Existem muitas coisas que eram tabu antigamente! Antigamente, devemos dizer, é bem recente, tipo 30, 40 anos. Recente sim, parece que quando dizemos faz 10 anos, faz 20 anos, as coisas estão láááá longe, mas na verdade as coisas estão bem perto, estão dentro do nosso próprio ciclo de vida! É engraçado, por exemplo, quando uma criança de 10, 12 anos diz, a minha vida inteira, ou toda a minha vida, porque ela viveu ali, dez, doze anos. Se uma década é pouco na história de uma criança, porque na nossa vida é muito???? A experiência da criança vale tanto quanto a nossa, adultos.
É por isso que a gente precisa conversar sempre com as crianças que estão a nossa volta, não só para orientá-las, mas pra aprender com elas. Obviamente que pessoas mais vividas tem experiências importantes e consequentemente alguns conselhos do que fazer e do que não fazer na vida, mas vamos deixar claro que estas vivências não o tornam o dono da verdade,
Por isso é necessário conversar com as crianças contando nossas histórias, nossos erros e acertos, para que eles possam saber um pouco da vida e fazer suas escolhas com alguma base.
Fiz uma lista de coisas que meus pais fizeram comigo, uma lista de filha, com alguns assuntos espinhentos e outros considerados tabu que acho interessante que os pais falem com os filhos, sem constrangimentos ou repressões.
1 O mais polêmico, constrangedor e difícil imagino para os pais e para os filhos é o SEXO. Desde muito cedo a criança começa querer saber sobre as diferenças entre meninos e meninas, como nasceram, como que a semente chega na barriga da mãe e vira bebê. Então é bom falar a verdade e com clareza. Dizer que o filho é muito jovem pra saber daquilo e cortar o assunto pode fazer com que a curiosidade aumente mais. Fala a verdade! Aliás, uma dica básica, a verdade é o melhor caminho sempre. Mesmo que doa, e ela dói!
É óbvio que tu não vai mostrar um filme de sexo pra criança. Quando ela perguntar: "Como nascem as crianças?" Não me venha com repolho ou cegonha. Diz que o pai tem uma semente, a mãe tem outra e quando eles namoram as sementes se juntam e a criança começa a ser gerada. O namoro é algo que dependendo do tamanho da criança vai gerar uma outra pergunta, mais ou menos cabeluda. Crianças pequenas entendem namoro como, por exemplo beijo na boca. Tá bom, responde que sim e deu. Quando ela quiser saber mais alguma coisa ela vai perguntar, pode acreditar.
2 Porque meninos e meninas são diferentes? Porque todas as pessoas são únicas e diferentes. E todas são especiais. Homens e mulheres tem órgãos diferentes para a reprodução, para poder ter filhos, se quiserem um dia. Eles podem perguntar sobre gurias que gostam de gurias e guris que gostam de guris. A coisa mais importante a dizer neste caso é que acontece, que faz parte da diversidade das pessoas e que é amor e toda forma de amor é bonita. NUNCA, nunca diga pro seu filho que homem gosta de mulher, mulher gosta de homem e o que tá fora disso tá ERRADO. Porque dependendo da idade do seu filho, das dúvidas que ele tem naturalmente durante a adolescência isso vai tornar a vida dele muito difícil. Veja bem, quem pergunta sobre homossexualidade não necessariamente tem dúvida sobre a SUA. Muitas vezes ele tem amigos ou vê colegas que sofrem bulling por serem afeminados e querem ajudar este amigo. Colocar seu filho contra gays e lésbicas não impedirá que ele seja e muito provavelmente o tornará infeliz, porque a adolescência é uma época difícil da vida da gente. Eu sei porque a minha foi bem chorosa! Além disso é natural que existam dúvidas. aliás a gente tem dúvida de tudo, se é adulto ou criança, se o que sente pela amiga é só amizade ou se é amor, porque a gente sente ciúme dos irmãos mais novos, porque nossos primos podem fazer um monte de coisas que a gente não, porque eu não sou todo mundo? Determinar para os adolescentes que ele não podem ser/fazer alguma coisa sem um bom argumento criará muitas outras dúvidas e dores , algumas vezes. E consequentemente infelicidade. E eu tenho toda certeza do mundo que a coisa mais importante pra ti é saber que teu filho é feliz. Então... converse com a mente aberta!
3 Quando teu filho começar a te perguntar sobre sexo, prazer e etc, não diz pra ele que é ruim. Assim como no tópico número 1, isto pode causar mais curiosidade. Fala a verdade, que é bom. Verdade melhor sempre mesmo que doa? Pois é. Diz que é bom, que só pode ser feito quando tiver A PERMISSÃO DOS DOIS ENVOLVIDOS. Fala que precisa tomar alguns cuidados muito importantes, um deles É O USO DO PRESERVATIVO. Para os meninos diga que: NÃO É SEMPRE NÃO. E para as meninas diga que QUALQUER TOQUE NÃO CONSENTIDO É ABUSO SIM E DEVE SER DENUNCIADO. Fala pra ele que os parceiros devem conversar sempre para se conhecerem e para saber sobre o que gostam. E QUE QUEM GOSTA RESPEITA O OUTRO SEMPRE TAMBÉM. Isto não é incentivo, tampouco consentimento para que os filhos façam sexo. É uma orientação para QUANDO (porque eles irão fazer sexo um dia) eles estiverem prontos para isso saibam que precisam se prevenir de gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e abusos!
4 Converse com seus filhos sobre o toque, o beijo e a permissão. Crianças também se sentem culpadas quando sofrem abusos e acabam não falando por medo e vergonha. Além disso tem o fato de que os abusadores ameaçam a criança com a morte dos pais. Diga que se um toque não for agradável e causar desconforto deve falar com os pais. Fale que ninguém pode tocar suas partes íntimas. Aproveita pra mostrar o vídeo do lado, ele é muito bom pra ajudar as crianças a entenderem o que é toque bom e o que é toque ruim.Conversar sobre isso vai ajudar para que ela se senta a vontade para conversar contigo sempre que tiver dúvidas. Porque a coisa funciona assim: se a criança tem dúvida e pergunta pro pai e ele manda perguntar pra mãe e a mãe diz que ele é muito pequeno pra saber ele vai perguntar pro amigo mais velho e isso pode dar certo e o amigo ser o cara que sabe das coisas, mas pode dar errado e o amigo causar uma baita confusão na cabeça do teu filho.
5 Outro tema difícil são as DROGAS. Mas, como qualquer tema a conversa é o que ajudará teu filho fazer a melhor escolha. Aqui a verdade também é a melhor resposta. Dizer que é ruim não é um bom caminho, principalmente se por acaso tu fumar ou beber. Fala pra ele que existem vários tipos de drogas e que elas causam danos a saúde, dependendo do tipo mais rápido ou mais devagar. Fala que inicialmente elas causam uma sensação boa e que é atrás desta sensação que os usuários (nunca diga drogados) vão e acabam se viciando. Ninguém se vicia em qualquer coisa que seja se a coisa for ruim e ele não gostar. Então seja honesto! Mostre as consequências do vício. E não julgue aqueles que estão passando por este problema. Eu sempre falei sobre isto com a minha mãe e nunca tive vontade de experimentar das drogas ilícitas, mas tenho certeza que se tivesse experimentado poderia ter contado abertamente pra ela e não seria julgada. Proibir não é uma boa ideia!
6 Fale sobre os idosos. Devemos ensinar as crianças a respeitarem e a valorizarem os mais velhos. Oportunize que eles convivam com os avós. Tá certo que hoje em dia os avós participam ativamente da vida dos netos, muitos fazendo as vezes dos pais levando na escola, buscando e cuidando. Mas é importante falar sobre a necessidade das crianças ajudarem os avós, deixando claro que eles não são empregados deles.
7 Este assunto faz lembrar de outro tema a necessidade de nossos filhos saberem que não tem empregados. Que eles precisam cuidar das suas coisas, limpar o que sujam, manter seus pertences organizados. E caso tenha uma auxiliar que cuide da casa deve deixar claro que esta profissional tem que ser respeitada. Não é porque tem alguém que organiza e limpa que el@ vai jogar as coisas, sujar e não se responsabilizar pela sua bagunça.
8 Converse sobre as coisas que seu filho gosta e sobre o que não gosta também. Isto vai demonstrar pra ele que estás interessado na opinião dele. Pergunte pelos amigos, pela escola, pelo que gosta de fazer no dia-a-dia. Deixe ele falar e preste atenção! Dedique toda a sua atenção a esta conversa, que pode ser no caminho da escola pra casa, pode ser antes de dormir, pode ser durante as refeições.
9 Falando em refeições... faça pelo menos uma, UMA DAS REFEIÇÕES com teu filho. O melhor seria que fossem todas, mas se não for possível, escolha uma delas e faça, como um ritual. Comam juntos, falem do tempo, do planejamento do dia, de como o cheiro do café é bom de manhã! Enfim, esteja presente em pelo menos uma refeição da criança.
10 Diga pro seu filho o quanto ele é amado e querido. Demonstre com gestos, auxilie nos temas da escola, jogue bola, brinque de quebra-cabeça, assista o filme ou a série favorita DELE, ande de bicicleta, faça piqueniques, ensine a cozinhar, convide ele e os amigos para fazerem trabalhos, festa do pijama e dormidão em sua casa. Dá trabalho, faz bagunça, mas são lembranças que nunca serão esquecidas. Caso teu filho seja adolescente deixe ele ir nas festinhas, no cinema ou shopping com os amigos. Leva e busca ele, claro, mas deixa ele ficar lá só com os amigos, aprendendo a se cuidar. Isso vai ajudá-lo a ter autonomia. E isso fará muita diferença quando ele precisar se virar sozinho. Sei disso porque fui um pouco protegida e tem algumas coisas com as quais não lido tão bem, por causa desta proteção.
Nenhuma das coisas que tô falando aqui é verdade absoluta. Mas são coisas que eu vivi na minha infância e adolescência e me fez muito bem. É experiência própria! Perceber que muitos jovens não tem nada disso na sua vida e estão adoecendo emocional e psicologicamente me causa enorme tristeza.
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