Há dias que sinto-me um pouco estranha, talvez a mudança na idade. Eu não me sinto velha, nem nunca me senti. Observo meus sobrinhos crescendo, os filhos dos amigos, mas olhando de mim pra mim sigo me sentindo a mesma de sempre. Não é a mesma da adolescência, claro que não, até poderia, pois acho que minha adolescência foi o período mais choroso da minha vida. Chorava por tudo! E tenho me sentido um pouco assim nestes dias. Mas não é a mesma coisa. É uma melancolia que não consigo identificar de onde veio, apenas aquele imenso mar por traz dos meus olhos querendo fluir. Não é preciso palavra rude, se bem que estas antecipam as ondas e o esforço para contê-las é tanto que sinto dor de cabeça. Fico envergonhada porque me sinto boba e injusta me sentindo assim. Racionalmente sei que não há motivos. Mas racionalmente, também, algumas coisas não me saem da cabeça e como sempre acontece, toda vez que um assunto martela na tua mente dúzias de artigos e posts falam justamente deste tema.
E aí, a gente que parece ter tudo tão bem pensado e organizado precisa rever os conceitos, observar a si próprio e quem sabe até se convencer de que as escolhas que fez até agora eram as melhores e não sabe mesmo o que escolher de agora em diante. Eu não sei mesmo a resposta pra esta pergunta! Vai ver me mantive em algum ponto da minha adolescência.Eu já contei aqui que nunca fiz planos pra minha vida, eu nunca soube o que aconteceria, no que trabalharia, o que buscaria. Nunca fiz planos de casar e ter filhos, por exemplo. E o que mais lembro de meus pais aconselharem é: "estuda, seja independente!" Foi o que eu fiz. Estudei. E foi muito bom! E eu gosto tanto que penso em seguir estudando muitas coisas. Além disso, não tenho plano pra mais nada!
E estes sentimentos contraditórios, diversos e opostos talvez sejam um indicio de que, quem sabe, neste momento eu deva planejar algo. A minha amiga Jacque diz que"temos sempre que ter um plano B". O que se faz quando não se tem nem o A? Não faço a mínima ideia! Acho que tô um pouco assustada por ter de fazer uma cirurgia, coisa que jamais imaginei. Também tem este negócio da maternidade. É, eu bem que tento deixar quieto, não pensar, não buscar uma resposta pra pergunta da minha médica "se quero ter filhos?". Eu mesma não sei a resposta, muito poucas vezes eu pensei a respeito. Primeiro, bem provável, porque era jovem e a ideia de tempo se esgotando não existia. Segundo por que, embora não soubesse se queria ou não ter filhos, sabia exatamente as circunstâncias na qual não queria ter um filho. Não queria ter um filho por acidente ou a revelia do pai, porque não acho justo que um filho não conviva com seu pai e me consideraria muito egoísta ao negar isto a meu filho. Como também acho muito doido um filho ser renegado pelo pai, seja lá os motivos que ele tenha, pra mim nenhum motivo é justo. Terceiro, tive muito poucas relações duradouras que pudessem levar a pensar em filhos, família, enfim. É possível que não pensasse nisto nunca, se a doutora não tivesse feito a pergunta. Talvez esteja me sentindo um pouco pressionada e como não sei a resposta me sinta assim! Eu realmente não sei e minhas tentativas de expressar isto através da escrita não tem me dado muita luz, mas ajudam a desabafar um pouco. Pode ser que outras pessoas estejam na mesma situação, não digo que seja uma encruzilhada, porque embora eu pense nas coisas, pra mim não existe nenhuma obrigação de dar uma resposta pra esta pergunta. Ao mesmo tempo que não consigo esquecer de vez.
Como espírita, algumas vezes eu penso se não programei ser mãe e agora estou deixando isto. Tô usando do meu livre arbítrio, eu sei, com todo o direito, mas também penso naquele que esperava esta minha ajuda. Ao mesmo tempo penso que, se fosse mesmo pra ser, já teria acontecido. Porque eu bem me cuido e previno, mas acontecem "acidentes". Então tento escutar o que meu coração diz, tento serenar minha mente e esquecer outras preocupações, mas não consigo. Então penso no que a cantora Alcione disse uma vez numa entrevista sobre isto, ela disse que "foi mãe dos filhos que a vida lhe deu". E eu acho que fui um pouco, sou um pouco, bem pouco, óbvio. Mas a verdade é que a pergunta me inquieta, como talvez inquiete muitas mulheres. E vem acompanhada de tantas outras, como as que já mencionei e mais aquela "até que ponto eu quereria mesmo isto e até que ponto isto faz parte da "tradição" de que mulher só se completa depois de ser mãe?". As perguntas não cessam. E eu não sei as respostas.
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