sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Os brinquedos que queria e nunca tive, mas que também não fizeram falta

Eu sempre gostei de uma brincadeira que dizia "eu sou pobre, pobre, pobre de marré, marré geci" (a gente cantava geci, mas não sei se é assim mesmo). É uma brincadeira de roda, bem antiga, que, acredito quase nenhuma criança brinque. Geralmente a gente queria ser a rica, mas depois de um tempo a gente percebe que ser a rica não é tão bom quanto ser a pobre cercada de gente. Era legal quando todas as minhas primas estavam juntas e então se formava aquela fila de gurias enoooorme. E a gente ia, umas puxando as outras, saltitando e cantando.
Foi muito bom brincar tantas vezes disso, acho que foi esta brincadeira uma das responsáveis por minha afeição a família, a consciência de que ser pobre não é um problema e ser rico não quer dizer que seremos felizes.
Minha criancice foi cheia de brincadeiras de roda, de pegar, de esconder, de pular sapata, de subir em árvore (mesmo sem saber descer depois), de jogar bola com meu primo Anderson, de casinha, de boneca, de fazer show (de dança e música, porque os artistas são completos) na garagem de casa. Eu sabia, como na canção da brincadeira, que eu era pobre e que muitos brinquedos que apareciam nas propagandas da televisão não poderia ter. Assim como sandálias melissinha ou lápis de cor faber castell e canetinhas. Na época causava um pouco de frustração, mas não causou trauma algum. Pra falar bem a verdade, creio que o único brinquedo "de marca" que tive foi o meu bebê. Um bebê pequeno, carequinha, de vestidinho azul e uma xuquinha pequena do lado da cabeça. Nem sei de quem ganhei, mas a boneca me acompanhou por longo tempo e dei de presente pra Nathália, minha primeira sobrinha. No más a gente usava a imaginação para brincar e alguns jogos de tabuleiro como damas, dominó, varetas e coisas assim.
Na minha época de criança a febre entre as meninas era mesmo a Susy e a Barbie (no seu início de carreira). Eu nunca tive nenhuma das duas. Quando pedia pra mãe ou pro pai eles diziam que quando "tivessem dinheiro compravam", mas não sobrava dinheiro, então... Minha prima Lili tinha e a gente brincava junto. Uma outra amiga, a Alessandra, também tinha. Ela tinha duas Barbies e um Ken e quando a gente brincava junto pegava emprestado com o irmão dela um Falcon, pra namorar a boneca com que eu brincava. Vai ver que foi aí que surgiu minha preferência por barbudões, o que acha Niara? Mas isto foi uma fase, logo comecei a fazer revistas com as colegas do colégio, adorava dançar e aos poucos fui deixando as bonecas e me dedicando mais a estas atividades.
Lembro que também tive vontade de ter uma daquelas barraquinhas da Mônica. Não era todo mundo que tinha, também devia ser bem caro! Mas foi uma onda passageira! Ou seria nuvem? Pois é, a gente sempre acampou no Barro Duro e depois no Camping Municipal, então não fazia muito sentido acampar no quarto ou na sala lá de casa. E quando a gente brincava de acampar ou de casinha o mano e eu fazíamos umas barracas de lençol e cobertores e fazia o mesmo efeito. Até a mãe chegar e botar ordem na casa!
Fiquei lembrando disso hoje, olhando as fotinhos dos amigos no face e pensando nos presentes que as crianças podem pedir pelo dia da criança. Pensei bastante pensando que, embora na época eu quisesse muito aquelas coisas, elas não me fizeram falta realmente. Não deixei de ser uma pessoa feliz por esta falta. E ainda, quando ganhei uma melissinha usada, claro, não gostei. Meu pé suava, resvalava, cheirava mal. Devo ter usado umas duas vezes e tchau! Preferia mesmo meus havaianas amarelos que ganhei da tia Rosa para deixar de chupar bico. Hoje eu até acho engraçado quando uma pessoa me pergunta abismada: "tu nunca teve uma Barbie?". Pois é, nunca tive! E não me fez falta não.

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