É estranho quando alguém parte a sensação que fica com a gente. Mesmo quando a pessoa não desencarna as coisas mudam muito. O nosso encontro com aquela pessoa não vai ser mais tão frequente quanto antes. Talvez nem o contato. O que sentimos é aquele vazio, aquela falta de ver o rosto familiar num encontro casual.
Lembro das minhas perdas na família de forma bem clara. A primeira de que me dou conta é a da minha tia avó Edite, que era doente e a qual sempre via em sua cadeira de rodas na sala da casa da vó Mália sendo cuidada pela vó Mila. Quando a Edite faleceu era muito estranho chegar na vó e não encontrar aquela cadeira na sala! Eu devia ter uns nove anos. Não chorava a perda, mas sentia muita falta. Não compreendia direito pra onde ela tinha ido, nem porque.
Em seguida perdemos a minha bisa. Minha mãe sofreu muito esta perda e lembro dela comentando que pra ela não fazia sentido o sol brilhar e a vida seguir sem a vó Mila ali junto de nós. Eu lembro da noite que meu pai me contou que a vó Elmiria tinha morrido. Ele recém tinha recebido a notícia por telefone. A falta da minha bisa era sentida desde a esquina da casa da vó Mália de onde a avistávamos escorada no muro nos esperando todas as tardes. Para compreender isto leva tempo! Na verdade para conseguir não enxergar a vó Mila ali, na frente da casa, com o braço apoiado no muro levou tempo. E não fosse a casa não estar mais lá, tal como era, é bem possível que ao entrar na rua eu a avistasse. Porque meus olhos sentem saudade de ver aquela imagem.
Como espírita eu sei que elas estão bem, talvez até já no nosso convício novamente. Mas a saudade fica e as lembranças permanecem sempre. Sem contar que cada um encara esta ausência de forma diferente.
Atualmente sentimos, e posso dizer que toda a família sente de forma unanime,as faltas do tio Zé e do Igor. É como um sonho. É como se a qualquer momento fossemos encontrar um deles, como se eles fossem chegar a qualquer instante. Ainda que eu saiba que bons espíritos os amparam, e eu peço isso todos os dias, se bobear a cada vez que lembro deles, a saudade é constante. E saber lidar com esta ausência talvez seja o mais difícil na tentativa de fazer com que a vida corra normalmente. Porque não dá para simplesmente apagar aquelas pessoas que amamos tanto e que já fizeram a viagem. E também não dá para impedir que o sol brilhe e que a vida siga. É um momento de readaptação. E a vida é readaptação constante.
Agora mesmo enquanto escrevo não consigo impedir que uma lágrima caia. Não consigo ignorar a ideia de que sofrer os fará sofrer também. E não conseguir racionalizar isto sempre, deixando escapar a lágrima ou um suspiro de saudade é me sentir viva e me sentir gente. É sentir a contradição de querer aquelas pessoas bem e felizes e, ao mesmo tempo, querê-las comigo.
O melhor nestes casos, como para tantos outros, é o tempo. É o remédio que atenua a dor. É o senhor sábio que nos aconselha. E é através dele, no "correr" dele, que a vida vai voltando a seu curso.
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