Como disse no post anterior, tem algumas histórias que costumo contar e das quais eu até me apropriei, de uma certa forma, mas que não foram vividas por mim. Esta história que vou contar tem como protagonistas a minha mãe e a ex-mulher do meu tio. Na época elas eram adolescentes, imagino eu. Como destaquei no outro post, minha família materna era bem pobre. Na verdade pobre todos ainda somos, mas nos idos de
60, 70 as coisas eram bem mais difíceis.
Para ajudar nas despesas da casa a vó Mália (minha avó materna) lavava roupa para algumas famílias. Não é necessário lembrar que não existiam tantas lavanderias "peg lev" como existem hoje, máquina de lavar era um luxo grande até para os endinheirados e o sabão em pó deveria ser bem caro. No caso o peg e lev era a minha avó e a minha mãe, a vó lavando e minha mãe pegando e levando. Uma coisa devo esclarecer, minha mãe não conhecia muito bem a cidade, porque ela "nasceu" e cresceu no mato. Lá na Bom Jesus. A cidade não era tão povoada como agora, com um montão de casas e ruas pra todo lado.
Então a coisa era assim, minha mãe ia com a minha tia Gilda (ex-mulher do meu tio Toninho) fazer a entrega da "troxa" de roupa no centro (nem sei se era no centro hahahaha), na casa da dona Ilma. A vó dava o dinheiro da passagem de ida e a dona Ilma dava o dinheiro para o ônibus de volta.
Só que criança e adolescente, sabe como é, né? Sempre tem alguma idéia melhor pra fazer com o dinheiro do ônibus. Ainda mais porque a gente pode muito bem ir a pé.
Lá iam as duas, a mãe e a tia Gilda, levando a trouxa da dona Ilma. Minha genitora, quando criança era louca por banana e, apesar daquela história de que banana é barata, não era bem assim naquela época e pela falta de grana lá na casa da vó e do vô não se via muito. Foi aí que ela teve uma brilhante ideia, pegar o dinheiro do ônibus e comprar tudo de banana e voltar pra casa a pé.
Hoje em dia ela e a tia Gilda contam esta história e dão risada. Mas creio que na hora não foi tão engraçado. Compraram as bananas comeram e foram pela estrada afora, voltando pra casa, carregando uma trouxa de roupas suja.
A tia Gilda sempre frisa que perguntou: "_ Rita, tu sabe voltar pra casa a pé?" e a mãe, é claro que disse: "_sei sim, claro!" Só que a ideia era muito mais genial. Elas não iam pegar o ônibus, mas iam segui-lo até em casa. Pensem gente, seguir o ônibus em seu caminho até a parada na qual deveriam descer.
Resultado... seguiram o ônibus até perde-lo em sua primeira dobrada de esquina... caminharam... caminharam e se deram conta de que estavam perdidas. A noite vinha chegando e elas não faziam nem ideia de por onde andavam. Ficaram apavoradas!
Daí foram pedir orientação para um homem na rua e a pergunta não poderia ser outra se não... "moço aonde fica a Bom Jesus?".
O bom destas histórias é perceber a ingenuidade das crianças na época.
Toda vez que a mãe contava esta história quando eu era criança ficava pensando: tanto trabalho só pra comer banana! É que só agora eu compreendo as dificuldades da época.
Um comentário:
Imagina isso nos dias de hoje... Pobres mães.
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