quarta-feira, 22 de março de 2017

Sopa de pedra

Quando eu era criança ouvia falar da história de uma mulher muito pobre que fazia sopa de pedra para seus filhos. Era uma coisa que eu não entendia! Na verdade ainda hoje não entendo. Minha mãe conta as histórias da sua infância e como passou necessidade e não tiveram comida muitas vezes, como sobreviviam com dificuldades e apoiados no empreendedorismo do tio Toninho que fazia todo tipo de trabalho possível para levar alguma comida pra casa. Não é um tempo tão distante não década de 50 e 60, talvez um pedaço de 70, um período relativamente próximo de nós.
Considero um tempo bem próximo de mim. Porque quando eu nasci em 1977 ainda estávamos sob a ditadura militar e tinha ainda muita pobreza. Aliás, hoje ainda existe muita pobreza. A mãe costumava dizer (e diz ainda) que a gente não sabe o que é passar trabalho ou fome. Graças a Deus e ao trabalho dela e do pai não sabemos. Isso quer dizer que o tempo de criança dela foi muito mais difícil que o meu. Praticamente não haviam casas na redondeza por onde ela morava e as pessoas não tinham a quem pedir ajuda, porque estava todo mundo no mesmo barco.
Sempre fui pobre, mas sou uma privilegiada! Era nesta época de colégio, que eu não tinha nenhuma vontade de comer que a mãe contava (com o intuito de me fazer comer) que tinha uma mulher que alimentava os filhos com sopa de pedra. E eu pensava, mas como que as pessoas comem pedra????? Que coisa horrível deve ser!
O tempo foi passando e pude perceber que muita coisa mudou. O bairro onde eu morava já não é mais tão despovoado, nos lugares onde era apenas campos agora estão cheios de casas. A população cresceu e vários auxílios ajudaram as pessoas a terem suas próprias casas. Mas ainda assim tem gente que passa fome, mesmo com bolsa família, mesmo com pastoral da criança, mesmo com sopão de rua. Porque é muita gente no nosso país, gente que trabalha e ainda assim não tem como botar comida em casa, ainda assim passa perrengue porque tem que pagar transporte caro e de baixíssima qualidade, tem que pagar água, luz, alguns tem que pagar aluguel e por aí vai. E mesmo tendo gente um pouco melhor na vida, ainda tem gente que precisa apelar pra sopa de pedra ou papelão. É, não faz muito tempo vi uma reportagem em que uma senhorinha (não lembro em que lugar) se alimentava e aos filhos com sopa de papelão! Eu, que sempre tive comida em casa não consigo saber o que é pior neste cardápio sopa de pedra ou de papelão.
Enquanto estas pessoas estão tendo que optar por esta fonte de alimento os políticos estão desviando verbas públicas, as pessoas que deveriam fiscalizar os alimentos estão aceitando propina e deixando carne podre ir pras prateleiras dos mercados, os agrotóxicos poluir os rios, além dos alimentos e por aí vai. Ainda por cima temos que ver os intelectualoides dizendo que tudo que acontece no país é culpa do povo que não sabe votar! Do povo que tá, ainda, na miséria!
Agora a "carne fraca" tá mostrando os horrores que são os bastidores da indústria da carne, mas isto é só pra tirar o foco da reforma da previdência, que é o que vai destruir a vida das pessoas, muito mais do que a carne podre do açougue fedorento!

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