Começo pedindo desculpas pela ausência, é involuntária! Não estou tendo muito tempo livre para exercer esta atividade de que tanto gosto que é escrever histórias, compartilhar sentimentos. Hoje, num dia mais calmo de sol manso e friozinho gelando o pé volto por aqui. Prometo que tentarei ser mais frequente!
Tenho uma lista de fatos que pretendo contar, mas algo triste e marcante me aconteceu no domingo e por isto vou passar esta história a frente.
Alguns estudos dizem que o máximo de amigos que conseguimos ter ao mesmo tempo são 150, li isto na Super Interessante. Talvez seja verdade... mas o fato é que durante a nossa vida conhecemos muitas pessoas, o grau de intimidade que temos com cada uma delas varia, como também varia entre os parentes. Mas algumas pessoas são muito marcantes e permanecem em nossas mentes mesmo depois de anos sem convivência. Já contei aqui sobre meu amigo Alexandre Godinho, que é um exemplo claro do que digo.
Amigo de verdade é aquele que faz tanto tempo ou temos tanta afinidade que simplesmente não lembramos como foi que eles entraram na nossa vida, pois parece que eles sempre estiveram lá. Claro, a gente lembra que foi na faculdade, foi no curso de inglês, foi no trabalho, ou um amigo apresentou. Mas o motivo verdadeiro... o que nos tornou realmente próximos não é claro, porque simplesmente somos amigos! Podemos ficar horas tagarelando, podemos sair pra dançar ou então apenas ficar um ao lado do outro... Podemos nos comunicar com gestos, com um olhar ou um leve sorriso, o que vai por fora é só um complemento porque a verdadeira comunicação é de coração pra coração. Tá dentro.
Domingo passado fiquei sabendo que uma amiga muito querida havia partido. Soube tarde, pois já vai dois meses que ela está no plano astral. Fiquei bem triste ao saber que não mais teria comigo outra pessoa capaz de dar uma gaitada tão grande quanto a minha, dentro ou fora de um galpão da vida. A Cristina foi uma grande amiga, não só pelo seu tamanho, pois era uma negra alta e espalhafatosa, mas principalmente pelo seu coração, seu bom humor, sua alegria de viver. Era impossível estar ao seu lado e não sorrir.
Dizem que os verdadeiros sábios são aqueles que riem de si mesmos e que não se levam tão a sério. Cristina era uma mulher muito sábia, pois ria de si e se a vida lhe desse um limão ela fazia logo uma caipira, uma limonada e uma torta de limão.
Viajamos junto para o Encontro Nacional de Estudantes de História (ENEH) em Salvador, para chegar lá fizemos festas, pedágios, juntamos grana de moedinha em moedinha. Fomos num ônibus duro, passamos um dia inteirinho em Santa Maria para sair a meia noite de viagem. Mas nada disto foi empecilho ou motivo para reclamações. Seguíamos firmes. Em Salvador dormimos em colchões no chão e aproveitamos muito cada minuto. Como não conhecíamos a cidade passeavámos em grupo. Mas grupo... sabe como é, muita gente uns querem ir pra um lado, outros pra outro. Então tiramos um dia para fazer compras num grupo menor. Minha mãe, a Gina, a Cristina e eu. Questionadas pelo pessoal que conhecia melhor a cidade se sabíamos aonde ir a Cris logo foi dizendo: "sei, sei sim, podem ficar tranquilos!"
Lá fomos nos quatro olhar banca por banca do Mercado Modelo! Na hora do almoço andamos o Pelourinho inteiro pra lá e pra cá atrás de um Banco Real (que dava dez dias sem juros no cheque) para sacar dinheiro e nada! E a fome batendo e pra cada lado uma ladeira e a Cristina foi ficando com mais fome e cada vez mais braba por não achar o banco. Chegou um momento em que estávamos nos arrastando loucas de fome e ela ia na frente. Atravessamos a Praça Castro Alves num riso só. A Tina furiosa e faminta e nós atrás rindo e se arrastando. Chegando no restaurante a pedida era um lanche, porque ninguém sabia direito o que eram as comidas da Bahia, o que levavam, se eram boas. Minha mãe sem problemas em se arriscar na gastronomia pediu logo um xinxin de galinha, com arroz e... (não lembro mais o que, mas perdoem faz mais de 14 anos isso). As gurias e eu pedimos um xis salada. Mas não sem antes indagar do tamanho do lanche e recheio. Quando chegou o lanche... decepção geral! A Cristina triste pensando que aquilo não dava nem pra cárie do dente lascou: "Só isso moço? Na minha terra um lanche, um xis salada dá dois deste aqui!"
A tarde foi longa e de muitas caminhadas. E como todo o turista que vai a Bahia não podíamos ter vindo embora sem berimbaus, artesanatos e uma porção de bugigangas. Agora imaginem vocês nós "cheias dos berimbaus" naqueles ônibus lotados de Salvador!? Pois é, minha mãe e eu ainda havíamos comprado um facão com uma carranca e um chifre de enfeite, o troço era uma coisa gigante e pesada que ocupava bastante espaço. Espaço este disputado taco-a-taco com os berimbaus e todos os outros presentes.
A tarde foi caindo e a noite se achegando e nós procurando o ponto do ônibus para voltar para a UFBA. Perguntávamos pra um que nos indicava um lado, andávamos, andávamos, andávamos... Perguntávamos pra outro, e este nos indicava o outro lado e lá íamos. Até que... finalmente alguém nos disse com clareza onde esperar pelo ônibus! Mas a saga não acabou... Precisávamos esperar o buzum, entrar, praticamente atravessar a cidade e chegar no alojamento. Ninguém enxergava a placa lateral do ônibus! Então eu ficava cuidando pra ver se dizia a rota Cardeal da Silva. Como eu ri neste dia! Eram todas me mandando ler e a Cristina repetindo cardeal da silva-cardeal da silva-cardeal da silva... hahahahahaha
Um detalhe muito peculiar de Salvador é que os ônibus param longe da calçada do ponto. Então os passageiros é que tem de ir até o buzum lá no meio da rua. Cada vez que parava um ônibus era aquela multidão andando até ele.
A equação é estranha mesmo, um ônibus lotado + uma multidão do lado de fora + quatro mulheres cheias de berimbaus. Resultado... eu que sou pequenininha toda esmagada fincando a guampa da carranca em todo mundo. A Cristina e a Gina grandes batendo com os tais berimbaus na cabeça das pessoas. Eu não podia parar de rir. A Gina virava pra um lado batia com o berimbau e dizia: "desculpa vizinho!". Virava pra outro e batia noutro... "desculpa vizinho". E lá fomos nós! hahahaha Na hora de descer do ônibus outra epopeia. Eu me senti como se tivesse sido cuspida pra fora do ônibus! Saí quase sem blusa e todo o pessoal se espremendo pra sair. hahahahaha Ficamos uns cinco minutos rindo na parada do buzum! hahahaha
Nos últimos anos a Cristina estava morando n'outra cidade. Havia conseguido um trabalho em sua área, depois de muito correr atrás, e atuava como diretora de uma escola em Rolante. Estava feliz e realizada. Sofreu um ataque fulminante do coração. Soltou um grito e partiu. Não poderia ser diferente, foi s'imbora deixando saudade e lembranças doces no coração daqueles que a amaram. Sabemos que tu já sabes, mãns não custa nada dizer de novo, Cristina nós te amamos!
Um comentário:
Perdoamos a ausência... bem vinda "de volta"
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