quinta-feira, 2 de junho de 2016

Sobre o aborto, o livre arbítrio e a religiosidade

Eu acho que nunca faria um aborto, por questões íntimas e religiosa. Mas são questões minhas, só minhas. E são questões de foro íntimo, nenhuma delas é de cunho policial, ou do âmbito do direito. Conheço algumas mulheres que fizeram aborto, garanto a vocês que a maioria delas se arrependeu e carrega um pesinho na consciência. Não creio, sabendo como as técnicas de abortamento funcionam, que uma mulher tome esta decisão de cabeça fria, sem medo, sem tormentos e profunda tristeza.
Foto: Comunidade 33 dias sem machismo 
Digo que acho que não faria um aborto porque não sei, assim como não tenho nenhuma ideia se algum dia terei um filho gerado por mim. E quando defendo o aborto, não estou defendendo que as mulheres o façam, defendo a descriminalização deste ato. Defendo que a mulher não seja colocada como criminosa por ter decidido não gerar um filho fruto de um estupro, por exemplo.
Sim, sou espírita e no espiritismo o aborto é condenado sob qualquer argumento, pois aquele que virá é um espírito que precisa da experiência carnal para evoluir. Mas vejam bem, esta é a MINHA CRENÇA, a minha RELIGIÃO, nenhuma mulher que sofreu abuso, jamais vai ouvir da minha boca que deve manter uma gravidez fruto de violência. A decisão é só dela! E ela tem livre arbítrio para decidir. Ela tem o direito de não querer passar nove meses lembrando que no seu ventre crescido se desenvolve um bebê filho de um desconhecido, filho de uma violação. Ela tem o direito de decidir, mesmo que isto vá impedir outro espírito de viver aqui. Não é justo condená-la, agredi-la de novo, como vi uma postagem uma vez em que uma mulher, contra o aborto, defendia que uma "vagabunda que faz aborto merece morrer!". Meu Deus, ninguém sabe o que levou aquela mulher a decisão do aborto.  Ela tem todo direito de decisão, aliás decisão que só cabe a ela. E a lei do retorno, já que estou falando da minha religião específica, também só será consequência pra ela. Ninguém é atingido pelo retorno de outro, assim como temos direito ao livre arbítrio somente nós somos responsáveis pelas nossas ações e recebemos as reações que nos cabem.
Defendo que a mulher que não quer ter um filho não seja criminalizada, que tenha o direito de fazê-lo sem risco a sua própria vida em clínicas clandestinas porque, como bem dizem, o espiritismo é uma doutrina libertadora. E eu não me sinto culpada em defender que a mulher tenha este direito. Como disse e volto a repetir, não é o aborto que defendo, mas o direito das mulheres de decidirem por isto. Quantas mulheres na nossa história foram mortas, agredidas até perderem seus filhos ou tiveram seus bebês arrancados dos braços por homens que não aceitaram a gestação? O feminismo, como algumas pessoas dizem erroneamente não pretende que as mulheres saiam fazendo abortos, sub-julgando homens e tantas outras barbaridades como vejo por aí. O feminismo apenas defende que as mulheres sejam livres e respeitadas. Que elas possam escolher dedicar suas vidas aos filhos e a casa e não ser obrigadas a isto porque o marido não as quer na rua. A independência da mulher não faz masculinizada, não é o que faz a mulher deixar de se embelezar para os homens. A independência da mulher a faz livre para decidir o que é melhor pra ela.
Não cabe a mim julgar, não é meu direito apontar os erros das outras quando eu estou carregada de erros. Não posso impor para outras que pensem como eu, de acordo com a minha religião.
É por isto que observo algumas pessoas postando coisas a este respeito sem se dar conta que o aborto é o último recurso de mulheres desesperadas e desamparadas. A gente até pode conversar com uma mulher que pensa fazer aborto e ajudá-la, até defendendo que ela tenha o bebê, respeitando, claro, o livre arbítrio dela. Podemos até pensar, hoje, sem nunca termos sofrido uma violência sexual, que teríamos o bebê. Mas isto é apenas uma suposição, é uma ideia. Para saber nossa reação só passando por ali.
Vamos amar as pessoas, mesmo aquelas que pensam diferente de nós, mesmo aquelas que fazem uma coisa que pra nós seria condenável. E aqui eu falo para meus companheiros espíritas, pois é o que o Mestre nos ensinou "amar os outros como a nós mesmos". Ele nunca disse pra amarmos só aqueles que pensam como nós! Esta questão da violência contra mulher é muito séria e precisamos nos posicionar de forma consciente, sabendo que não é possível ficar neutra.
Não quero entrar em embate com ninguém, apenas quero mostrar um outro lado, que penso que devemos levar em conta quando pensamos em algo que afeta a todos a luz da nossa religião. Assim como reprovamos a ideia de alguns seguimentos evangélicos de que apenas eles herdarão o reino de Deus, nós também não devemos nos deixar cegar pela nossa crença.

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