sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Nossa trilha podia ser Adoniran

_Nossa história de amor podia ter começado assim: "De tanto levar frechada do teu olhar/ Meu peito até parece sabe o quê?/Táubua de tiro ao álvaro/Não tem mais onde furar/Táuba de tiro ao álvaro/Não tem mais onde furar [...]", disse ela sorrindo.
Ele pensativo respondeu, olhando nos olhos, como naquele dia:
_É? Foi meu olhar que te frechou????
_Sim, eu nem estava pensando em nada, tinha entrado no boteco para beber com os amigos, dar umas risadas e só...

Enquanto falava lembrava mentalmente do que sentiu quando viu seus olhos verdes sorrindo pra ela. Mas, na verdade a música que fazia com que ela lembrasse dele era "quem te viu, quem te vê". Ela virou para ele e não o viu na velha cadeira de balanço.   Erguia-se do sofá, com um pouco de dificuldade quando escutou a voz do Chico cantarolando "Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala/Você era a favorita onde eu era mestre-sala/Hoje a gente nem se fala mas a festa continua/Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua".
Seu amor vinha, os pés arrastando as pantufas sovadas, pegou-a pela mão e foi até o centro da sala. Enlaçou seu corpo em posição de dança, aproximou-se dela. Beijou-a na testa e perguntou:
_Lembra desta minha véia?

Ela não respondeu, apenas sorriu. Então ele questionou:
_Tu gosta de Chico?
Ala não conteve a gargalhada frouxa.

Então, pela primeira vez, em 50 anos de união ele dançou com ela...
Ela olhou para o amado, já de cabelos e barba branca e percebeu que no cantinho do olho corria uma lágrima e falou:
_Adoro Chico e te amo, pra sempre!

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