Vivemos num mundo que foi pouco a pouco acostumando-se a ouvir sobre as mais diferentes tragédias e mortes enquanto almoça ou janta em frente a televisão. Algumas vezes, logo que entrei no curso de jornalismo, vi professores e colegas comentando do sensacionalismo e do quanto determinadas matérias abalavam e como elas eram editadas para serem logo esquecidas. Ou seja, depois de uma notícia triste sobre a morte de alguém (coisa que deveria causar comoção!) vinha uma notícia de esportes ou sobre um show na cidade. Logo a primeira notícia perdia força e era esquecida! Esta era a forma como se determinava a edição de um telejornal por exemplo. Salvo quando aconteciam grandes tragédias e a cobertura jornalística massacrava familiares, amigos e até vítimas com perguntas e entradas ao vivo. Tanto se buscava que saturava-se (satura-se) os horários da programação com incontáveis inserções da mesma tragédia, às vezes sem nenhuma novidade.
Graças a Deus não me contaminei com esta banalização! Não consigo compreender que as pessoas se conformem com as barbaridades que ocorrem ou que pensem que "ah! isso é normal naquele lugar!". Não é normal pessoas serem metralhadas num carro porque faziam bem o seu trabalho como representante do povo. E também não é normal uma pessoa ser esfaqueada ou levar um tiro porque não quis entregar a bolsa ou o celular. SIMPLESMENTE NÃO É NORMAL! Não é normal uma gestante ter que fazer parto de emergência porque foi vítima de uma bala "encontrada". É sim, bala encontrada. Não existe bala perdida quando esta encontra o corpo de alguém e ceifa a vida de uma pessoa. Não é normal ter tiroteio na esquina, na frente, na rua de trás ou no bairro que a gente mora. Não é normal nem aqui em Pelotas e nem em nenhum outro lugar, nem no Rio, nem em São Paulo e nem em Porto Alegre. Em lugar nenhum a gente pode crer que é normal.
Não é normal sabermos e vermos notícias de jovens com todo o potencial e vida pela frente simplesmente desistirem de lutar. Não é normal uma criança de sete anos sair pra ir para a escola e sumir. Não é normal!
A gente precisa se comover sim com estas coisas. Precisa se mobilizar e até chorar, porque não é a nossa dor particular, mas é a dor de centenas de pessoas iguais a nós. Podia ser a nossa dor! Podia ser a dor da nossa mãe! Gente não consigo compreender que as pessoas achem que é só uma coisa cotidiana que aconteceu em Rio Grande, que amanhã depois vai acontecer em Morro Redondo e que vai acontecer em outros lugares porque as coisas são assim.
A gente precisa simplificar nossa forma de viver, diminuir o passo, ouvir quem está a nossa volta, amar, cuidar das coisas que gostamos. Precisamos ser simples, mas não podemos fazer destas tragédias coisas sem importância. Porque simples não é a mesma coisa que não ter importância. Seria muita falta de senso! Seria desvalorizar a vida demasiado! É óbvio que eu não preciso desmerecer a Marielle para reclamar justiça para o filho de um conhecido que foi morto num assalto. É evidente que a médica e tantas outras pessoas que perderam suas vidas em assaltos, em acidentes de trânsito causado por irresponsáveis que abusaram da bebida ou da velocidade merecem respeito, comoção e protestos. Mas para isso eu não preciso dizer que eles não estão recebendo o que lhes é devido porque não é político, ou porque não tem certa religião ou cor da pele. A gente tem que aprender a unir as coisas e dizer que o que aconteceu com fulana é inaceitável e o que aconteceu com ciclana também. Porque na verdade tudo está ligado!
Ainda bem que temos o exemplo da Marielle e tivemos tantos outros como Doroty Stein, Chico Mendes, Gandhi, Madre Tereza que lutaram pelos outros, lutaram por um mundo melhor. Temos várias outras pessoas que estão nesta luta. O momento é nos engajarmos, é darmos as mãos a elas. O momento é de unir forças pelo bem maior! Mas para que isso aconteça temos que colocar nosso orgulho e vaidade de lado, colocar o nosso umbigo em segundo plano e pensar na coletividade. Pode não ser fácil, mas temos e podemos começar agora. Pela humanidade, por nós!Vamos?
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