quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Dr. Bactéria ficaria de cabelos em pé

Com os tempos modernos muitas coisas se modificaram e algumas práticas da minha infância e da infância da minha mãe foram deixadas para trás. Como por exemplo, brincar na rua, correr pelas calçadas da vizinhança, fazer bolinhos de barro na frente da casa da minha avó ou tomar banho de valeta. Óbvio que a brincadeira na rua fica restrita as cidades pequenas e a alguns bairros da nossa cidade, que já anda bem violenta.
Agora, o banho de valeta... O tal doutor Bactéria, aquele da televisão que fica dizendo que temos que trocar a escova de dentes a cada três meses e as esponjas de louça mensalmente e que comer na rua é um perigo e tábua de cortar carne é um veneno... Imagina o que ele diria se soubesse que minhas primas e eu íamos ao banheiro comendo pão? E mais, que quando íamos nos vestir, ou limpar, repousávamos a grossa fatia de pão de casa na tampa do vaso? Com certeza diria que aquilo era, no mínimo, um nojo!
Calma gente, éramos crianças, e p'ra gente era natural fazer aquilo. Não havia maldade, nem nojo nenhum. Além disso, esta prática acontecia na casa da minha avó, seu banheiro era muito limpo e a tampa do vaso impecavelmente branco. Todos os adultos viviam nos dizendo para não sujar a casa, não sujar as roupas, lavar as mãos e todas aquelas mil e uma recomendações que as mães nos fazem. E, que agora eu repito para as minhas sobrinhas. Na nossa cabeça não sujar significava que estava limpo, portanto... qual o problema de colocar o pão ali pelos poucos segundos em que vestíamos as calças?
Outra declaração deste post que deve ter chocado os leitores é o banho de valeta. Para quem não sabe, valeta é um buraco que ficava (e em alguns lugares ainda fica) na frente das casas e para aonde vai o tal do esgoto. Eu também ficava com nojo quando minha mãe contava a história, porque quando eu era criança, lá na vila, as valetas eram cheias de lodo e sujeira. Como contei num outro post, por duas vezes as valetas ficaram no meu caminho e eu cai dentro delas.
Ela explicava que na infância dela as valetas serviam mais para escoar as águas da chuva do que para outra coisa, ao contrário, dos dias atuais. Claro que devia existir algum micróbio, bactéria ou até vírus que pudessem ser transmitidos pela água, mas os tempos eram outros. A poluição era bem menor, não havia garrafas pets entupindo bueiros, lixos atulhando as ruas e por fim, os dejetos dos banheiros não iam para as valetas, já que a maioria das casas não tinha água encanada, para ter água em casa era preciso buscá-la na bica e as necessidades eram feitas nas tais patentes. Umas casinhas que ficavam afastadas das residências. Eram meio nojentas, por conta do mau cheiro. Pero... era o que se tinha no momento.
A prática de banhar-se nas valetas era uma brincadeira comum entre meus tios e tias. Minha mãe conta que para proteger a saúde era feito, por eles mesmos, um vidro de chá de macela, ou carqueja. Banhavam-se e bebiam chá. Ao contrário do que pode pensar o doutor Bactéria todos eles gozam de boa saúde e raras vezes ficaram doentes na infância. Pelo menos não lembro de nenhuma história.
Como atualmente as coisas mais simples são explicadas por "especialistas" e ditas como mortais, imaginar uma meninice livre, alegre e com todas estas práticas deve ser difícil para quem não viveu esta época saudável do século passado.
O que me lembrou este momento foi o post do Vaz, falando sobre a macela colhida na sexta feira Santa e o comentário que ele colocou sobre os benefícios da planta para a saúde. Minha mãe e minhas tias já sabiam dos benefícios proporcionados pela erva.

Um comentário:

Luiz Carlos Vaz disse...

Pois é, na minha cidade natal as valetas eram só para correr água da chuva. Na época das enchurradas de verão era uma delícia tomar banho de chuva e fazer "atacação", verdadeiras represas de barro, com a água que corria livre ladeira abaixo.