segunda-feira, 26 de abril de 2010

Nomes bons para gritar

Tem nomes que parece terem sido feitos pra gente gritaaarrrrrrrrrr até ficar rouca. Não que eu saia pela rua gritando o nome das pessoas. Na verdade, quando eu vejo um conhecido na rua faço "psiu!", coisa, aliás , que eu não respondo quando fazem pra mim. Mas eu digo que tem nomes bons para gritar por causa da minha avó paterna. Eu não conheci meu avô paterno, pessoa muito boa, pelo menos, é o que se pode supor de alguém, mesmo sem conhecer, que se chama Gentil. Ele me conheceu. Chamava minha mãe de castelhana, porque ela sempre estava com o chimarrão do lado, e a mim de potranquinha. Não tenho lembrança alguma dele. Ao contrário da Vó Cela, desta sim tenho inúmeras imagens guardadas na memória.
A vó Idorcelina, mais conhecida como vó Cela foi morar lá em casa quando eu era bem criança, devia ter uns nove anos, acho... Ela morava nos fundos da nossa casa, onde tinha o quarto e a cozinha dela. Junto com ela vivia a minha prima Gilda, que deve ser uns cinco ou seis anos mais velha que eu. Nós aprontávamos muito, lá em casa éramos muito ligados a "Xita", como chamava meu irmão.
Foi um tempo muito bom, do qual guardo ótimas recordações. A vó fazia umas comidas que eu adorava, entre elas a canja e um picolé de chocolate, que ninguém sabe a receita. Ela fazia mate na casca da laranja de umbigo e era uma delícia. E este, mesmo sabendo como fazer, não é a mesma coisa. Porque aquele mate doce na laranja tem um gostinho de infância, de meninice, como diriam os poetas, que mesmo com todo o açúcar que se coloque na erva jamais será o mesmo gosto. Pode até ser parecido, pode ser o combustível para trazer a tona lembranças guardadas profundamente de dias ensolarados de inverno no pátio da minha casa. Mas o gostinho não será o mesmo.
A Gilda tinha muitas responsabilidades com a vó Cela, tinha que cuidá-la, ajudar nos afazeres da casa e tudo mais. Só, que ela era adolescente, queria farrear, namorar e ter um tempo pra ela, para as coisas dela. Mas quando não era a vó chamando, éramos eu e meus irmãos na volta dela. É por isso que digo que tem nomes que são bons de gritar, a "Xita" ia ver televisão com a gente lá em casa e a vó ficava nos fundos e de lá chamava...
_Giiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilllllllllllllllllllllllllllllllda!
Então ela saia correndo. Vez por outra acabava levando uns cascudos, umas bengaladas... Sabe como é... Por causa dessa possível herança genética, disse pro meu pai que não vou dar a ele bengala.
Aí! Fico escrevendo sobre a vó e lembro tantas coisas que aconteceram e que cotidianamente não recordo. Além das comidinhas, a vó Cela sempre levava o chimarrão da manhã para tomar com a mãe. Levava a sua cuia pequena, com ervas no bule d'água. Uma vez, nossa!, estávamos com uma obra em casa, e tinha umas caixas que o pedreiro usava para carregar massa. A vó vinha lá dos fundos com o bule de água e a cuia e caiu na caixa do cal. Pobrezinha! Ficou entalada na caixa gritando: (aqui relembro, mais uma vez, há nomes bons de gritar)
_Riiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiita!!!
Tivemos que chamar uma enfermeira que era nossa vizinha para fazer uns curativos na vó. Claro que depois de tudo a gente riu bastante da situação, porque ela caiu na caixa e não durrubou nem a cuia e nem o bule.
Minha avó não era uma pessoa assim tão fácil de conviver. Na época, era o que eu pensava, mas olhando pra trás, nós crianças e ela já mais velha, na verdade a maior dificuldade era a diferença de idade que existia. Ela queria que a gente se comportasse como adultos e, nós, do nosso lado sendo criança e achando que ela era muito chata. E ainda por cima não deixava a "Xita" brincar com a gente.
Mesmo com a ranzizisse da idade a vó sempre gostou de ter a gente por perto. Não lembro de sentar no colo dela, mas recordo de ficar na volta enquanto ela cozinhava, de ela nos repreender por colocar muito limão na comida, porque limão afina o sangue.
O mais importante foi ter convivido de perto com a vó e com a Gilda e de alguma forma com meus tios e tias. A família do meu pai não é muito de se visitar, mas quando a vó estava morando lá em casa todo o sábado as tias nos visitavam.
E o melhor de tudo era saber que a família era grande e cada tio tinha me dado mais de dois primos e que a convivência com alguns deles é algo que guardo com muito carinho no meu coração, numa caixinha valiosa que sempre levarei comigo.
Mais adiante foi contar umas histórias engraçadas da Gilda, minha prima querida.

2 comentários:

Unknown disse...

Dani,tuas historias me fazem voltar no tempo!!Eu disse tuas??!! Adoro todas!!

Luiz Carlos Vaz disse...

Lééééééééééliiiiiiiiiiiiiiii, isso tá ficando muito bom...