terça-feira, 26 de junho de 2012

O pé redondo - Histórias de fantasmas


Quando eu era criança, era muito comum, em noites que se juntava toda a família as pessoas contar histórias de terror, principalmente para apavorar as crianças. Todo mundo tinha um causo pra contar de assombração, de fantasma, da mulher de branco, de lobisomem e por aí ia...

Nossos olhos ficavam abotoados de pavor imaginando aquelas criaturas e a situação se desenrolando seja lá aonde tinha se passado. Na minha família todo tipo de causo de assombração aconteceu e pensei em dividí-las com uma série contando aqueles de que lembro.

Começo a série com a história de um primo da mãe, o Vilnei. Dizem as más línguas que ele era mentiroso, inventava histórias cheias de detalhes, que amedrontavam quem escutava e que jurava de pés juntos, cruzando os dedos e tudo de que se tratava da mais pura verdade. 

Teve uma época em que a bicicleta era um meio de transporte único para os trabalhadores, os namorados que iam visitar as amadas ou para quem precisava levar um recado, ou fazer compras, enfim... Hoje tem pessoas que querem cultivar (ou seria replantar?) a ideia na tentativa de um mundo com menos poluição, menos carros, menos estresse. A ideia é boa e tem germinado, tomara que cresça muito e dê frutos. 

Mas naquele tempo em que a bike era o meio de transporte, esse primo da mãe não fugia a regra e andava de bicicleta pra todos os lados, pro serviço, pras festas, nos passeios.
O Vilnei contava que tudo aconteceu numa noite de lua cheia tão clara que iluminava tudo! Ele vinha da Sanga Funda, ou seria do Fragata? Bem, ele vinha num destes caminhos pedalando naquela noite enluarada. Antes de chegar perto do cemitério contava ele que alguma coisa pediu uma carona. E a bicicleta ficou pesada que só vendo! E ele pedalava sem coragem de olhar pra trás ou pro lado e descobrir do que se tratava.

Tremia de medo olhando apenas pra frente e fazendo tremendo esforço nas pernas pra movimentar a bicicleta. Num momento de coragem olhou por baixo do braço e viu... viu o pé redondo do caroneiro aterrorizante. Com certeza deve ter pedalado um pouco com os olhos fechadas na tentativa de não ver mais nada. Quando chegou perto na frente do cemitério o caroneiro saltou gritando:
_ Muito obrigado!

E o Vilnei, como dizemos por aqui, se cagando perna abaixo de medo da assombração. Chegou em casa e jogou a bicicleta em qualquer lugar e se socou debaixo das cobertas tapando a cabeça. Todos queriam saber o que tinha acontecido com ele, qual era o problema. Mas ele apenas disse:
_ Dei carona pro diabo!

Esta história foi contada tantas e tantas vezes na minha infância que perdi a conta! Povoava nosso imaginário, nos amedontrava demais. Hoje em dia, comentando o causo chegamos a achar graça do acontecido e nos perguntamos, como é que sentíamos tanto medo!
O Vilnei, muitos anos mais tarde foi encontrado morto com uma facada em frente a casa em que vivia sozinho. Nunca se descobriu o assassino ou o motivo do crime. Esta sim é uma história de terror! Talvez a palavra correta seja trágica! Um causo muito triste da vida real, causo de morte matada e das quais os jornais estão cheias.


Um comentário:

Unknown disse...

Imagina esses casos sendo contados em uma casa no meio do mato, sem iluminação apenas com uma fraca luz de lampião!! ficavamos todos morrendo de medo!