quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Um sorriso, uma saudade...

Dizem que a nossa memória mais perfeita é a olfativa. Concordo com isto, tem alguns cheiros que me levam lejos e lembro de coisas tão antigas que, se conscientemente tentasse lembrar não conseguiria. Mas tem pequenos detalhes no cotidiano da gente que nos fazem recordar situações impensadas. Um certo sorriso outra noite, por exemplo, me fez recordar uma saudade que há tempos não tinha. Não que ela não existisse ou fosse amena, pelo contrário. Ela sempre foi avassaladora e dolorida e justo por isto fui colocando muitas coisas sobre ela, outros sorrisos, outras brincadeiras, outras sensações, outras, outras, outras...
Tudo para não lembrar daquele sorriso branco em meio a barba negra. Acho que a saudade me fez calar todas as coisas que lembro dele. Fui me "resguardando" do sofrimento abafando as lembranças com mil tralhas, como quem guarda no quarto da bagunça todas as coisas das quais não quer se desfazer, mas que também não utiliza. Foi assim que numa noite um sorriso, também barbudo, me fez lembrar aquele em que eu não pensava. Ao contrário do que temia, descobrir-me pensando no sorriso do Miguel, primo que perdi há mais de 10 anos, não me fez sofrer, não doeu, não teve angústia. Apenas renasceu a saudade de dar um abraço, de ver o sorriso, de ouvi-lo me chamar de preta (aliás, o único que me chamava assim), de tomar uma cerveja ou caipira e dar risadas. Deu saudade dele me dizendo que eu devia deixar meus cabelos crescerem, porque com eles curtos eu estava parecendo uma mulher. Isto quando eu já tinha 18 anos, mas pra ele eu 'inda era criança.
Daí um sorriso, que vai dar saudade, fez lembrar a saudade de um sorriso que jamais será esquecido. E eu descobri que a saudade pode ser boa, apesar de representar a ausência.

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