Remexendo em fotos antigas encontrei uma que me levou direto para o pátio da escola. Não, a foto não era do colégio e nem era de nós dois. Mas a foto aconteceu naquele dia em que mais intensamente nos olhamos nos olhos, quando eu descobri que te amava e não pude mais esconder.
Ind'agora se eu fechar meus olhos sinto tuas mãos nos meus ombros segurando-me firme como se eu fosse fugir. Na verdade... havia em mim um misto muito estranho que hora me fazia querer sair correndo e hora me fazia querer nunca mais sair dali. Minhas pernas ficaram bambas por um segundo. Sentia minhas bochechas queimando e a boca seca. A voz não saia, como se algo pastoso as retivesse na garganta. As sensações eram, ao mesmo tempo de extâse e horror. Queria ficar ali sobre a proteção do teu olhar, sentindo o calor das tuas mãos. E tinha também o medo de ter entendido tudo errado.
Tua voz soa, reverbera em meus ouvidos! E é tanta informação, tanta lembrança que me vem ao me ver naquele dia, que chego a agradecer por não sentir o cheiro daquele pátio, do bar do colégio, o perfume do teu corpo! Mas... ainda que a fotografia não tenha cheiro sou capaz de me reportar pr'aquele pátio molhado, com cheiro de chuva e tomado de granizo. As bolinhas de gelo cortavam o ar indo parar nas costas, na cabeça ou nas pernas dos colegas. E nada disso me importava porque eu estava diante de ti, sentindo o calor, a tua energia que me rodeava feito um escudo e que não permitiu que nenhuma daquelas pedras acertassem minha cuca.
Mas nada, nada marcou mais minha lembrança que teus olhos negros pousados nos meus. Aquele olhar profundo, doce, impetuoso e um pouco triste me fazia sentir um sufocamento. A impressão que eu tinha era que capaz de sentir tudo aquilo que te entristecia e angustiava. Eu bem queria poder causar em ti toda a euforia e o amor que causavas em mim. Queria que te sentisses protegido sob o meu olhar, que tu pudesses te ver, te enxergar como eu te enxergava. E aquele momento que pra mim pareceu loooooongo, chegou ao fim com a sirene de entrada pra aula. Teu nariz já havia roçado levemente o meu, pude sentir teu hálito e quase tocar tua boca. Então nos afastamos! Não, não nos beijamos!
Mal sabíamos que nosso próximo encontro só aconteceria mais de 20 anos depois. Mal sabia eu que sentiria tudo de novo ao me deparar com teu olhar que ao mesmo tempo que me ampara me desafia. é como se teus olhos me dissessem: pula.
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