segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Trinta e uns...

Como disse num post anterior todo dia temos novos desafios. Para passar por alguns deles precisamos nos superar e para outros apenas precisamos nos aceitar tal qual somos. Já faz algum tempo que passei a gostar de mim como eu sou, parei de pintar o cabelo, por exemplo. Não que com o cabelo pintado tentasse fugir do que eu era, mas cansei de ter de pintar toda hora pra continuar com aquela cor e manter-me bonita, muitas vezes para olhos externos. Fui deixando a tinta sair aos poucos e ia cortando o cabelo até que um dia só restou meu próprio cabelo, minha cor "original de fábrica". Não penso em pintar novamente, nem se virem os brancos, aliás achei um hoje de manhã! Eu posso mudar de ideia é verdade, pois como fã do Raulzito tento ser uma "metamorfose ambulante". Mas também tenho convicções minhas, opiniões, defesas que mudam e outras que não mudam.
No desafio sem maquiagem muita gente criticou porque não queria aparecer "feia" no face ou outra rede social. As pessoas não queriam aparecer com marcas de expressão, sinais da idade ou do sol, ou mostrar as olheiras. Eu não fui desafiada a sair com minha cara sardenta e meus cílios claros sem rímel. Mas fui desafiada a publicar uma foto do meu sovaco "cabeludo". E eu não só postei a foto do sovaco como minha carucha sem maquiagem e amassada de quem recém acordou. E tô nem aí se alguém achou feio, porque a grande verdade é que quem me ama e a quem eu amo já me viu inúmeras vezes com esta cara ou em condições piores. E estas pessoas seguiram me amando porque me vêem muito além da superfície da minha pele com pó de arroz.
É óbvio que para estas pessoas eu me arrumo toda e tento dar minha melhor versão, a mais bonita e bem apanhada, afinal me amam e merecem meu melhor! Acontece que no dia-a-dia não dá tempo nem existe paciência possível para viver "montada" como uma gueixa.
Volto a dizer que a escolha de maquiar-se deve ser uma única e exclusiva da mulher, se ela gosta ou não e não de um padrão de beleza que quer que sejamos bonitas e bem comportadas, aquele conceito machista. Respeito quem se opõe a limpar a cara, seja por uma causa social, seja para contestar o machismo, seja pro que seja. Mas lendo 'Memórias de uma gueixa" limpo a cara com mais vontade e me sentindo com mais motivos para tal.Não creio que uma mulher possa cogitar a ideia de ser escrava por toda sua infância e parte da adolescência, para ao final desta escravidão, ser uma gueixa de sucesso. Esta escravidão cobra desta mulher inclusive o valor que a casa pagou por ela quando a comprou, mais seus gastos com alimentação, com roupas, com o treinamento para gueixa e possíveis despesas médicas. Não é atoa que elas precisem maquiar-se de forma que seu rosto pareça uma máscara! Afinal como esconder tanto sofrimento se não sob uma boa camada de maquiagem? Desde muito cedo elas precisam aprender a ser bonitas, a sorrir, a mostrar seu charme e elegância para entreter os homens com dança ou música. Como isto pôde ser considerado um futuro bonito e promissor?  Eu sei é uma cultura completamente diferente da nossa, mas me choca! E não é diferente das escravas sexuais do tráfego humano atual. Não sei como funciona atualmente isto, como são formadas as gueixas, mas o que conta o livro é uma vida muito difícil e glamourosa apenas após algum tempo como gueixa já bem sucedida. Quando as despesas já foram pagas!

Penso que muitos casos como o relatado no livro devem ter acontecido por lá e acontecem aqui no Brasil, para uma vida não menos sofrida e nenhum pouco glamourosa. Quantas vezes não nos chocamos ao saber que os pais vendem as filhas por não terem o que comer e como ocorrem casos de exploração sexual, inclusive de menores, com o conhecimento de autoridades algumas vezes. É um bom motivo para limpar a cara e mostrar minhas marquinhas de trinta e uns. Mas é o meu motivo! Eu não tenho nenhuma intenção de parecer chique, elegante e charmosa até porque não sou nenhum pouco. Sou aquela pessoa que vai caminhar com camiseta velha, o cabelo meio desgrenhado, sem nenhuma bijuteria e observa as outras mulheres que passam e pensa: "como elas conseguem estar tão chiques, sem sequer suar?" E eu lá com aquela cachoeira de baixo dos braços! É sou do tipo que parece mendiga quando tá em casa! hahaha E mesmo que tente não fica elegante de calça jeans e camiseta branca, que nem a Julia Roberts ou a Gisele Bünchen devem ser. Mas, justamente isto me permite não ter vergonha de perder a pose e me jogar numa piscina de roupa e tudo numa festa com os amigos ou rolar na grama e jogar bola com as crianças. Embora eu não tenha filho, tenho muitos sobrinhos, e vira e mexe ando com as roupas meladas ou sujas. E digo pra vocês isto não tem preço!
Então, nestes meus trinta e uns tenho dias de perua nos quais me maquio, me trabalho toda na biju e uso com muito amor meus lenços. Tenho dias de tô nem aí, que são a maioria em que enfio uma roupa confortável, meus lenços, que não podem faltar e tá pronto. E outras do tipo vestida pra matar, mas estes são tão raros que nem lembro quando foi a última vez. E tem os dias em que tento, com todo meu ser, estar elegante e chique, e estes são os dias de festas de 15 anos, formaturas, casamentos ou coisas do tipo, mas confesso que nem com muito esforço consigo, pois geralmente levo um par de havaianas na bolsa e no final da festa tô sambando de chinelo de dedos bem feliz.
Desculpem alguns amigos mais chiques, mas eu sou uma pessoa muito simples, alguns dirão até "chinela", outros "bagaceira", mas eu sou assim mesmo, fazer o quê? Não posso lutar contra a natureza. Acho que mesmo com o treinamento para ser gueixa não ia ter dado certo! Sério, só minha gaitada seria motivo para expulsão de alguma casa de chá. Ainda bem que nasci no Brasil!

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