sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Reflexões durante o inferno astral

Eu tento, apesar de ser uma pessoa profundamente irritadiça, controlar a impulsividade, refletir a respeito do que sinto e de como sinto as coisas que as pessoas dizem, porque todas as pessoas em algum momento da nossa vida acreditam que tem a receita perfeita para sermos felizes. Quando criança e até minha vida adulta jovem ouvi as informações e conselhos dos meus pais com atenção, acreditava que acatar suas orientações seria o melhor caminho para mim, mas depois de um tempo percebi que algumas escolhas deveriam ter sido feitas por mim lá atrás, sem esse direcionamento dos pais, visto que quando fiquei por minha conta em outra cidade acabava sem saber como deveria agir e nem sempre tinha a oportunidade de compartilhar as dificuldades e ouvir os conselhos antes de fazer as escolhas. Era independente, sendo totalmente dependente.  Mas vejamos bem, na psicologia o terapeuta dava um chacoalhão e fez com que eu percebesse que estava por minha conta e risco e que os erros seriam meus, com ou sem o aval dos pais. Cabia apenas a mim fazer deles aprendizados.
Embora eu sempre ouvisse meus pais, nunca tive a mesma paciência com terceiros. Acabava algumas vezes brigando muito. Eu brigava muito, ou melhor discutia com meus pais, mas de maneira geral acabava por ceder, mesmo que dentro de mim permanecesse a chama da rebeldia juvenil. Já com pessoas de fora a cara expressiva já dava o recado de "quem pediu tua opinião?" ou "ave Maria quanta bobagem, ignorância e preconceito! Valha-me!". Mas o fato de não bater boca, a menos que seja provocada diretamente, parece-me fez com que as pessoas ficassem opinando sobre certas coisas na minha vida como se estivessem assistindo novela da Glória Peres ou torcendo pra seleção brasileira! O que já ouvi de tira esse cara daí, pega outro mais novo, mais magro, mais bonito, mais... E depois dos abortos então... O que me mandam fazer tratamento, "encomendar" sem o consentimento do pai, tomar remédio, já me disseram até pra fazer promessa! O mais interessante é que eu digo que não vou tentar mais logo que a pessoa pergunta, só que eles não escutam! Seguem dando receita e contando o caso da vizinha que foi na médica fulana que mandou tomar no c*, ops! Digo, receitou ácido fólico e saúde da mulher e exercício físico e sexo três vezes ao dia. Quer dizer que tenho que fazer como o interlocutor e fingir que estou escutando toda a narrativa, com cara de paisagem (que não rola!) e no final de tudo que me "aconselham" repetir o que disse no início "não pretendo mais tentar engravidar!". E às vezes ainda tem quem complete, ah! tem certeza? Mas eu acho que tu devia tentar mais uma vez! A filha da vizinha da minha cumadre lá de cacimbinhas teve 19 abortos espontâneos, mas daí ela fez uma promessa e duas simpatias, além de umas injeções na barriga e mais ácido fólico, saúde da mulher e uma vitamina de ovo de codorna com amendoim e leite condensado com vinho do porto e ficou grávida de trigêmeos. Pois é, a Fátima Bernardes também, mas eu vou deixar pra próxima encarnação ou, se mais adiante eu ainda quiser ter um filho eu adoto.
Ah!
Geralmente o assunto começa e termina sem que a criatura tenha perguntado como que me senti em relação a isso. Se fiquei bem! Querem saber se tenho algum problema, se a médica disse porque aconteceram os abortos. Nesta fase também ignoram a informação que dou, de que @s médic@s  dizem que abortamento espontâneo é muito comum nos três primeiros meses e que algumas mulheres nem chegam a saber que estavam grávidas. E que, apesar de todo o avanço da medicina, mulheres com mais de 40 anos acabam tendo esta dificuldade natural. Ah! Mas a prima da cunhada do meu irmão teve o filho caçula com 46. Pois é, filho caçula, antes disso ela teve outros e provavelmente antes dos 40!
Não passa pela cabeça das pessoas que algumas coisas não bastam ser queridas! Tipo casar e ter filhos, geralmente estas duas necessitam, obrigatoriamente, de outra pessoa. Que cá pra nós algumas vezes quer casar, mas não quer ter filhos. Outras quer ter filhos e morar em casa separada ou não quer casar nem ter filhos, só quer namorar e ter uma vida sem compromissos. Aliás, este último grupo tem crescido. E eu tenho que respeitar a vontade das pessoas, inclusive a do meu parceiro, que é outra pessoa e muitas vezes tem interesses e projetos que não batem com os meus. E aí tem que ter muita conversa e negociação e isso não diz respeito a mais ninguém a não ser nós dois!
Mas porque todo esse blábláblá? Porque semana que vem completo 41 anos e me dou conta a cada dia que se meus pais tivesse me feito me virar mais cedo eu teria ainda mais maturidade hoje em dia. Acredito que isso teria me ajudado a ter mais iniciativa em relação a muitas coisas. Eu gosto da pessoa que eu sou, tenho consciência de tudo que mudei e até melhorei, mas ainda posso e preciso fazer mais. Diz-se por aí que a vida começa ao 40, sou uma criança prestes a completar um aninho com muita experiência.
O que contei aqui é engraçado e parece inventado, mas aconteceu comigo. Eu tenho consciência do meu potencial maternal e eu exerço esse potencial desde os meus 11 anos, quando meu sobrinho Igor foi morar lá em casa. Eu nunca deixo de fazer para meus sobrinhos as comidas ou atividades que sugerem. Eu sou tia, dinda e sou também meio mãe e meio avó! Faço vontades, dou uma ralhada e ensino coisas que eu nunca pensei que ensinaria aos meus filhos, porque eu nunca me imaginei com filhos. E graças a Deus eu os tenho através dos meus sobrinhos todos! Ah! E pr'aquelas pessoas que acham que eu vou me arrepender ou que eu preciso gerar uma criança e pari-la para que seja meu filho eu digo essa necessidade não é minha. Além disso, depois de ter visto Gal Costa e outras mulheres adotando seus filhos depois dos 50 eu me dei conta de que o relógio biológico só dá o start, mas a ação de buscar ter um filho vai além do nosso corpo perecível ela tá na alma e no nosso coração e acontece no momento em que a gente olha nos olhos da nossa criança. Isso acontece logo que a parimos ou assim que a encontramos na vida! Eu sei que nada acontece por acaso e que a vida não tem receita, portanto, vamos parar de querer dirigir a vida alheia e vamos prestar atenção na nossa!
Esse texto começou a ser escrito no auge do inferno astral cruzado com a TPM. O sol já tinha deixado leão e eu estava além de cansada, p da vida e me sentindo uó! Agora, creio que os hormônios baixaram, o inferno astral tá se esvaindo e o sol em virgem fez com que eu parasse de palhaçada  e voltasse ao estado normal se não ia tomar uma coça.
Apesar de toda essa chuva e do meu cabelo tá um horror, sinto-me mais harmonizada e alegre. Sem nem um  pila no bolso, mas bem!

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