terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Frases, livros, autores e personagens que eu amo!


Não foi inadvertidamente que li primeiro "Quincas Borba". Sim, o próprio Machado de Assis no início do romance destaca a importância de primeiro conhecer as "Memórias póstumas de Brás Cubas". Talvez por ter contrariado Machado (este meu tão querido autor) que a frase mais marcante do livro, a qual guardo encrustada na memória seja "ao vencedor as batatas". Não é nada poético como "os olhos de ressaca de Capitu". Nem tão jocoso, diria o próprio Machado, como "bonita porém coxa".
Estou lendo "Memórias..." e forço a minha própria memória para lembrar da história de Quincas Borba. E não consigo lembrar de nada, além da dita frase. Após passado o primeiro instante de sandice nos primeiros capítulos do livro a leitura esta fluindo. E vira e mexe a frase do Quincas me vem a lembrança.
Quando pensei em fazer este post, esta frase foi a primeira que veio a minha cabeça. Claro, que existem várias outras frases, românticas, bonitas e com um conteúdo bem mais significativo do que esta, mas... apesar de sermos racionais nem sempre a razão explica o porquê de gostarmos de certas coisas e não de outros. Lembro de um professor na faculdade que disse que com Machado de Assis se aprendia muita coisa velha em resposta a minha esfuziante máxima de que adorava o autor por sempre aprender coisas novas. É possível que a razão não explique o que eu considero novo e ele velho. Também não importa, visto que continuei lendo muito Machado de Assis.
O que mais amo na escrita de Machado é o uso da ironia. Na adolescência a gente acha que Machado de Assis é chato, mas não é. Ele tem um humor fantástico e o uso da ironia como argumento da escrita faz com que consigamos compreender, por exemplo o motivo que levou Capitu a trair Bentinho. Se é que isto aconteceu, claro. E vem a dúvida, outra presença constante nos romances machadianos.
Não sou uma grande conhecedora de Machado de Assis, confesso. O primeiro livro dele que li foi "Helena", ainda no primário e acho que devo ler novamente. Foi o primeiro romance que li na vida. Depois li "O alienista", "Dom Casmurro", "Quincas Borba", alguns contos e poemas. Não posso dizer que é o meu autor favorito e mais amado, mas tem um lugar especial pelo seu realismo. Ainda que suas estórias se passem no século retrasado a proximidade das personagens com as pessoas "reais" é muito forte. Quem já não teve a reação ou não exclamou uma frase, mesmo que mental, como a que descreve Marina ("bonita porém coxa")?
Muito da obra de Machado conheci pela televisão através de novelas e séries baseadas nos seus romances, tal como "Iaiá Garcia" e "Uns braços". Mas sou daquelas que acha a história do livro é a verdadeira. E convenhamos que nem sempre os filmes são fiéis a obra literária. Seguirei contando pra vocês a respeito dos meus livros, personagens e frases favoritas. Comecei por um autor que respeito muito!

Fotos: google

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A vida voltando a seu curso

É estranho quando alguém parte a sensação que fica com a gente. Mesmo quando a pessoa não desencarna as coisas mudam muito. O nosso encontro com aquela pessoa não vai ser mais tão frequente quanto antes. Talvez nem o contato. O que sentimos é aquele vazio, aquela falta de ver o rosto familiar num encontro casual.
Lembro das minhas perdas na família de forma bem clara. A primeira de que me dou conta é a da minha tia avó Edite, que era doente e a qual sempre via em sua cadeira de rodas na sala da casa da vó Mália sendo cuidada pela vó Mila. Quando a Edite faleceu era muito estranho chegar na vó e não encontrar aquela cadeira na sala! Eu devia ter uns nove anos. Não chorava a perda, mas sentia muita falta. Não compreendia direito pra onde ela tinha ido, nem porque.
Em seguida perdemos a minha bisa. Minha mãe sofreu muito esta perda e lembro dela comentando que pra ela não fazia sentido o sol brilhar e a vida seguir sem a vó Mila ali junto de nós. Eu lembro da noite que meu pai me contou que a vó Elmiria tinha morrido. Ele recém tinha recebido a notícia por telefone. A falta da minha bisa era sentida desde a esquina da casa da vó Mália de onde a avistávamos escorada no muro nos esperando todas as tardes. Para compreender isto leva tempo! Na verdade para conseguir não enxergar a vó Mila ali, na frente da casa, com o braço apoiado no muro levou tempo. E não fosse a casa não estar mais lá, tal como era, é bem possível que ao entrar na rua eu a avistasse. Porque meus olhos sentem saudade de ver aquela imagem.
Como espírita eu sei que elas estão bem, talvez até já no nosso convício novamente. Mas a saudade fica e as lembranças permanecem sempre. Sem contar que cada um encara esta ausência de forma diferente.
Atualmente sentimos, e posso dizer que toda a família sente de forma unanime,as faltas do tio Zé e do Igor. É como um sonho. É como se a qualquer momento fossemos encontrar um deles, como se eles fossem chegar a qualquer instante. Ainda que eu saiba que bons espíritos os amparam, e eu peço isso todos os dias, se bobear a cada vez que lembro deles, a saudade é constante. E saber lidar com esta ausência talvez seja o mais difícil na tentativa de fazer com que a vida corra normalmente. Porque não dá para simplesmente apagar aquelas pessoas que amamos tanto e que já fizeram a viagem. E também não dá para impedir que o sol brilhe e que a vida siga. É um momento de readaptação. E a vida é readaptação constante.
Agora mesmo enquanto escrevo não consigo impedir que uma lágrima caia. Não consigo ignorar a ideia de que sofrer os fará sofrer também. E não conseguir racionalizar isto sempre, deixando escapar a lágrima ou um suspiro de saudade é me sentir viva e me sentir gente. É sentir a contradição de querer aquelas pessoas bem e felizes e, ao mesmo tempo, querê-las comigo.
O melhor nestes casos, como para tantos outros, é o tempo. É o remédio que atenua a dor. É o senhor sábio que nos aconselha. E é através dele, no "correr" dele, que a vida vai voltando a seu curso.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A fé que cura e a fé que mata


Sou uma pessoa de fé. Acredito em Deus. Sou espírita, frequento o centro, tomo passe, oro e faço o evangelho no lar. Tenho uma infinidade de defeitos. Mas tento guiar minhas atitudes dentro dos ensinamentos de Jesus Cristo, que foi um homem como nós, em carne, só que muito mais evoluído espiritualmente que qualquer outro ser encarnado e muito mais do que qualquer cristão poderia descrever. Principalmente certos cristãos que creem estar acima do bem e do mal.

Tenho plena consciência de que a fé ajuda na cura de doenças. Inclusive há estudos sobre a relação cura e fé. Mas compreendam bem, não sejam tolos ou arrogantes de imaginar que serão curados sem fazer um tratamento físico. A fé auxilia na cura, porque parte do tratamento é espiritual. O corpo tem que ser tratado com o medicamento, com a cirurgia, com o soro, com a injeção, com o curativo. Conheço pessoas religiosas que tiveram doenças graves que se curaram bem mais rapidamente da sua enfermidade por crer em algo maior. Seja lá o nome que se queira dar. Enquanto outras fizeram o tratamento, curaram-se com um pouco mais de vagar por não ter uma fé. E conheço pessoas que estão morrendo em sofrimentos medonhos por serem orientados a não tratarem seu físico e ficarem apenas com a fé.

Sei que alguns vão dizer, são fanáticos que morram estão escolhendo isto, nada mais natural. Mas tenhamos compaixão, empatia. Alguém que recebe o diagnostico de um câncer maligno (ainda que hoje existam tratamentos eficientes) ou um exame de HIV em que descobre ser portador do vírus sente-se como se houvesse recebido uma sentença de morte. No primeiro momento se sentirão abandonados, revoltados, perdidos. Irão buscar além do tratamento médico tudo e qualquer tipo de cura alternativa que lhe oferecerem. É muito difícil manter o equilíbrio sabendo a barra que tem de enfrentar no tratamento de tais doenças. Então as pessoas vão buscar na igreja, na umbanda, na benzedeira um conforto pra sua alma. Não podemos julgá-las. Elas estão sofrendo. Estão desesperadas.

Mas o padre, o pai de santo, a benzedeira, o rabino, o pastor tem que saber que tem grande responsabilidade junto daquela pessoa. Suas palavras serão regras, serão ordens praquele ser que busca sarar seus males. E eles devem ser responsabilizados criminalmente, se preciso for, ao orientarem alguém a largar o tratamento médico. Mandar alguém não fazer um tratamento é assassinato, porque aquela pessoa não quer morrer, ela esta buscando algo que a conforte e ajude em momento tão difícil.
Pastores que orientam seus fiéis a não se tratarem devem responder criminalmente. Pois não é assim que o médico responde por um erro ou por negar atendimento?

Estou vivendo a perda do meu sobrinho de 24 anos, com toda a vida pela frente. Ele foi diagnosticado com um sarcoma maligno no braço esquerdo e foi orientado por seis médicos a amputar o braço, pois desta forma tinha 79% de chance de cura. Ele morreu esperando um milagre que lhe venderam. Eu digo que ele foi assassinado, pois o pastor, mentor espiritual dele disse que ele não deveria fazer a cirurgia, que os médicos queriam mutilá-lo. Aliás, esta criatura que se diz servo de Deus, disse em alto e bom tom que (vejam se não é caso de polícia) “mesmo que Deus lhe dissesse que o Igor deveria fazer a cirurgia ele não diria”. Foram as palavras dele, dentro de uma sala cheia de testemunhas. E o Igor me disse que se Deus o orientasse a fazer a cirurgia ele faria. Mas não adiantou dizer que era o que Ele queria. Não adiantou que outras várias pessoas que o amavam lhe dissessem. Ele precisava ouvir da boca do pastor, que se negou a dizer mesmo quando a mãe do Igor implorou que ele dissesse.

Este pastor de meia pataca agiu da maneira mais vil e cruel, de maneira que pessoas de bem nem conseguem imaginar tamanha crueldade e mesquinhez. Ele via o guri com dores horríveis e dizia que ele não devia tomar os remédios pra não se “viciar”. Fez com que meu sobrinho passasse vários meses com dores terríveis, agüentando no osso do peito as dores lancinantes, que ele corajosamente chamava “desconforto”. Mesmo nos últimos dias, já com metástase nos pulmões e em outros órgãos o Igor tinha medo de tomar morfina e enfraquecer o coração ou se viciar. Porque ele esperava o milagre que o pastor lhe prometera. A cura, a reconstituição do braço e suas carnes necrosadas. O milagre para o qual se preparara batizando-se, deixando de sair com os amigos de sua idade, indo de casa para a igreja e da igreja pra casa sem um divertimento. E quando ele se deixava levar pelo espírito juvenil e ia a um baile os seguidores do tal pastor e o próprio diziam que ele estava se desviando. Levando-o a crer que não recebera o milagre ainda por sua conduta. Como se Deus fosse um tirano torturador, que só julga e cobra.  O pastor falava ao Igor que ele não podia ficar deitado, que tinha que se forçar e caminhar, mesmo que o corpo não tivesse forças pra isto. Mesmo que se esvaísse o pouco de vitalidade que lhe restava. O pastor deu contra sempre! Foi contra todas as indicações médicas, chegando ao ponto de dizer, quando um dos médicos sugeriu tratamento psicológico, que “psicólogo é pra louco!”.

E nós, que tanto brigamos, argumentamos, amamos o Igor pedindo que ele fizesse a cirurgia não tivemos o crédito que o pastor assassino teve. E assim como este homem teve coragem de orientar um jovem do seu próprio sangue, a não tratar sua enfermidade grave, ele deve orientar outras pessoas com doenças tão graves quanto a dele, sempre pedindo dízimo, sempre estendendo a mão para pegar o dinheiro daquele que nele crê. Sem dar ao próximo um pingo de compaixão. Este sujeito é tão cara de pau que cobra até para fazer uma oração. Vejam se é coisa de quem diz seguir os mandamentos de Jesus? Ninguém precisa acreditar em Deus ou em Jesus para enxergar a desumanidade e a crueldade que é usar algo em que uma pessoa acredita e a que ela se agarrou como tábua de salvação para tirar dinheiro dela.

Não tenho a intenção de abalar a fé ou a crença de ninguém. Como disse no início do texto eu tenho fé, creio em Deus e não quero que ninguém deixe de crer. Minha intenção e a da minha família, principalmente da minha irmã, mãe do Igor, é alertar outras pessoas para que não caiam em ciladas da fé. Creiam, mas não se ceguem! O guia espiritual, seja da religião que for, é um homem igual a gente com as mesmas possíveis qualidades e os possíveis defeitos. Não há perfeição aqui. Pratiquem sua fé, mas respeitem os outros. As pessoas que freqüentam as igrejas e templos não podem ser taxadas de pessoas ruins porque há dirigentes que são mau caráter. Os seguidores de uma crença estão ali pelo que crêem, estão em busca de uma comunhão com Deus, errados são aqueles que usam disto para obter lucro. Dizem estes senhores que seguem Jesus, mas vendem seus fiéis tal qual fez Judas, dando inclusive o beijo da traição na face.

A história pode ser ainda mais triste e macabra. Mas por enquanto vou parando por aqui. Espero que este pastor assassino, porque ele cometeu um assassinato sim orientando meu sobrinho a não tratar-se, tenha consciência e que sua consciência doa e o faça pensar no erro tremendo que o cometeu.

Sei que o Igor está sendo auxiliado no astral, que recebe, embora não acredite, o auxilio que precisa da espiritualidade. Peço a todos que orem pedindo luz pra ele. Pedindo força pros pais dele e pra toda a família. Solicito que compartilhem, comentem, alertem as pessoas de suas relações quanto a esta história. Ela é real embora pareça um romance. É a vida imitando a arte ou a arte imitando a vida. 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Saudade

Depois de tanto tempo de luta e sofrimento o descanso. Sabemos, pelo menos eu, espírita que sou, creio que é só um até logo. Fica a saudade. E fica a dor de uma mãe que chora inconsolável. Não há palavras de consolação, não há o que dizer.
Não me atrevo a dizer qualquer coisa. Minha dor e minha saudade não são nada perto do sofrimento da minha irmã. Mas sei, que posso, em nome dela e de toda a família agradecer aos médicos (Franco, Marcio Costa, Chiara, Gustavo Zerwes, Ricardo Haack), aos enfermeiros da Santa Casa de Misericórdia e a equipe do pronto atendimento da Unimed, que fizeram todo o possível para auxiliá-lo.
Agradecemos também a todos os amigos que sempre que puderam acompanharam a luta do Igor (mesmo discordando da escolha feita por ele), que ajudaram com doações de sangue, com palavras de força e com o ombro amigo para todos nós.
Não tenho nenhuma dúvida que ele foi um grande amigo, bom de coração e extremamente querido. A presença de tantas pessoas no seu funeral são a prova do quanto era amado. Só alguém bom e cativante tem esse retorno. É como uma frase que diz que devemos viver a vida para ao partirmos que sejamos aquela pessoa que os outros irão lamentar não poder mais conviver e não aquele que as pessoas irão alegrar-se por ter partido. O Igor, não era perfeito é verdade, mas é a pessoa que todos lamentaram a partida.
Que Deus através dos bons espíritos iluminem o Igor nesta sua nova jornada! E que nossos amigos de luz ajudem a consolar minha irmã.Faço mais um pedido, que todos rezem pelo Igor para que tenha luz e paz e pelos seus pais, para que tenham muita força e resignação.
A todos vocês amigos queridos meu sincero agradecimento!