Tenho mais jeito pra falar sobre e de qualquer coisa através da escrita. Falo pelos cotovelos é verdade, mas quando é pra falar de alguém que gosto, me emociono, engasgo e a voz não sai. Quando é de alguma coisa que me incomoda a voz se eleva uma oitava acima, a entonação fica agressiva e mesmo que não queira brigar ou dar entender que estou brigando a mensagem que passam minhas cordas vocais é justamente o contrário. Então... quando é pra falar a alguém de forma a não ter equívocos opto pela escrita. De maneira geral passo toda a emoção que sinto quando escrevo e muitas e muitas vezes escrevo chorando, quase sem enxergar as palavras digitadas no monitor.
Creio eu que seja a idade que me tornou ainda mais sensível. Sempre fui chorona. Mas a verdade é que nos últimos tempos está mais incontrolável. E tenho como prática desde sempre não engolir o choro! Evitar que as lágrimas caiam é muito dolorido pra mim, dói minha cabeça, machuca minha garganta, aperta o peito, me desliga do que tem ao redor de mim.
Na minha adolescência chorei muito... bem mais que agora e de forma louca. Agora, pelo menos, eu sei porque choro. As coisas que me tocam são diferentes. Fico pensando, por exemplo numa coisa que deixei pra lá, a qual não pensava antes porque não via sentido em pensar ou decidir qualquer coisa quando não dependia de mim apenas, e agora pensar ou decidir também não depende só de mim, mas daí me falam que tenho que decidir o quanto antes porque o tempo tá passando. Então eu fico pensando nisto, fico pensando em quantos anos até os 40. Fico pensando que o tempo já passou e se não aconteceu antes é porque não é pra acontecer. Ou que se for pra acontecer vai acontecer mesmo depois dos 40. E tem a minha porção espírita que não pode deixar de pensar... será que não me comprometi de trazer outros ao mundo e agora estou mudando de ideia? Tem o lado racional que me destaca o livre arbítrio e meu direito de mudar de ideia, de fazer outras escolhas. Daí penso na escolha do outro. Penso nas expectativas da minha família, penso nas pessoas que sempre me falam que eu deveria ter filhos porque tenho muito jeito. E penso no medo que deve dar ao saber que uma vidinha tá na tua mão e é da tua responsabilidade. Pensando nestas coisas acabo chorando.
É provável que eu esteja evitando de pensar no assunto para não ter que tomar uma decisão definitiva, ou só uma decisão temporária. Acaba sendo inevitável lembrar de algumas conversas em que me afirmaram que eu queria ter filhos, mesmo que eu estivesse negando veementemente. Mas eu não estava, antigamente, mentindo, apenas eu realmente não pensava na hipótese. Agora, até penso, mas não sei a resposta. E quando penso, lembro da história do tempo, da pressa e me apavoro. Claro que apavorada eu choro.
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