quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A fé que cura e a fé que mata


Sou uma pessoa de fé. Acredito em Deus. Sou espírita, frequento o centro, tomo passe, oro e faço o evangelho no lar. Tenho uma infinidade de defeitos. Mas tento guiar minhas atitudes dentro dos ensinamentos de Jesus Cristo, que foi um homem como nós, em carne, só que muito mais evoluído espiritualmente que qualquer outro ser encarnado e muito mais do que qualquer cristão poderia descrever. Principalmente certos cristãos que creem estar acima do bem e do mal.

Tenho plena consciência de que a fé ajuda na cura de doenças. Inclusive há estudos sobre a relação cura e fé. Mas compreendam bem, não sejam tolos ou arrogantes de imaginar que serão curados sem fazer um tratamento físico. A fé auxilia na cura, porque parte do tratamento é espiritual. O corpo tem que ser tratado com o medicamento, com a cirurgia, com o soro, com a injeção, com o curativo. Conheço pessoas religiosas que tiveram doenças graves que se curaram bem mais rapidamente da sua enfermidade por crer em algo maior. Seja lá o nome que se queira dar. Enquanto outras fizeram o tratamento, curaram-se com um pouco mais de vagar por não ter uma fé. E conheço pessoas que estão morrendo em sofrimentos medonhos por serem orientados a não tratarem seu físico e ficarem apenas com a fé.

Sei que alguns vão dizer, são fanáticos que morram estão escolhendo isto, nada mais natural. Mas tenhamos compaixão, empatia. Alguém que recebe o diagnostico de um câncer maligno (ainda que hoje existam tratamentos eficientes) ou um exame de HIV em que descobre ser portador do vírus sente-se como se houvesse recebido uma sentença de morte. No primeiro momento se sentirão abandonados, revoltados, perdidos. Irão buscar além do tratamento médico tudo e qualquer tipo de cura alternativa que lhe oferecerem. É muito difícil manter o equilíbrio sabendo a barra que tem de enfrentar no tratamento de tais doenças. Então as pessoas vão buscar na igreja, na umbanda, na benzedeira um conforto pra sua alma. Não podemos julgá-las. Elas estão sofrendo. Estão desesperadas.

Mas o padre, o pai de santo, a benzedeira, o rabino, o pastor tem que saber que tem grande responsabilidade junto daquela pessoa. Suas palavras serão regras, serão ordens praquele ser que busca sarar seus males. E eles devem ser responsabilizados criminalmente, se preciso for, ao orientarem alguém a largar o tratamento médico. Mandar alguém não fazer um tratamento é assassinato, porque aquela pessoa não quer morrer, ela esta buscando algo que a conforte e ajude em momento tão difícil.
Pastores que orientam seus fiéis a não se tratarem devem responder criminalmente. Pois não é assim que o médico responde por um erro ou por negar atendimento?

Estou vivendo a perda do meu sobrinho de 24 anos, com toda a vida pela frente. Ele foi diagnosticado com um sarcoma maligno no braço esquerdo e foi orientado por seis médicos a amputar o braço, pois desta forma tinha 79% de chance de cura. Ele morreu esperando um milagre que lhe venderam. Eu digo que ele foi assassinado, pois o pastor, mentor espiritual dele disse que ele não deveria fazer a cirurgia, que os médicos queriam mutilá-lo. Aliás, esta criatura que se diz servo de Deus, disse em alto e bom tom que (vejam se não é caso de polícia) “mesmo que Deus lhe dissesse que o Igor deveria fazer a cirurgia ele não diria”. Foram as palavras dele, dentro de uma sala cheia de testemunhas. E o Igor me disse que se Deus o orientasse a fazer a cirurgia ele faria. Mas não adiantou dizer que era o que Ele queria. Não adiantou que outras várias pessoas que o amavam lhe dissessem. Ele precisava ouvir da boca do pastor, que se negou a dizer mesmo quando a mãe do Igor implorou que ele dissesse.

Este pastor de meia pataca agiu da maneira mais vil e cruel, de maneira que pessoas de bem nem conseguem imaginar tamanha crueldade e mesquinhez. Ele via o guri com dores horríveis e dizia que ele não devia tomar os remédios pra não se “viciar”. Fez com que meu sobrinho passasse vários meses com dores terríveis, agüentando no osso do peito as dores lancinantes, que ele corajosamente chamava “desconforto”. Mesmo nos últimos dias, já com metástase nos pulmões e em outros órgãos o Igor tinha medo de tomar morfina e enfraquecer o coração ou se viciar. Porque ele esperava o milagre que o pastor lhe prometera. A cura, a reconstituição do braço e suas carnes necrosadas. O milagre para o qual se preparara batizando-se, deixando de sair com os amigos de sua idade, indo de casa para a igreja e da igreja pra casa sem um divertimento. E quando ele se deixava levar pelo espírito juvenil e ia a um baile os seguidores do tal pastor e o próprio diziam que ele estava se desviando. Levando-o a crer que não recebera o milagre ainda por sua conduta. Como se Deus fosse um tirano torturador, que só julga e cobra.  O pastor falava ao Igor que ele não podia ficar deitado, que tinha que se forçar e caminhar, mesmo que o corpo não tivesse forças pra isto. Mesmo que se esvaísse o pouco de vitalidade que lhe restava. O pastor deu contra sempre! Foi contra todas as indicações médicas, chegando ao ponto de dizer, quando um dos médicos sugeriu tratamento psicológico, que “psicólogo é pra louco!”.

E nós, que tanto brigamos, argumentamos, amamos o Igor pedindo que ele fizesse a cirurgia não tivemos o crédito que o pastor assassino teve. E assim como este homem teve coragem de orientar um jovem do seu próprio sangue, a não tratar sua enfermidade grave, ele deve orientar outras pessoas com doenças tão graves quanto a dele, sempre pedindo dízimo, sempre estendendo a mão para pegar o dinheiro daquele que nele crê. Sem dar ao próximo um pingo de compaixão. Este sujeito é tão cara de pau que cobra até para fazer uma oração. Vejam se é coisa de quem diz seguir os mandamentos de Jesus? Ninguém precisa acreditar em Deus ou em Jesus para enxergar a desumanidade e a crueldade que é usar algo em que uma pessoa acredita e a que ela se agarrou como tábua de salvação para tirar dinheiro dela.

Não tenho a intenção de abalar a fé ou a crença de ninguém. Como disse no início do texto eu tenho fé, creio em Deus e não quero que ninguém deixe de crer. Minha intenção e a da minha família, principalmente da minha irmã, mãe do Igor, é alertar outras pessoas para que não caiam em ciladas da fé. Creiam, mas não se ceguem! O guia espiritual, seja da religião que for, é um homem igual a gente com as mesmas possíveis qualidades e os possíveis defeitos. Não há perfeição aqui. Pratiquem sua fé, mas respeitem os outros. As pessoas que freqüentam as igrejas e templos não podem ser taxadas de pessoas ruins porque há dirigentes que são mau caráter. Os seguidores de uma crença estão ali pelo que crêem, estão em busca de uma comunhão com Deus, errados são aqueles que usam disto para obter lucro. Dizem estes senhores que seguem Jesus, mas vendem seus fiéis tal qual fez Judas, dando inclusive o beijo da traição na face.

A história pode ser ainda mais triste e macabra. Mas por enquanto vou parando por aqui. Espero que este pastor assassino, porque ele cometeu um assassinato sim orientando meu sobrinho a não tratar-se, tenha consciência e que sua consciência doa e o faça pensar no erro tremendo que o cometeu.

Sei que o Igor está sendo auxiliado no astral, que recebe, embora não acredite, o auxilio que precisa da espiritualidade. Peço a todos que orem pedindo luz pra ele. Pedindo força pros pais dele e pra toda a família. Solicito que compartilhem, comentem, alertem as pessoas de suas relações quanto a esta história. Ela é real embora pareça um romance. É a vida imitando a arte ou a arte imitando a vida. 

Nenhum comentário: