Às vezes me pego pensando se os desejos podem mesmo ser secretos. É claro que muitas coisas podemos não dizer, mas o nosso corpo fala tudo que a mente ou a boca guardam. Desejos sexuais são assim, existe sempre um arrepio que percorre o corpo, entumece os seios, amolece as pernas e faz exalar o cheiro do nosso anseio.
Muitas coisas eu não digo, claro. Mas gosto de escrever histórias que falam sobre mulheres desejosas de amor e de sexo. Assim como não tenho vergonha de conversar sobre certas coisas, acredito que faz bem pensar e expor nossas fantasias.
Quando pesquisava na Bibliotheca Publica, sempre via um cara que trabalhava por lá. Virava e mexia ele aparecia na sala onde estávamos pesquisando, conversava com o pessoal que trabalhava por lá e com o passar do tempo acabamos por nos considerar conhecidos. Na primeira vez que o vi parecia-me que já o conhecia. É um negro alto, bonito, de sorriso largo e jeito expansivo. Com o passar dos dias ansiava por vê-lo. Debaixo do óculos e da máscara cirúrgica que me protegia da alergia eu ficava medindo seu corpo, analisando seus gestos. Parecia que ele percebia meu interesse, volta e meia aparecia por lá pra jogar conversa fora e desfilar diante de meus olhos. Seu jeito me agrada, embora não saiba se eu o agrado. Conversamos sobre meu jeito de ser, meus desejos secretos, minhas fantasias... e, enquanto eu escrevo pra ele, fico pensando no quanto eu desejo sentir o seu toque, o seu cheiro, ouvir sua voz.
Talvez do outro lado da tela eu pressinta minha intenção mal disfarçada, meu quase descaramento, minha vontade de dizer que posso mostrar-lhe o que se passa na minha mente cara-a-cara, frente-a-frente. De quando em vez um certo pudor me invade, sigo falando dos meus desejos secretos por ele, pra ele, revelando detalhes e sentindo aquele arrepio que percorre o corpo, que entumece o seio, que me desestabiliza, sem dizer quem é o objeto do meu desejo.
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