Eu já disse algumas vezes, já escrevi inclusive, sobre o que penso sobre o aborto. Primeiro ponto, da situação em que me encontro, dentro da religião que professo e sigo, dentro da minha forma de pensar, hoje, não faria um aborto. Segundo ponto, creio que prevenir uma gravidez seja mais fácil do que o trauma e as consequências de interromper uma gestação. No entanto, penso assim por ter tido esclarecimentos sobre planejamento familiar. Também tem a possibilidade de ter o bebê e dar pra adoção, visto que existem muitos casais que querem cumprir o papel de pai e mãe. Como eu disse, é o meu pensamento.
Outras mulheres não pensam ou mesmo sabem ou estão preparadas para optar por algum dos pontos acima. Isto varia de pessoa para pessoa. Mas a questão da descriminalização do aborto não é uma questão moral ou religiosa, é sim uma questão de saúde pública. Neste momento de campanha política poucos são os candidatos que se colocam a favor deste tema, sendo os que sei serem a favor são Eduardo Jorge e Luciana Genro. E este ponto é importante, tendo três candidatas a presidência, apenas uma se coloca a favor do aborto legalizado. Quero esclarecer porque digo que a opção pela legalização do aborto não é uma questão moral ou religiosa. É porque antes de mais nada nascemos com o livre arbítrio, um direito inalienável de escolher o que nos parece melhor nesta caminhada. Sou espírita, sei que cada gestação é a oportunidade de um espírito reencarnar, mas sei também que cada um destes espíritos (mãe e filho) tem o direito de escolha. E cabe somente a eles mesmos julgar o que creem ser o melhor. Não podemos interferir e obrigar uma mulher dar a luz um filho fruto de uma violência como o estupro. Não podemos dizer que apenas a mulher é responsável por uma gravidez.
É uma questão polêmica que será discutida e debatida por vários viés. Mas o mais importante, muitas vezes é posto de lado, sendo exaltados a questão moral e religiosa. O fato é que a proibição do aborto não impede que clínicas clandestinas de alto nível e de fundo de quintal sejam abertas e atuem interrompendo gestações e matando mulheres. Só nos últimos 15 dias soubemos de dois casos de mulheres que morreram durante o procedimento e seus corpos foram desovados. A imprensa, infelizmente reza pela cartilha do sensacionalismo e muitas vezes ao invés de ajudar no esclarecimento causa mais preconceito. Quando uma mulher desaparece após o procedimento de aborto ela não aparece como vítima de um procedimento mal sucedido, mas sim o crime de aborto é que é destacado. É neste momento que a imprensa deveria cumprir seu papel de informar e entrevistar médicos falando que a descriminalização do aborto é sim um caso de saúde pública, visto que procedimentos como este aparecem nos prontos socorros do SUS em grande número. Isto quando a mulher sobrevive as precárias condições das clínicas clandestinas e não vai parar no IML.
A legalização do aborto não vai aumentar o número de abortos realizados, apenas vai contabilizar o número correto. Apenas vai evitar que mulheres pobres e sem condições sejam vítimas de gente inescrupulosa que joga corpos no terreno baldio como se ninguém se importasse com aquela vida.
Eu sei, eu também acho que é mais fácil evitar a gravidez e é justamente por isto que digo que legalizar não vai aumentar o número de procedimentos feitos. Nenhuma mulher vai engravidar propositalmente SÓ para fazer um aborto, que é um procedimento traumático física e psicologicamente. Ou alguma vez passou pela tua cabeça que uma mulher decide assim... do nada... super de boa... tipo... hoje vou fazer um aborto só pra ver qualé que é?
Acredito que, mesmo uma mulher que nunca tenha pensado ser mãe numa situação como esta vai pensar muito a respeito. É uma decisão difícil e optar por botar todas as economias ou pedir um empréstimo (porque aborto ilegal é caro!) neste procedimento deve ser a parte mais fácil da decisão. Porque existe culpa, existe medo dos riscos, existe o quanto uma decisão desta deve fazer com que a mulher se sinta sozinha. E existe toda uma sociedade que vai julgá-la e culpá-la pela decisão de não ter um filho fazendo o aborto, ou pela decisão contrária.
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