É engraçado como lendas e histórias se repetem país a fora. Cada região do Brasil tem um mote com lendas, "causos", histórias, mistérios e mentiras, que de tanto serem contados passaram a fazer parte do imaginário popular. Passaram a fazer parte do folclore local. Entre as mais comuns de norte a sul estão, sempre envolvendo mulher, a história da moça do cemitério e a mulher de branco.
A moça do cemitério é aquele caso conhecido em que um jovem, geralmente de fora da cidade, dança em um baile ou festa qualquer a noite toda com uma bela guria e ao levá-la para casa depara-se com os portões do cemitério. Esta história tem variações que são passadas de pais para filhos por todo o país. Nunca vou esquecer da declaração do cantor, Beto Barbosa, num programa de televisão, de que foi salvo por um fantasma. A história dele é bem bonita, e como espírita acredito muito na possibilidade de ser real. De acordo com o que o cantor disse ele estava fazendo alguns shows pelo interior do norte ou nordeste. A fase que estava vivendo era bem difícil porque havia acabado recentemente um romance. O que ele contou é que estava desesperado, pensando muito em dar fim a sua vida. Beto tinha como costume caminhar. E entrou num cemitério, onde ficou por algum tempo caminhando por lá. Ele conta que foi andando e sempre pensando em suicídio até que se pegou diante de um túmulo, rezando. Foi quando ouviu a voz de uma jovem, lhe orientando que não chorasse e não sofresse, que tudo passaria.
Ele conversou com a moça por algum tempo e pediu o endereço dela, para visitá-la. No dia seguinte, antes de seguir viagem, ele foi até a casa da garota. A mãe da jovem o recebeu e explicou que sua filha já estava morta há muitos anos. Como ele sempre afirmava que havia visto e falado com ela, a mãe pediu que ele lhe contasse o que havia acontecido e mostrou-lhe uma foto da guria. Era ela mesma! Para choque de Beto. A moça havia se suicidado por causa de uma desilusão amorosa. E o túmulo em que ele se pegou rezando era o dela. Histórias incríveis e misteriosas, mas, possíveis. Eu acredito! Como digo sempre, acredito em tudo. Só não creio muito nos gnomos, porque eles costumam mentir um pouquinho.
A minha mãe conta que uma vez a tia Rosa e meu avô viram a mulher de branco. Foi no mato, aonde hoje é a avenida Mário Peiruque, bem próximo de onde eu morei quando criança. A mãe conta que era uma noite de lua cheia, clara, que iluminava tudo. Ela diz que eles haviam carneado porco e estavam fazendo banha e toda aquela função. Mas faltou lenha e meu avô saiu para buscar mais, e como já tinha perdido a visão de um olho, levou minha tia Rosa com ele.
Cada vez que ouço esta história, quando chega esta parte, apesar de não ter conhecido meu vô, consigo vê-lo direitinho. A lua grande iluminando o campo e ele voltando com a tia Rosa segurando sua camisa aberta. Ele com o saco de lenha sobre a cabeça. De longe eles viram que vinha uma mulher, que ele pensou que fosse a vó Mália. Só que não era. Era uma mulher, toda de branco, que não caminhava, mas voava, flutuava no ar e veio na direção deles, resmungando umas palavras em outra língua. Ao passar por eles a mulher tocou o ombro da tia Rosa. Segundo ela um toque gelado.
Esta história sempre preencheu minha imaginação. Ficava pensando e criando as imagens na minha cabeça, a mulher bonita que pairava no ar, minha tia criança (como seria ela?), meu avô, camisa aberta sacudida pela brisa e a lua. Ah! A lua cheia, muito clara e gigantesca clareando tudo, como se fosse dia.
Como são boas estas histórias contadas à meia noite na cozinha, ao lado do fogão à lenha. Como era bom ouvir e imaginar as coisas que haviam acontecido há tanto tempo! Tentar enxergar como era aquela rua sem aquelas casas. Ouvir cada história e cada caso de terror junto com os tios e os primos. Era bom, mesmo que depois custasse dormir, com medo de que viessem me puxar dos pés ou soprar o meu ouvido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário