Há dois dias fui realizar a revisão do procedimento de curetagem que fiz no dia 02 de agosto após descobrir que o embrião que eu gestava havia morrido.Fico pensando num termo técnico que não seja morrer para o embrião ou feto na tentativa de afastar a ideia de que um filho morreu. Não consegui achar! Racionalmente feto e embrião parece com algo e não com alguém e consequentemente parece que não é um bebê. Parece, só parece! Não é como ter tido o filho nos braços e ele ter morrido. Não é como ter criado alguém até a adolescência e num dado momento esta pessoa ter desencarnado. Porque quando a gente gesta, pari e cria por um determinado tempo as pessoas a volta entendem que se perdeu um filho. É uma verdade inquestionável que o filho existiu! Mas quando tu gesta até um tempo e este filho não completa a gestação, ele não se desenvolve de uma semente até um neném fofinho, aquele filho não existe pra quem tá fora. A relação se deu apenas entre mãe e bebê e aqueles mais próximos da gestante.
Então mais uma vez, racionalmente e como espírita eu penso que aconteceu o que tinha que acontecer. Sim, racionalmente isto tá muito claro e jamais necessitaria uma explicação. Mas aqui dentro... ah! aqui dentro tá doendo e tá uma luta entre o cérebro e o coração. Alguns momentos o cérebro domina e a gente compreende até o fato de tá com o choro mais frouxo que o normal e nos auto consolamos com algo como "o luto faz parte" e "chorar é normal tu é humana". Só que eu queria ter superado completamente! Assim o conflito não seria tão grande! Queria já ter decidido se vou tentar de novo ou se vou parar por aqui! Queria não ter que lidar com o fato de que o tempo está passando e depois dos 40 as porcentagens de perda aumentam e as possibilidades de engravidar por método natural diminuem. Ou então saber que vou tentar e que tenho possibilidades de fazer um tratamento para engravidar sem dívidas, ou melhor, sem aumentar as dívidas que já tenho. Queria ficar plenamente feliz com a gravidez de outras mulheres, principalmente não voltando a pensar no interrompimento da minha. Porque é um ciclo sabe? Lembro que perdi, que tive que fazer a curetagem, lembro que faço 40 segunda, e vem as estatísticas sambando na minha cara. Aí eu respiro, penso racionalmente, faço uma prece e choro!
Não bastasse isso, parece que as danadas das estatísticas vem me seguindo. É notícia no face, é reportagem na tevê, é a médica da revisão dizendo que preciso atentar para o prazo de seis meses sem engravidar, mas que também preciso decidir logo se vou tentar e que o método que eu optar para evitar a gravidez por seis meses pode fazer com que demore um pouco mais para engravidar quando já estiver liberada, porque o tempo...
Daí que na minha cabeça racional de virginiana tá uma bagunça e chego a ficar zonza com o choque destas ideias aqui na caixola! O lado bom é que fisicamente está tudo ótimo! Útero recuperando bem e segundo a médica "bem bonitinho"! Nenhuma reação adversa, nem dor... física. Então como se diz por aqui "segue o baile"!
Fico um pouco constrangida quando as pessoas perguntam sobre o bebê e tenho que dizer que abortei. Aliás, esta é a primeira vez que digo/penso/escrevo abortei, porque sei lá, na minha cabeça parece que abortar é algo que se fez por escolha. E a perda é involuntária! Mas o termo técnico é aborto espontâneo. post anterior, eles não querem me chatear, nem me dizer o que fazer, apenas querem que eu não fique triste, querem me ajudar a elevar o moral. Não levo a mal de coração! Mas acabo pensando será que vai dar tempo? Será que vou conseguir? E se acontecer de novo? Fico constrangida pelo constrangimento do outro. Percebo bem que a pessoa não sabe o que dizer, fica perdida e daí acaba por dizer o velho clássico "tenta de novo". Como disse no
A vida é assim mesmo! Não tem spoiller pra gente saber como que vai ser no próximo episódio, só vivendo pra ver.
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