alguém, ou alguma coisa, que não conseguimos ver a essência. A decepção é uma surpresa ruim. Mas não é aquela surpresa ruim que nós inventamos. A que inventamos funciona mais ou menos assim, queremos muito uma blusa que experimentamos numa loja e ficamos pensando, bem que fulano podia me dar esta blusa né? Mas não contamos ao fulano que a queremos. Só que é natal e já compramos aquele livro ou Cd que ele falou que queria comprar. Então esperamos pela surpresa. A surpresa começa pela leitura do nosso pensamento, da adivinhação das nossas vontades, que responda com as exatas palavras com que sonhamos. Mas algumas pessoas, os homens especialmente, são distraídos por natureza. Então que compram um perfume ou uma lingerie, ou uma outra coisa qualquer que eles imaginam que queremos. A surpresa ruim é não ter ganho a blusa.
Quando nos decepcionamos com alguém a situação é bem mais intensa e profunda. Tem quem sinta dor física, dependendo do tamanho da decepção. Nós olhamos para tudo aquilo e não acreditamos, ficamos rebobinando a fita da memória tentando entender como as coisas foram acontecer daquele jeito e, é claro, em vários momentos nos culpamos. E a culpa é realmente nossa por termos criado uma imagem perfeita, muito aquém daquele ser que está ali. Não porque a nossa ilusão seja melhor, mas porque na nossa idealização tudo saí como a gente quer.
No entanto, tem alguma coisa naquela ilusão toda que é verdadeiro. Que seja amor ou amizade, mas de alguma parte tem que ser real para que a decepção aconteça. Até porque... se nenhuma das partes tem verdade na relação... não existe relação e ambos estão protegidos da decepção e da tristeza.
Em 32 anos de vida não lembro de ter tido decepção. Tive várias tristezas, amores não correspondidos, amigos que se afastaram com o tempo, outros que não eram tão amigos assim. Mas decepção que me levasse a fazer uma revisão nos meus valores e no meu modo de agir com meus amigos é a primeira vez. Existem pessoas que não são sinceras com a gente e mesmo que tentem disfarçar se pode perceber na sua maneira de olhar, em alguns vícios na maneira de falar sua falta de sinceridade. Por outro lado, há pessoas que são sinceras até demais, que mantém a relação de forma saudável, só que um dia qualquer, por um motivo qualquer mostram uma face que desconhecemos. Agem de forma inesperada, dizem coisas que jamais diriam, fazem coisas que não fariam antigamente. É neste caso que a decepção nos parte ao meio. Nos faz perceber o quanto nos iludimos na defesa de algo que apenas nós sentíamos ou entendíamos. É como a secretária ter um caso com o superior no escritório, um belo dia ela recebe a demissão. Ele a demitiu porque a mulher descobriu o caso, mas disse que foi por outro motivo. A decepção dela não é por ter sido demitida, mas por ele não ter tido a decência, a compaixão, a dignidade de dizer a ela o que aconteceu. Deixou que ela fosse pega de surpresa, despreparada. Ela se sentiu humilhada, traída, arrasada. Ele misturou um assunto particular, pessoal com um profissional.
Ela se sentiu arrasada porque sabe que n'outra situação semelhante o chefe lhe diria o motivo da demissão e neste caso ela sabe o motivo, assim como sabe que é injusto.
Minha sensação de decepção é parecido com este. Não há explicação que faça o sentimento de ter recebido uma rasteira passar. O coração se partiu e agora a decepção deu lugar a um cansaço tremendo.

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