Desde que me conheço por gente sou contra a submissão da mulher ao homem. Sou feminista sim, precisamos do feminismo sim e para ser feminista não é preciso ser esteriótipo, basta ser mulher e pensar em todos os momentos de medo e tensão que passamos na rua ao lado de homens desconhecidos. Isto basta! O esteriótipo da feminista feia, peluda, que odeia homem é cruel! As mulheres que defendem mulheres que não conseguem se defender não podem ser tratadas assim. Do mesmo jeito que considerar uma mulher que gosta de se embelezar, usar maquiagem e moda de fútil, isto também é cruel. Ninguém é obrigada a ser feminista, aliás é por isto que o feminismo existe, para que nenhuma mulher seja obrigada a nada!
Quando eu era criança bem próximo de mim havia uma história de violência contra uma mulher que trabalhava para sustentar a casa, os filhos e um homem viciado em carteado, que não levava um grão de feijão pra casa e ainda perseguia a sua companheira, ameaçava e acusava de tudo que podia numa violência psicológica sem fim. Numa época em que ser mãe solteira era ser puta (e ainda existe quem pense assim hoje!) ela tentou manter a relação. Várias vezes saiu de casa com os filhos e umas trouxas de roupa e deixou pra trás casa, móveis e aquele que a fazia infeliz. Foram tantas vezes até que se deu conta de que já era considerada sem vergonha, mesmo estando naquele vai e volta com seu "legítimo" marido, mesmo que fosse com o pai dos seus filhos. Então decidiu que não precisava daquilo!
Seguiu em frente trabalhando muito! Criou os filhos com a força do seu braço e sempre teve olhares tortos por não ter se submetido calada a uma vida de violência dentro do lugar que deveria ser o mais seguro pra ela e seus filhos. Recriminavam por ela ter "deixado" o marido! Um homem que como sabemos nunca lhe respeitou e que depois da separação nunca procurou pelos filhos. Talvez no fim da vida né? Com o peso da idade, com a dor das doenças a consciência aponte a solidão e o porquê dela, então... pode ser que o arrependimento surja. Pode ser, não é certo! Afinal de contas quem pensa que é proprietário de uma mulher também crê que tudo que faz lhe é permitido da agressão verbal e psicológica a física. Ele pensa que tudo pode afinal é homem.
Eu vi isto na minha infância e nunca achei natural, nunca aceitei. Nunca consegui achar que ela que estava errada e que deveria mudar. Aliás, sempre achei que ela deveria mudar de casa, de marido, até que ela mudou! É uma mulher forte, que eu amo de todo coração!
Esta história poderia ter acabado mal, porque ele a ameaçava de morte! Sorte que nunca tentou!
Porque caso de assassinato de mulheres acontecem todo dia!
Há cinco anos atrás mais ou menos, quando meu pai foi fazer uma cirurgia e precisou ficar na UTI algum tempo estava internada uma moça que foi incendiada pelo ex-companheiro na esquina do hospital onde trabalhava. Num dos horários de visita os pais dela estavam lá e vocês não tem noção do sofrimento daquela gente humilde. A moça morreu! E a gente pensa que é sorte quanto sabe de algum caso de violência perto da gente que não termina assim.
Foi nesta época que uma amiga muito amada me contou meio por alto as brigas que tinha com o companheiro. O detalhe é que ela estava com a filha pequena noutro estado e sem nenhum parente ou suporte por perto. Numa das conversas por messenger ou msn, nem lembro, perguntei se ele era violento. Ela jurou que não, mas eu não acreditei. Uns dias mais tarde ela me mandou uma mensagem para o celular pedindo que entrasse na sua conta da rede social e mudasse a senha, pois desconfiava que ele estava acessando suas conversas. Um tempo mais tarde ela me disse que ele a agrediu. Orientei que ela fizesse um boletim de ocorrência e ela argumentava que seria inútil pois ele era policial e na cidade pequena pouca gente daria importância ao que ela dizia. Alguns meses mais tarde ela descobriu que estava grávida e concomitantemente descobriu que ele tinha outra mulher e que também estava grávida. Com a outra ele ia ao médico e acompanhava, com minha amiga não. Quando minha amiga dizia que ia embora ele ameaçava tirar o filho deles, dizia que ela seria presa se tentasse levá-lo embora. Então ela saiu de casa. Depois de uma briga com agressões físicas. Ela estava GRÁVIDA e começou a perder líquido amniótico. O bebê nasceu com sequelas. E eu ia sabendo destas coisas e não podia fazer nada. Ela fez o B.O. e tal como previa ninguém se importou. Ela estava sozinha! Ela quase perdeu o filho! Ela teve que ir pra outra cidade com ele mais uma vez sozinha.
Ele seguiu sua rotina sem nenhuma alteração! Enquanto ela estava dilacerada com um filho no hospital e o outro longe dela.
Quando o bebê ficou bem ela voltou pra sua cidade natal, mas a violência não acabou pois ele colocava o filho mais velho contra ela dizendo que a culpa de estarem longe um do outro era da mãe. O caçula precisa de cuidados especiais, que muitas vezes não se consegue na rede básica, mas o pai se nega ajudar com valores extra pensão alimentícia. Ela se desdobra para ajudar e sustentar as crianças, por sorte agora não está mais sozinha, esta perto da família.
Estes são apenas dois, três dos casos de violência que conheço! E tu aí do outro lado se pensar um pouco, se observar amigas, tias, primas talvez perceba também. É por isso que precisamos do feminismo. Fico feliz se tu nunca sofreu assédio ou violência, fico feliz de coração, mas não quer dizer que assédio e violência não existam. E não é por falta de jogo de cintura que as denúncias estão aparecendo. É porque o feminismo está ajudando as mulheres a se darem conta, a perderem o medo e a entenderem que a culpa nunca é da vítima, que elas não estão sozinhas. Vocês tem todo direito de não serem feministas, o feminismo defenderá este direito. Mas por favor defendam as mulheres!
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