A gente tinha sorte, pois na esquina da nossa casa o seu Ernesto vendia gás. Então eram poucos metros empurrando o botijão. Minha mãe levava aquele trambolho até com certa elegância, empurrava com o pé e ele rolava pra frente, bem retinho pra longe, quando se aproximava outro empurrão e logo chegávamos na venda. Na volta era igual, o botijão mais pesado vinha rolando pela rua e nós atrás.
Tinha gente que tinha um ferro que prendia em ambos os lados do bujão e vinham arrastando ele. Também rolando, mas sem o perigo do dito cujo se desvincilhar e cair na valeta ou invadir o meio da rua. Lá em casa a gente não tinha, então quando eu ia buscar o gás pra mãe acabava protagonizando algumas cenas dignas de comédia pastelão. Sim, claro que eu empurrava o botijão com o pé. Óbvio que sem elegância nenhuma. Certamente que ele não ia retinho que nem quando a mãe empurrava. Ele ia lá e cá quase num zigzag invadindo o meio da rua e muitas vezes até atravessando a "estrada" de um lado pro outro e eu corria atrás dele desesperada pra evitar que caísse na valeta lá do outro lado. Daí tinha que segurar o bujão com a mão, porque não tinha perna suficiente pra fazer isto com o pé. Empurrava o botijão mais uma vez pro lado certo da rua e ele parava bem na beirinha da valeta, ficando por um triz fora dela. Lá ia eu correndo de novo!
O trajeto de poucos metros, que eu fazia com folga quando esperava o ônibus na frente da minha casa e saía caminhando enquanto ele vinha da outra pontada rua, parecia interminável quando eu o fazia com o botijão do gás. E a mãe contava que quando era pequena e morava no mato tinha que buscar água numas bambonas maiores que o botijão. E que meus tios até caminhavam em cima do barril da água que nem aqueles acrobatas do circo! E eu ficava pensando em quanto tombo não ia cair se tentasse uma proeza daquelas! Então chegava na venda do seu Ernesto e comprava o gás e tinha que voltar com o bujão ainda mais pesado, cheio pra casa. E lá ia eu, aquele toco de gente, que ainda sou, empurrando aquele trambolho pela rua de forma totalmente desajeitada. Nunca entendi porque que ele ia conforme queria e não reto que nem ele ia quando a mãe empurrava! Quando chegava de volta em casa estava com a roupa e as pernas toda cinza daquela tinta, gordura, sujeira do botijão. As mãos coloridas daquilo, toda escabelada e esbaforida! Certamente com a cara vermelha do esforço.
Então a mãe ligava o gás no botijão encaixando a válvula presa na mangueira, apertava bem pra não vazar o gás. Porque vazamento de gás é um perigo! E pra ter certeza de que não estava saindo gás, fazia uma espuma com a esponja de lavar louça e colocava na volta da válvula, se fizesse mais espuma tava vazando. E eu morria de medo de ter que fazer aquilo quando crescesse! Ainda bem que agora tem a telentrega e o moço chega lá com o botijão cheio, instala tudo e pronto.
As vezes passava o caminhão do gás com aquela musiquinha, mas isto já foi nos anos 90, quando começaram a dizer que nas vendas não tinha lugar adequado pra armazenar os botijões cheios e que havia risco de explosões e incêndios. Mas o gás nunca acaba na hora que o caminhão passa né? Ele sempre dá de terminar no meio do cozimento do arroz meio dia, ou quando a gente tá assando o pão de noite! Aí a gente não podia chamar o caminhão do gás, porque ele passava na hora que queria e não quando a gente precisava. Quando acontecia do gás acabar e o seu Ernesto não vendia mais gás a gente tinha que ir com o pai até o posto de gasolina comprar. Daí sim era uma beleza, porque a gente não precisava empurrar o botijão e pra completar fazia um passeio. Mas mesmo quando o caminhão entrega o gás era o pai ou a mãe que ligavam o bujão. Só agora é que o entregar faz tudo pra gente. Que sorte! Algumas dicas de segurança são importantes, por isso coloquei a foto ao lado. Ah! Também tinha a musiquinha! "Se tem o lacre azul, do cachorrinho, pode confiar, é liquigás"! hahahaha Vai o vídeo se alguém quiser relembrar!
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